Capítulo 4

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 Os dedos voavam pelo teclado, na tela do monitor nasciam palavras, depois frases e logo em seguida, orações. Mas após a conclusão de um parágrafo, toda a construção fantasiosa de personagens e situações eram apagadas, esquecidas para sempre. A xícara de café esquecida na superfície da mesa redonda da varanda com a espetacular paisagem não parecia fazer efeito, o que frustrava a renomada escritora. Vestida com uma calça moletom e camiseta, sentia o calor da manhã paradisíaca que estava atenta às suas peripécias imaginativas, mas nada vinha. Suspirou. Desistindo, minimizou o aplicativo de escrita que usava para brincar com os seus romances e abriu a janela de seu e-mail. Nele estava anexado um formulário que havia preenchido, pertencente ao Paraíso Éden. O combinado foi que a documentação fosse mandada ontem, mas após chegar em casa e toda a adrenalina da conversa passou, hesitou como uma covarde. Ela precisava enviá-lo, pois em poucas horas, se encontraria com Demi, a dona de toda essa incrível e interessante empreitada. Um almoço de negócios, era essa a impressão que dava, o que a fez se sentir mal. Mulheres não eram mercadorias para serem tratadas como objetos, contudo, ao mesmo tempo, Lauren sempre foi tão certinha, que experimentar algo novo era tentador. "Afinal de contas, estou no Brasil para arriscar, não é?" E assim, em uma onda de impulso, mandou o formulário para Demi. Seu romance poderia esperar um pouco mais e, com esse pensamento, fechou o notebook. Ela sabia como correr atrás do prejuízo. Era conhecida por ser uma verdadeira máquina de escrever no mundo da literatura, produzia e era rápida, certeira. Então isso não seria um problema. Ela era a preferida da sua agente e sempre continuaria assim, mesmo que nos últimos anos não tenha produzido nada. Ela fez uma promessa, um ultimato para si mesma, nos próximos meses iria escrever seu romance, combinou absolutamente tudo com a sua agente. Agora, Lauren tinha um prazo final para entregar algo e iria entregar.

✽✽✽ Em um bistrô reservado abraçado ao morro com a vista para a baía, Lauren esperava ansiosa com o vinho banco em mãos. Perto do parapeito de vidro, a escritora olhava atentamente para o salão de piso de pedras, mesas de madeira e pequenas palmeiras em vasos beges altos distribuídos pelo local. Nas pilastras de ferro, troncos retorcidos sustentavam galhos com flores azuis e rosas de plástico, contrastavam com o aspecto quase de vinícola que o ambiente tinha. Havia também um bar com um balcão simples e baixo demais, sem quaisquer cadeiras e, francamente, não eram as bebidas destiladas que chamavam a atenção nas prateleiras atrás do barman vestido como um chefe de cozinha e sim, as grandes geladeiras pretas de porta de vidro contendo os mais diferentes tipos de vinho. Bebida na qual estava sorvendo com certa velocidade, devido ao nervoso de estar ali, solitária, esperando um alguém que nunca havia visto. Desde que chegou ali, três mulheres adentraram pelo bistrô e a cada vez que seu olhar encontrava com o da outra, esticava sua coluna na expectativa que fosse a sua convidada. Aguardava algum sinal e, quando ele não vinha, Lauren suspirava frustrada. Foi apenas quando a quarta mulher entrou no estabelecimento, que a escritora tinha certeza que era ela. Demi era linda. Uma mulher poderosa, vestida com um lindo vestido verde. Ela se aproximou e Lauren se levantou. As duas trocaram sorrisos. — É uma oportunidade única de te conhecer, Lauren Jauregui. Tive o privilégio de ler um dos seus livros. — Polida era a fala da voz aveludada de Demi. — Fico contente que tenha gostado. — Era verdade, sempre gostava quando as pessoas elogiavam suas obras, ainda que fosse uma frase quase automática e pré-pronta para ser dita. — E antes que fique preocupada, tudo é altamente sigiloso, assim como os dados da minha clientela. Prezo pela segurança de todos os meus funcionários e dos meus clientes — certificou-se Demi, e as duas se sentaram. — Obrigada — disse Lauren aliviada. — Eu que agradeço, por ter me contactado. Você é a terceira pessoa que a Normani traz para mim. Essa era uma informação nova. O garçom se aproximou, servindo-lhe um pouco de vinho para Demi. Aproveitaram para pedir aquilo que iriam comer. Aparentemente, não era a primeira vez de Demi ali, pois, sem olhar o cardápio, pediu o delicioso ceviche, o prato chefe do lugar. Já Lauren optou por carne vermelha. — Pude dar uma olhada no questionário que me mandou essa manhã — continuou a dona de Paraíso Éden. — Interessante ele, algumas perguntas exóticas, devo dizer. Mas por que quer me conhecer, podíamos fazer tudo isso pelo telefone? — contestou Lauren, se sentindo um pouco exposta por estar ali, acertando ou intermediando um serviço, um tanto quanto excêntrico, ao menos para ela. Nunca achou que um dia estaria falando com uma cafetina. "Isso não era contra a lei?" pensou Lauren. "Onde ela estava se metendo?". Respirou fundo, levando o braço para o parapeito de vidro. Seus olhos pairavam pela água esverdeada. Logo, no céu brigadeiro, um helicóptero passou por ali. O som a irritou, até que a voz de Demi soou. — Podíamos, mas há coisas que é bom perguntar enquanto olhamos nos olhos de nossos clientes. Gosto também de explicar os termos pessoalmente. Hoje em dia, a gente usa demais o celular. — Acho que você tem um ponto — concordou a escritora, ao servir um pouco de vinho para si. Não queria que qualquer garçom se aproximasse enquanto conversavam sobre algo tão íntimo. — Pode deixar, não irei deixar você repetir quais são os seus hobbies preferidos. — Vai me perguntar o porquê entrei em contato com você? — Não preciso — Demi negou com a cabeça, ao pegar a taça. — Vou tentar explicar de maneira clara como o Paraíso Éden funciona — informou, antes de dar um gole na bebida. — Bom gosto, sabia que teria. — Piscou e retirou uma pasta preta com zíper dourado dentro da bolsa. — Eu li o seu formulário e ele é bem interessante. Com base nisso, procuro as mulheres que mais se encaixam com você. Eu funciono como uma intermediadora. — Demi conectou os dedos indicadores em âncoras. — Elas estabelecem o dinheiro e tudo vai inteiramente para elas. O meu ganho vem na taxa do link. Irei prover aquilo que você precisar e também protegê-las. Lauren acreditou na última parte. Algo na confiança de Demi e seu olhar castanho, que não eram vacilantes e sim decididos, a fez dar algumas fichas de créditos para ela. — Olha, eu realmente não quero uma prostituta, não quero- — Elas não são prostitutas. Tudo bem, vender o seu corpo é considerado uma prostituição. — Lauren não estava ofendida, havia explicado aquilo muitas vezes. — Mas, você paga para fazer o que quiser, claro, conforme o que é acordado e nada que arrisque a integridade física e emocional das minhas mulheres e homens. Vocês podem jantar, sair pra conversar, pra lugares, qualquer coisa. Pode até mesmo simplesmente não fazer nada. O preço não se modifica. Peço, encarecidamente, testes de HPV e de sangue. O HPV é feito a cada dois meses. Eu sei, é exagero, mas é preciso. Nunca tivemos um problema, ao menos até hoje. Não espero que isso aconteça. Tenho um nome a zelar, minha empresa preza por isso. — Entendo. — E Lauren tomou mais uma golada de seu vinho, antes de colocar a taça sobre a mesa e dobrar as mangas de sua blusa. Estava fazendo calor. — Você disse que já tem algumas mulheres em vista, eu posso vê-las? — Eu estou em dúvida entre duas, prefiro que vocês se conheçam pessoalmente, após, claro, os exames e o primeiro sinal financeiro. Mulheres, em geral, não são apenas visuais, e quero que você tenha a experiência de vê-las, ao mesmo tempo, para trocar as primeiras palavras. Nós podemos nos tornar mais atraentes depois de uma conversa, é importante para mim que esse tipo de troca aconteça. Primeiro, caso você não goste, podemos ir para uma segunda ou terceira opção, e não é apenas você que escolhe, ela também. E já ia esquecendo, os pagamentos são feitos até o quinto dia útil do mês. — E quanto tempo posso usar o serviço? — O tempo que você quiser. — E quantos dias na semana? — O quantos que você quiser e claro, também vemos a disponibilidade da acompanhante que escolher. Eram informações importantes e não tão burocráticas. De repente, Lauren se sentiu ansiosa em conhecer a mulher que iria estar com ela. Não sabia ainda o quanto tempo ao certo, pensou em dois meses. Era um bom período para que pudesse novamente aprender a fazer o básico e não se sentir uma estúpida na frente de pessoas, principalmente, mulheres. — E quando posso marcar esse encontro? — Lauren perguntou, e desta vez, ao invés de pegar a taça do vinho branco, tomou um pouco de água. — Assim que você assinar toda a papelada e me enviar por e-mail os exames. — Fácil assim? — Fácil assim — repetiu Demi. — Claro, nós temos alguns detalhes a acertar, mas prometo, a última coisa que quero lhe dar é qualquer tipo de dor de cabeça. Novamente, Lauren acreditou na proprietária do Paraíso Éden. A partir daí, conversaram um pouco mais, nada de muito importante, alguns ajustes finais sobre o contrato foram feitos, mas o que a deixou mais intrigada foi a névoa misteriosa e sedutora que Demi representava. Era sem dúvida uma mulher atraente e inteligente, conseguia ver isso pelo jeito que se comportava, falava e, principalmente, pelo negócio que geria. Lauren tinha certeza de que muitas mulheres poderiam ficar atraídas por ela. Não era o seu caso. — E há uma regra bastante importante, principalmente para vocês, os clientes — disse Demi, alguns segundos depois. — E qual seria? — perguntou a escritora, curiosa. — O perigo de se apaixonar por uma acompanhante. Não recomendo. Isso pode trazer implicações ruins, tanto para você, quanto para ela. Lauren a encarou séria. Era um aviso óbvio, mas tinha bastante implicações naquela fala. Era perigoso, mas aquilo não a preocupou muito, pois esquecera como era tal sentimento. Cinco anos se passaram desde a última vez em que amou, e não seria por uma acompanhante que isso aconteceria. Não estava fechada para paixão, apenas não estava pronta ainda. Esse serviço seria um trampolim.

Desejo ProibidoOnde histórias criam vida. Descubra agora