Capítulo 14

9 2 1
                                    


O pânico se espalhou pelo seu corpo. Correu pelos portões de ferro e pelo caminho de cimento rodeado do lindo jardim que tantas vezes observou através da janela do quarto de sua irmã. Ao chegar na recepção, esbaforida e suada pelo calor do verão do Rio de Janeiro, Camila tomou o fôlego no ar gelado do ar-condicionado. Próximo ao balcão à esquerda da recepção espaçosa de cor branca, azul-claro, a diretora e a psicóloga da clínica já a esperavam.

— O que aconteceu?! — Camila perguntou com a voz ligeiramente aguda, ao passo que retirava seu cabelo ruivo de frente pros olhos.

— Bom dia, senhorita Camila. — Um sorriso polido foi colocado nos lábios da diretora, não era afetuoso, diferente da psicóloga, o seu era mais carinhoso, como se estivesse se compadecendo com a dor de Camila. Por um momento, a mulher de cabelo de castanhos sentiu-se exposta, era óbvio que a psicóloga sabia o que ela fazia.

— Como você sabe — continuou a diretora e Camila direcionou o olhar para ela —, ainda que aqui seja uma clínica, não prendemos as pessoas como uma prisão. Não usamos grades para contê-las, claro, temos câmeras para proteger as pessoas que estão aqui dentro. Não obrigamos as pessoas a ficarem, mas sua irmã não estava pronta, o tratamento dela é um pouco mais lento comparado aos outros — explicava a diretora com uma calma enervante.

— Cláudia... — Camila falou o nome da diretora, ao suspirar e fechar os olhos, tentando manter a serenidade dentro dela.

— O que aconteceu exatamente? Não preciso saber o quão seguro é aqui, ou quão ótimos vocês são. Eu escolhi vocês, e vocês me prometeram que minha irmã iria ficar bem, não é o que está acontecendo.

— Sua irmã não é uma prisioneira aqui, mas temos protocolos. Ela simplesmente não pode sair, antes disso, há avaliações para que possamos ter certeza de que ela tá pronta, claro, há uma certa altura podemos liberá-la, mesmo que ainda o tratamento não esteja totalmente encerrado e apenas vir semanalmente para continuar — complementou a psicóloga.

— Gente, eu sei de tudo isso! — O tom da voz de Camila aumentou. — Eu não vim lá de Niterói, nesse calor infernal para ouvir coisas que eu já sei! Caramba!

— Como ela não estava pronta, chamamos a polícia para fazer uma patrulha, nós temos a nossa própria segurança e pedimos que eles fizessem o mesmo. Mas, ela saiu durante a madrugada, então pode estar em qualquer lugar nesse momento

— Cláudia começava finalmente a explicar o que havia acontecido.

— Você pode nos ajudar, indicando possíveis locais que ela pode ter ido.

— Eu sei de um ou outro, nunca fui lá, mas sinceramente, não acho que poderíamos entrar lá. Pode ser perigoso — disse Camila, detestando-se por ser uma covarde. Sentiu o seu celular vibrar na bolsa colocada na lateral de seu corpo, rapidamente o pegou. Era a quinta ou a sexta vez que tentavam se comunicar com ela, mas nenhuma era Sofi. Havia duas ligações de Lauren, certamente, preocupada, uma ligação de Demi e outras duas do gerente da livraria, a essa altura ela já deveria ter começado o seu turno. Sua vida estava se tornando uma verdadeira bagunça e era desesperador não ter as rédeas dela. Estava contra a parede como um coelho assustado, temerosa e com medo. Sentiu-se só, dolorosamente só. Não havia ninguém, sua família estava morta e sua irmã estava perdida. Por um instante, ficou com raiva de Sofi, achou extremamente egoísta o que sua irmã havia feito. Ela estava fazendo tudo, o seu impossível, vendendo o seu próprio corpo para ajudar Sofi e ela simplesmente não valorizava isso. Sua irmã estava doente e era isso que ela deveria colocar em sua cabeça, culpá-la ou odiá-la não iria fazer qualquer diferença. Sofi era a única família e faria qualquer coisa para vê-la bem de novo.

Desejo ProibidoOnde histórias criam vida. Descubra agora