Capítulo 5

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               O cansaço de Camila Cabello tinha nome e sobrenome; Sofia Cabello, sua irmã mais nova. Sentada na poltrona, Camila olhava para a janela aberta. Era fim do dia e o céu laranja pulsava vibrante. O vasto jardim, organizado e bem cuidado, começava a ser iluminado por postes pretos e baixos. Nesse horário, poucas pessoas circulavam por ali, mas Camila viu duas mulheres lado a lado, trilhando no caminho de cimento. Ela bocejou ao ver a cena e esfregou o olho esquerdo, já com a maquiagem quase inexistente, mostrando suas olheiras profundas.

— Você não precisava vir hoje. — Sofia disse com a voz rouca. Camila maneou a cabeça em direção de sua irmã, que estava sentada na cama box de casal.

O quarto onde elas estavam era simples, mas organizado, limpo, achava um pouco caro pagar por aquilo, mas aquele local era um dos melhores do Rio de Janeiro. O cômodo se resumia em paredes cor de gelo, um chão de assoalho, uma cama de casal, uma mesinha de cabeceira com duas gavetas, uma penteadeira/escrivaninha com poucos itens e muito bem selecionados, pois muitos objetos não eram permitidos ali. Havia também a poltrona azul em que Camila estava, uma cômoda na frente da cama com gavetas, onde roupas eram guardadas, uma televisão sobre a superfície e pilhas de livros acumulados nos cantos. Outro traço que também dividiam; as duas amavam ler, e quase sempre Camila trazia um exemplar diferente para Sofia. Às vezes, ela levava alguns de volta, mas outros, os preferidos de sua irmã, eram acumulados no quarto.

— Eu queria saber como você estava — explicou Camila.

Sofia Cabello vivia em uma casa colonial em uma clínica de reabilitação, uma das mais caras do Rio de Janeiro. Um programa que poderia levar de seis meses a um ano, sua irmã já estava ali há três meses. Ainda que seu cabelo não estivesse vivaz e suas sobrancelhas para fazer, sua aparência estava bem mais saudável do que quando entrou ali. Havia ganhado alguns quilos também, o que era ótimo. Quando foi trazida para a clínica, Camila conseguia ver suas costelas.

— Você tá aqui por causa do telefone dos médicos, eu sei... Olha — suspirou Sofia, ao coçar a testa. —, foi só um dia ruim, a psicóloga disse que isso pode acontecer. Ela disse que tenho que ter orgulho da minha caminhada até aqui. Um papo altruísta que eu odeio, mas tô tentando acreditar nisso.

— E você tem que acreditar — disse Eva com confiança.

— Eu quero estar bem, não é justo você gastar todo o dinheiro que

— Já conversamos sobre isso. — A acompanhante se levantou da poltrona e se sentou ao lado da irmã. Pegou as suas mãos e levou aos lábios, beijou-as. — Está tudo bem, o importante é você ficar boa.

— Mas o que você faz, Eva. Não é justo com você — lamentou a irmã.

As lágrimas de Sofia brotaram em seu rosto vermelho e uma delas desceu até o seu pescoço lanhado por suas próprias unhas. A psicóloga havia explicado que, mesmo estando há algum tempo no centro de reabilitação, às vezes, a abstinência vinha, principalmente quando os pesadelos da casa de praia nas regiões dos lagos, onde ocorreu o incêndio.

Camila não estava lá, mas ela também tinha pesadelos sobre o lugar.

Há dois anos, o estalo e as lambidas das chamas se erguiam imponentes ao céu da noite do final do verão. Camila não havia ouvido ou visto nada, nem mesmo os gritos de seus pais e de sua avó materna. Talvez, se ela estivesse lá, pudesse apagar a vela que deixaram acesa, devido à falta de luz na região. Ao menos, sua insônia poderia ajudar a salvar toda a sua família, mas Camila decidiu ficar em casa, já que estava em seu estágio. Foi apenas horas depois do incêndio, quando conseguiu a passagem de um ônibus e partiu em direção à cidade, descobriu que apenas sua irmã havia sobrevivido, mas que, infelizmente, parte de suas costas e ombro, para sempre seriam marcados, lembrando-a assim do terror.

Desejo ProibidoOnde histórias criam vida. Descubra agora