Maiara
Só dá tempo de entrar no meu quarto e correr para o banheiro, me debruçando sobre o vaso. Coloco todo o jantar para fora em um longo acesso de vômito. Oh, meu Deus, o que é isso? Nessa semana os sintomas de mal-estar têm se intensificado. Depois de um tempo, não tem mais nada para colocar para fora, mesmo assim, a ânsia não passa, me sufocando. Eu limpo a boca com o lençol e me arrasto, encostando-me à parede. Fecho os olhos e puxo respirações profundas, forçando meu ritmo cardíaco a baixar. Milagrosamente as náuseas vão cedendo e um suspiro doloroso deixa a minha boca, lágrimas quentes toldando a minha visão, meu coração voltando a doer horrivelmente. O que vai ser de mim agora? Estou sozinha de novo. Foi tudo um sonho de menina boba. Ela nunca me quis para além do sexo. Como pude me enganar tanto? Havia mesmo suavidade nela antes da mudança brusca do Ano Novo ou foi tudo fruto da minha mente de menina apaixonada? Eu choro até não haver mais nenhuma lágrima sentada no chão frio do banheiro.
Eventualmente me forço a levantar, escovar os dentes e me arrastar para a cama. Nunca tive tanto medo do amanhecer como agora. Eu fico repassando cada momento desde que os olhos de Marilia caíram sobre mim, arruinando a minha vida. Raiva de tudo, de todos, me domina. Raiva do meu pai por ter sido um fraco, sempre manipulado por Sarah e Dove, me colocando nessa situação. Raiva da Marilia por ter cismado comigo. Raiva de mim por ter me apaixonado por uma mulher cruel e fria achando que poderia tocar seu coração de alguma forma. É assim que adormeço em meio à raiva, dor, desilusão e medo do futuro.
Dois dias depois...
Marilia não dormiu em casa ontem. Não nos falamos desde a discussão na noite em que chegou e pisoteou meu coração. É sábado, não tem expediente na MM. Onde está? Com outras mulheres? Não consigo evitar a dor aguda no peito ao cogitar isso. Eu a amo tanto que dói quase fisicamente saber que não sente o mesmo, que nem sequer considerou tentar me amar. Ela não quer amor. Apenas gosta da nossa química na cama. Passo os dias andando inquieta pela casa, vagando como um fantasma, ou registrando meu coração partido em meu diário.
Já é tarde, estou sentada perto da janela, escrevendo no meu único confidente, de vez em quando levantando a vista para o lago. Essa imagem sempre me arrebata. Sempre quis fazer um piquenique na grama verdejante que o cerca, no entanto, sei que não faz o gênero da Marilia. Meu coração aperta, as palavras duras e frias
dela ainda muito frescas em minha mente. Rosa entra no quarto, me forçando e ir até a cozinha fazer um lanche.- Não pode ficar aqui trancada, senhora. Vai ficar doente desse jeito. - sua voz é cheia de empatia e um carinho que me aquece um pouco por dentro.
Eu me deixo vencer e desço com ela para a cozinha. Ontem não consegui comer. Hoje nada desceu também. O lanche é leve, graças a Deus, apenas chá com torradas. Suspiro aliviada quando a náusea não vem, agradecida pela comida parar em meu estômago. Meu período chegou ontem e nas duas últimas vezes tenho sentido esses sintomas estranhos, o que está piorando meu caos emocional no momento. Rosa se mantém por perto, me dando olhares longos um tanto investigativos, como se estivesse procurando algo que não sei o que é.
- Tem alguém chegando. - ela anuncia, olhando através das janelas da cozinha para o grande pátio. Meu coração tolo salta sem controle. Marilia. - É o senhor Mendonça, querida. - ela fala com um sorriso fraco de desculpas.
Eu murcho. Meu Deus, sofrer de amor não correspondido dói demais. Empurro o prato vazio na bancada da ilha. Não demora muito e Chris está entrando diretamente pelos fundos. Ele não é de cerimônias, é uma das coisas que adoro nele. Tão diferente da irmã fria. Penso magoada.
- Ei, Rosa! - diz alegremente e a mulher o cumprimenta com um grande sorriso. Ele pisca e se vira em minha direção. - Querida, cheguei! - ri largamente, abrindo os braços como sempre faz para mim. Eu pulo do banco e vou, abraçando-o com desespero. Seus braços se fecham à minha volta e eu soluço, não conseguindo manter meu caos sob controle. Seu corpo fica tenso. - Ei, bonitinha... O que está havendo? - a empolgação cede à preocupação em seu tom.