Prólogo

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Era uma bela casa, com muitos quartos e cores sombrias.

Tamanho demasiadamente grande para apenas um morador.

A escada estava um pouco velha e rangia a cada passo que eu dava para o primeiro andar.

— Quem está aí? — Inclinei a cabeça para baixo e avistei um velho em uma cadeira de rodas. — Senhor Lee? — Desci o último degrau e resmunguei baixinho ao notar um respingo de sangue no meu casaco. — Quem está aí? — Depois eu limparia.

Dei mais alguns passos e fiquei atrás do ancião.

— Bela casa. — Ele girou a cabeça para trás tão rápido que achei fofo. Ainda tentou sair de perto de mim, mas segurei a cadeira de rodas e a girei, colocando-o à minha frente. — Audição prejudicada, lobo? — indaguei.

Ele era cego e morreria de velhice, duraria de um a dois anos, provavelmente, mas “Ela” não queria uma morte natural para o velho.

Eu, como um soldadinho das suas loucuras, acatei sua ordem.

— Um vampiro. — Disse com certo nojo. — Saia, esta propriedade é privada, tenho um acordo com os vampiros da cidade.

— Conheço esse acordo. Esta região era dominada por lobos. Os vampiros chegaram e não acharam muito divertido dividir o território com vocês e os humanos. Os humanos não nos oferecem perigo, mas os lobos, sim. Então uma batalha se instalou e os lobos foram embora, deixando apenas um lobinho para trás. — Sussurrei o restante da frase em sua orelha.

— LEE? — Ele estava fraco, mal conseguia chamar o seu serviçal.

— Fez um acordo com os vampiros, ancião. Você continuaria nas suas terras e não ofereceria risco a eles, então fez uma troca bem interessante.

— LEE?

— Acabei de arrancar seu coração, fiz um pouquinho de sujeira, terei certo trabalho em limpar, pois preciso da minha nova casa limpa. — Seus olhos azuis se tornaram uma esfera de pavor e os dedos tremeram ao tentar afastar a cadeira. — Vamos dar um passeio até o seu escritório? — Caminhei para trás da cadeira e o levei até sua mesa. — Preciso que assine alguns papéis passando a propriedade para mim.

— Quem é você?

— Um soldado? — Pensei com cautela. — Não! Um boneco enfeitiçado? — Ri da minha própria piada que não teve graça, assim como a minha vida. — Saiba que terei prazer em lhe matar, pois aquela vadia da Yoona enlouqueceu por sua causa. — Faltou-lhe ar quando percebeu do que se tratava. — Mas serei bonzinho, ela está sussurrando na minha orelha para arrancar seu coração ou o seu pescoço, não farei isso, preciso que tenha uma morte “natural”. Não quero que os vampiros da região desconfiem que o lobinho de estimação deles foi morto.

Deixei-o na frente da mesa, tirei os papéis do bolso e procurei uma caneta.

— Me perdoe, Yoona…

— Oh, não, ela não quer perdão. Ela quer vingança e achou que seria divertido me enfeitiçar para cumprir suas ordens. Então, se não posso matá-la, pois tecnicamente eu arranquei o coração daquela vadia... Achei! A bendita da caneta. — Agachei-me na frente do velho. — Terei pelo menos o prazer de matar todos que a tornaram louca. Pois saiba que sua filha enlouqueceu e resolveu que me enlouquecer seria divertido. — Baixei a cabeça e dei leves batidas com a testa nas suas pernas. — Estou perdendo a sanidade, pois aquela vadia me amarrou nas suas loucuras.

— O que você fez com a minha filha? — Soltei uma risada rouca e peguei sua mão, prendendo-a na caneta.

— Assine que lhe conto. — Direcionei seus dedos com a caneta para os papéis. Como se aceitasse o seu fim, ele assinou tudo que lhe direcionei.  Examinei sua assinatura, tudo corretinho. — Tem alguma bebida? — Observei a sala, sorri ao ver um vidro. Dirigi-me à mesinha e abri o licor. — Espero que me deixe bêbado. Tão difícil encontrar uma boa bebida que apague um vampiro.

Tinha um cheiro bom, despejei na boca e desceu queimando.

Voltei para frente do velho e me sentei na ponta da mesa.

Examinei-o lentamente, estava só os OSSOS.

— Sua filhinha amada morreu na minha frente, esmaguei o coração dela, mas não tive prazer nenhum com isso. — Eu havia me tornado um ser desprezível e choroso, era vergonhosa a minha situação. — Pois ela me enfeitiçou, me tornou seu soldadinho. E atualmente eu não durmo, não me alimento de sangue, não tenho um segundo de descanso, pois ela vive na minha cabeça e ao meu redor. Vejo-a em todos os lugares e tudo que desejo é terminar tudo. Primeiro matarei você, depois a minha ligação. Oh, sim, vadia, vou matá-lo. — Avisei jogando palavras ao ar. — Depois matarei o vampiro e fim... Sabe o que restará para a desgraçada? Minha morte. Viu? Um plano excelente.

— Você enlouqueceu?

— BRUXA, ELE É TODO SEU. — O ancião não entendeu, mas sorri ao ver o espectro dela surgindo na sala. Nem ao menos me olhou, seguiu para o pаі. — Está cada vez mais feia, bruxa.

Sinto a sua escuridão... suas roupas denotam que ela está perdendo o controle, pois quando essa praga começou a aparecer para mim, seu vestido era de uma cor branca.

Mas durante esses cinco anos em que iniciamos essa relação de vampiro e fantasma, a escuridão não dominou somente o seu espírito, mas a fisionomia do fantasma que surgia para mim.

O velho sacudia a cabeça para um lado e outro, como se procurasse por ela.

Tomei minha bebida assistindo-a sugar a vida dele.

Ele não podia vê-la, mas sentiu o ódio da filha e arregalou os olhos.

Como esperado, faltou-lhe ar e bufei ao vê-la beijando o velho e tomando para si o último suspiro dele.

— Lobos, seres detestáveis.

É por essa razão que matarei minha ligação, arrancarei seu pescocinho lindo.

Sorri só ao pensar em quebrar o pescoço do meu predestinado… ou arrancarei seu coração...

Terei tempo para decidir qual o melhor.

Predestined to Vampire - Jikook (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora