CAPÍTULO 2

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São Paulo... Brasil...

Maiara

Eu acordo sobre um colchão e lençóis muito macios, cheirosos. Mmmm, sorrio, me esticando, ainda de olhos fechados, meu corpo gostando desse tratamento após alguns meses dormindo numa cama de solteiro horrível. Esse pensamento me faz arregalar os olhos, os acontecimentos da noite de ontem sendo processados. O quê? Eu ofego com as imagens evocadas. Marilia Mendonça. Ela foi atrás de mim e me obrigou a voltar para cumprir um acordo imoral, digno dos Senhores Feudais. Serei sua prostituta pelo tempo que a mulher ridícula me quiser. Mais imagens voltam em meu cérebro ainda lento do sono e gemo, mortificada. Eu a deixei me foder com os dedos, chupar meus seios e me fazer gozar. Me comportei exatamente como ela quer: uma puta, me dando sem nenhuma vergonha. Repulsa me invade e levanto o torso, meus olhos correndo pelo cômodo semiescuro e silencioso. É um quarto enorme. A cama que estou é absurdamente grande, lençóis de aparência extravagante e cara deslizam em meu corpo.

Meus olhos ampliam mais quando percebo que estou vestindo uma curta camisola de seda – que não é minha – igualmente cara, como tudo nesse recinto. Quem me despiu e vestiu isso? Espera... Quem me trouxe para cá e de quem é esse quarto, em primeiro lugar? Me arrasto pela imensa cama, escorregando minhas pernas para o chão. Me espreguiço, bocejando e meu olhar recai sobre o criado-mudo. O relógio está marcando 11:45 da manhã. Estamos no Brasil, possivelmente na casa da Senhora Feudal? Bufo ironicamente, mas, sorrio grata ao ver as sandálias Havaianas no chão. Essas são minhas. As calço e me levanto, indo em direção ao feixe de luz de uma porta entreaberta, onde presumo, seja o banheiro. Meu tornozelo direito reclama do simples esforço. Droga. Meus ombros caem em derrota. Era uma vez um sonho de ser bailarina. Infelizmente a dança profissional estava com os dias contados para mim, essa é a triste verdade que estou escondendo de todos. Parece que se eu não contar, não se torna realidade. O médico me proibiu de dançar desde que sofri uma fratura por stress no meu pé de apoio, apenas um mês depois que cheguei em Nova Iorque.

Para ser sincera, é uma lesão crônica, sinto-a desde os quinze. Comecei no balé bem cedo. Era uma estratégia para fugir de casa e da minha triste vida familiar, porém, passei a amar a dança e a sonhar com uma carreira. Eu queria ser como a, Ana Botafogo, a bailarina brasileira que mais teve projeção mundial. Apenas um sonho tolo de menina. Como tudo em minha vida, isso também tinha que ser arrancado de mim, claro. Minha mãe, meu pai — e não estou me referindo a apenas o seu estado vegetativo de agora, o perdi no instante em que levou aquelas duas víboras para a nossa casa —, e agora, meu sonho escorregou por entre meus dedos. Tudo se foi. O médico disse categoricamente em minha última consulta, que se insistisse em dançar, iria usar muletas num futuro bem próximo. Estremeço, meus olhos enchendo de lágrimas. Eu teria que parar, mesmo se não tivesse tido a triste sorte de ser a escolhida para incubadora particular daquela tirana. Um soluço de dor e desilusão me escapa. Suspiro tremulamente quando chego à porta, confirmando que é um banheiro. Um banheiro maior do que o lugar onde vivi nos últimos meses. Certo, isso foi exagero, porém, isso aqui parece coisa de outro mundo. É muita riqueza. Entro, minha atenção sendo captada pelo enorme espelho sobre a bancada de mármore da pia. Apoio as mãos na pedra fria e encaro meu reflexo. Sou a imagem da derrota. Meus olhos castanhos estão opacos, sem vida, sem esperanças.

— Não há mais nada para você, Maiara. — minha voz quase não sai, embargando, minhas faces sendo banhadas por lágrimas quentes. — Você não tem nada. Nunca teve.

Estou amaldiçoando minha sorte quando algo me chama atenção em meu pescoço. Arfo, levantando a mão, tocando a pele arroxeada e levemente dolorida. É um chupão, ou uma mordida, sei lá. Raiva ferve em mim. A cretina me marcou. Contudo, mesmo revoltada, me recordo da sensação indescritível que senti quando gozei em seus dedos, sua boca chupando, mordendo meu pescoço. Meu núcleo palpita, umedecendo contra a minha vontade. Meu Deus, estou ficando louca! Nada mais explica minha atração pela Marilia. Ela é a mulher mais cruel e sem escrúpulos que já conheci. Era para odiá-la, completamente, só que não é isso que acontece. Algo nela me excita demais, me deixa fraca, facilmente entregue quando estou em sua presença. Uma imagem meio borrada me vem à cabeça. Um cheiro gostoso de perfume bem em meu nariz. Ela me deitou em seu colo quando entramos em um carro negro que nos aguardava na área dos vôos particulares no aeroporto de Guarulhos depois que saímos do jato. Depois, me trouxe até aqui. Lembro apenas de trechos desse trajeto.

O Acordo ( G!P)Onde histórias criam vida. Descubra agora