Capítulo 7

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               O ventilador de mesa torava em toda a sua velocidade, repousado no chão da sala de jantar e inclinado para cima. O vento não era o suficiente para amenizar o calor infernal que fazia em Niterói, mas era ao menos o suficiente para que Lauren não transpirasse. Há cerca de vinte minutos, sentiu a umidade embaixo de seus seios e uma gota de suor percorrendo rente em sua espinha.

Ela poderia até ligar o ar-condicionado, fechar a porta de vidro e se enclausurar na deliciosa temperatura de dezessete graus, mas não quis, e optou por fazer o pobre ventilador trabalhar, esgoelando-se com suas pás furiosas e barulhentas.

Sentada na cabeceira da mesa de jantar, enquanto bebia um copo de Guaraná entupido de gelo, encarava a página preenchida com palavras. Na realidade, essa era a quarta. O primeiro capítulo estava na metade, e, finalmente, começava a se afeiçoar pela protagonista. Estava orgulhosa de si, fazia algum tempo desde a última vez que se colocou a escrever assim, sem parar, apenas seguindo sua mente que depositava as informações nas linhas através de seus dedos. Sequer parou para ler o que havia escrito, mas confiava um pouco no seu processo, já estava nele tempo o suficiente. Quando terminasse o quinto capítulo voltaria a história toda e, diferente do refrigerante que bebia, escolheria um vinho, pois assim, o álcool a ajudaria a não ser tão dura consigo.

Com certeza acrescentaria coisas, sempre fazia isso. Pelo simples fato de conhecer mais os seus personagens e o enredo principal, nuances eram adicionadas para inserir ainda mais complexidade. Sentiu que nesse romance algo estava diferente, um frescor novo. Uma desenvoltura diferente, talvez fosse pelo clima, talvez fosse pela mudança, ou pela moça de mechas ardentes.

"Camila."

Sua protagonista tinha cabelo castanhos.

Bebeu um pouco do guaraná e se levantou depois de duas horas sentada. Esticou os braços para cima, ouvindo suas costas, ombros e dedos estalarem. Soltou um gemido, liberando a tensão e depois um muxoxo. Sua lombar estava doendo. Prometeu a si mesma comprar uma cadeira presidente e colocar no escritório do segundo andar. Sua coluna iria agradecer, tinha certeza disso. Pegou o seu celular e foi em direção à varanda.

O céu estava particularmente em um azul-claro maravilhoso, mas quase doía os olhos se olhasse por muito tempo. Não havia nuvens, apenas os halos infinitos do sol quente, marcando a sua presença quase impiedosa e os pássaros estavam lá também, arriscando-se nesse dia de calor. A grande maioria deles iam em direção à praia, aproveitar os barcos pesqueiros ao longe e se aventurar na captura de peixes desavisados e desesperados pela rede de pesca.

Lauren seguiu-os com os olhos e não ficou surpresa quando viu a areia da praia e o mar lotado. Guarda-sóis de diferentes tamanhos e cores preenchiam toda a extensão, mal continha espaço. Parecia cheio demais para a escritora, sem contar os carros que não paravam de chegar e tentavam disputar o estacionamento.

Ela amava o Brasil, mas participar desse ritual de ir à praia em uma temperatura como essa era impossível. Sinceramente, preferia estar recolhida em sua casa, escrevendo, bebendo o seu refrigerante, usando uma camiseta e calças pantalonas leve.

Respirou fundo ao apertar a lateral do pescoço ligeiramente úmido, sentindo a tensão da sua musculatura, quando seu dedo pressionou um ponto de tensão e sua memória acendeu em sua mente. Parecia que o nó em sua musculatura era um botão e quando acionado, a lembrança se ligava como uma imagem de televisão.

Levou o celular para próximo de seu rosto e automaticamente ele desbloqueou. Lauren procurou o número de Camila, mas, ao invés de ligar, achou melhor mandar uma mensagem. Ainda não se sentia segura, parecia que um telefonema soava muito mais íntimo. Além disso, não queria atrapalhá-la. Sabia que Camila trabalhava na livraria durante as manhãs e tardes.

Desejo ProibidoOnde histórias criam vida. Descubra agora