Capítulo 8

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                   A despedida sempre foi algo descontável para Lauren; ela nunca soube fazer isso, nem mesmo quando tinha sexo casual ou quando estava começando seu relacionamento com Lucy, sua falecida esposa. Com Camila o constrangimento parecia ainda maior. Em seu primeiro encontro, apenas acenou para a acompanhante quando sua hora havia terminado. No segundo foi diferente. Lauren estava um pouco mais relaxada, deitada no sofá, com o zíper e o botão da calça abertos, enquanto Camila estava sobre ela, recostando sua cabeça entre os seus seios. Conseguia sentir o corpo da mulher mais jovem no seu e o coração de batida forte, retumbando contra o começo de seu estômago. Era uma sensação gostosa, ainda mais após o delicioso orgasmo que tivera. A excitação era presente em seu sexo, assim como o gozo que empapou o tecido de algodão. Estava quase encontrando sono, a música já não era mais ouvida, a chuva lá fora não passava de um chuvisco e o ar-condicionado trazia um zumbido agradável para Lauren. Já havia se dado por vencida, seus olhos pesavam e os fechou, desligando-se da consciência, contudo, quando estava praticamente rendida, Camila se movimentou e beijou-lhe o rosto.

— Preciso ir — sussurrou a acompanhante.

De repente, Lauren se sentiu vulnerável, não esperava que Camila fosse dormir ali com ela, claro que não, isso não estava no contrato, mas seus membros e sua cabeça ficaram tão descontraídos que por um instante pensou que a mulher de cabelos de chamas fosse ficar por ali. Lauren abriu os olhos e olhou para Camila. Acenando, respondeu: — Claro, claro...

— Te vejo semana que vem, certo? — perguntou Camila, enquanto encaixava o seu pé no salto.

— É o que combinamos, não é? — Lauren respondeu em defensiva, irritada, não compreendeu muito bem de onde essa emoção estava vindo.

Camila soltou um sorriso e liberou o ar forte pelo nariz.

— É, é o que está no contrato, mas quero saber se você quer me ver — disse, ao colocar o outro salto.

— Você sabe que sim.

— A escritora se deu por vencida e recolheu a bolsa da mulher mais jovem sobre a cama ainda totalmente feita.

— Que bom, pois eu também.

— Era verdadeira a confissão, ainda que fosse clichê sempre usar essa frase.

Lauren a acompanhou até a entrada do quarto, mas Camila a surpreendeu. A acompanhante se virou, prendendo-se propositalmente entre a escritora e a porta. Levou as mãos para a nuca e seus dedos roçaram na pele quente. Beijou-lhe os lábios ligeiramente secos, inclinou um pouco de seu corpo em direção à mulher mais velha e sorriu.

— Até mais. E assim, foi a despedida.

Lauren ficou para trás, sentindo-se um pouco constrangida, mas ao menos, o tempo que havia passado com Camila foi bastante deleitoso. Colocou-se em sua cabeça que tentaria não mais ficar contida com despedidas. "Sou uma mulher adulta, pelo amor de Deus." Caminhou até a mesa, recolhendo o restante do vinho que ainda tinha dentro da garrafa, agachou-se para pegar a taça no chão borrada com a mancha de seu batom e despejou o restante do líquido. Rodou a taça e bebeu longe da marca rosada. Camila era uma mulher interessante, e a curiosidade da escritora sobrevoou seus pensamentos. Queria saber quem era realmente Camila. Talvez nunca tivesse essa resposta e não sabia se ia se contentar com isso, mas começa a aceitar que a acompanhante era um artifício para que sua vida não fosse tão tediosa.

✽ ✽ ✽

O novo bar preferido de Lauren era em armazém antigo reformado de tijolos queimados perfeitamente encaixados, interrompidos em sua continuidade apenas por uma vitrine retangular de vidro com o nome do pub em neon rosa: "Entre Elas" e uma tesourinha do lado com uma harmoniosa fileira de bandeirinhas LGBT pregadas logo acima. Ao adentrar no estabelecimento, um arco de pedras e cortinas vermelhas semelhantes aos de teatros estavam amarradas com uma corda dourada em suas pilastras. O salão era composto por mesas redondas de pés ornamentados e cadeiras pretas com estofado de veludo vermelho preenchiam quase todo o local. Na sua esquerda, sofás de couro pretos eram fixados na parede, e sobre eles prateleiras que iam até quase o teto eram compostas por objetos vintage como um museu particular para as clientes que ali degustavam em paz os seus drinques. Já à sua direita, um balcão longo, escuro e robusto com cadeiras altas, serviam para mulheres que gostavam de ficar próximas ao bar completo com fileiras de bebidas destiladas presas a uma parede de vidro, onde em seu centro uma frase em inglês em neon vermelho era exposta: "I can't think straight". Em uma tradução direta, a frase diz "Eu não posso pensar direito", fazendo referência ao álcool e, simultaneamente, um trocadilho com "straight", que pode ser traduzido como "hétero". Nos fundos do bar, duas mesas de sinuca, um jukebox e duas portas, finalizam o badalado local preenchido praticamente por mulheres. O mocassim preto da escritora marcava sobre as tapeçarias que cobriam praticamente todo o piso de assoalho. Lauren olhava em volta à procura de Mani, sua melhor amiga, dona do hotel onde se encontrava com Camila e também do bar de iluminação meia-luz amarelada. Estava atrasada, culpa de sua cabeça povoada pela imaginação. Estendeu seu momento de escrita por mais quarenta minutos, um hábito que sempre acontecia e lembrava que sua mulher sempre reclamava. Lauren encontrou Mani ao final do balcão com uma imensa caneca de cerveja na mão, rodeada por outras quatro mulheres. "Ah... Não..." pensou, ao estalar a língua no céu da boca. Iria ter que ser simpática.

Desejo ProibidoOnde histórias criam vida. Descubra agora