Capítulo 9

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JUNGKOOK 

Eu havia arrastado Jin daquela mesa, levando-o para o centro da clareira na floresta.

A lua nos banhava com seu brilho prateado, tornando até uma pequena formiga que corria entre as folhas secas, visível.

— Você está assustando-o, Jin. Ele é apenas uma criança.

— Ele é um adulto. Um adulto que necessita que você concretize a ligação de alma entre os dois. — Empurrou o dedo no meu peito. Era visível que o vampiro assustado havia desaparecido e existia um alfa poderoso, mesmo que submisso ao seu companheiro. — O Nam disse que ele vai se transformar. O lobo sente o lobinho dele lutando para sair, mas o corpo humano é fraco. Na lua cheia, com certeza se transformará e você simplesmente o deixará aqui e irá embora?

— Você ouviu o feiticeiro e o lobo...

A lua nos permitia ter um vislumbre um do outro de forma magnífica ao ponto de ver as rugas de raiva.

— Ele é sua ligação, leve-o com você, cuide dele. Você conhece este mundo, saberá cuidar dele. Ajude-o.

— Você está comovido pelo Jimin, eu entendo. 

Sacudiu a cabeça que não. 

— Você não sabe o quanto dói ser rejeitado. Ser o primeiro a se apaixonar e ser rejeitado, mesmo quando vê desejo no companheiro.

— Não é o mesmo caso, Jin. — Eu o enfrentava. — Vocês foram ligados no nascimento, ao contrário de mim e do garoto que fomos amaldiçoados.

— Nenhuma folha cai neste mundo se os espíritos que nos regem não permitirem. A transformação será dolorosa, você não tem ideia de como dói os ossos se retraindo, quebrando dentro do seu ser e seu espírito queimando. Com a ligação, ele estará mais forte e conseguirá passar com menos dor. Não tem compaixão por ele? — Segurou meus ombros. Ele já amava Jimin. Conhecia Jin e tinha certeza de que amaria o garoto no momento em que o visse. — Sentirá tanta dor, JungKook, termine a ligação. — Seus olhos brilhavam em lágrimas.

— Jimin é apenas uma criança. — Eu ri e notei que seus punhos ficaram tensos. 

— Ele é um adulto e, mesmo que tenha aparência de criança, mudará ao se conectar ao poder do seu lobo. Mas antes, aquele jovem irá sofrer, eu já ajudei os lobos em suas primeiras transformações e os vi cair no chão de tanta dor. — Estremeci e ele notou. — Fique e passe pelo menos a lua cheia ao seu lado. Sua companhia, carinho e atenção serão muito importantes para ele.

— Eu não posso. — Disse para seus olhos piedosos.

— Você não vai fugir dessa ligação, JungKook. Não importa quem a fez, não importa qual o objetivo.

— Eu vou quebrá-la antes.

— Sinto seu corpo fraco, como se tivesse uma energia te mantendo vivo, te guiando. É uma casca e morrerá sem ele. Enlouquecerá, sinto você perdendo o controle. Eu não quero te perder, JungKook. — Ele se jogou nos meus braços e me agarrou forte. — Você é a única família que me restou dos vampiros. — Massageei suas costas, pois sabia que seus sentimentos eram verdadeiros. — Faça a ligação, ele é lindo e você sabe que chamá-lo de criança foi apenas uma forma de negar seus desejos sexuais. Jimin é um jovem lindo e de doçura impressionante.

— Preciso voltar para ele, deve estar apavorado ao lado do lobo. — Bateu nas minhas costas, irritado com minha falta de emoção.

— Fique, eu te ordeno a ficar ao meu lado. — Seu tom mudou para rouco e firme.

— Você não é meu alfa, Jin. Se conseguiu ainda ler minha mente, foi "Ela" quem permitiu. Você não percebe, mas ela está usando da sua compaixão para que eu faça a ligação. Permitiu que você acessasse meus sentimentos para manipulá-lo. Eu não cairei nos jogos dela, não farei a ligação...

— Você é um tolo... — Esmurrou minhas costas. — Não permitirei que saia do nosso território. — Me prendeu com força, ainda nos abraçávamos. — Sinto que tem algo de errado com você. Não importa quem seja, podemos pedir ajuda ao feiticeiro.

— Ele não se envolverá.

— Ele fará se o Nam pedir. — Fungou.

— Ele não fará, Jin. Ninguém pode deter um espírito vingativo.

— Quem diabos é essa bruxa, quem diabos é essa mulher que você se envolveu? — Fungou, chorava.

— É a mãe dele. — Sussurrei. — É a mãe de Jimin, Jin. — Ele se afastou um pouco de mim e me encarou.

— O que?

— Há cinco anos, estava em um bar. Resolvi passar uma temporada em uma cidade perto da Coreia do Norte e todos os dias ia nesse bar, era um bom lugar, servia bebidas e tinha muitas mulheres. — Sacudi a mão durante a explicação. — A dona do bar era uma vampira, ligada a um lobo. Muito linda e gentil, mas era espancada pelo imbecil do marido que se achava muito gostoso por ter uma vampira como ligação.

Ele empalideceu um pouco e continuei a história.

— Ele esmurrou a garota na minha frente, eu perdi o controle e o matei dentro do bar. No dia seguinte, eu estava fugindo de um bando de lobos, era um imbecil que tinha irmãos e alcateia, eles me perseguiram por dias, queriam o meu sangue. Estava cansado, puto e estressado. Os mataria, afinal era um bando em dez e não havia um alfa no meio. Os deixei caírem na minha armadilha, mas não notei que era o único a cair na armadilha deles. Eles não eram fortes o suficiente contra mim, mas suas unhas ainda tocavam minha pele e a sujeira delas entrava no meu sangue. Não notei que estava sendo infectado por sangue dos mortos, até cair no chão agonizando de dor. Você sabe como é a dor? — Dei de ombros. — E tenha certeza de que ela é pior quando não é um alfa. Ou quando você não tem uma ligação para te salvar, você faz de tudo para que aquela dor suma.

Ele se silenciou, pois conhecia a agonia que eu vivi.

— Me deixaram agonizando, não me mataram logo, pois sabiam que esse era o meu fim. Mas ela me encontrou, eu achei que fosse uma alucinação, que estava à beira da morte e que estava alucinando. Fui arrastado para uma cabana e em meio a gritos de dor, ela usou ervas para amenizar o sofrimento. Então me perguntou o que eu faria para que a dor sumisse, e eu respondi que faria qualquer coisa.

Ri só de lembrar daquela cadela.

— Eu supliquei para que me matasse logo, arrancasse o meu pescoço. Ela fez um pacto, me devolveria a vida e eu seria seu soldado. Não tinha consciência suficiente para entender o que significava. A bruxa tinha o cordão umbilical do filho dela, então, fez um chá e me ligou ao Jimin.

— Isso... Isso...

— Isso foi possível. — Terminei a frase por ele. — Jimin é um mestiço, não tem predestinado, pois a própria natureza não soube dizer se era lobo ou vampiro. Ele tinha quinze anos na época, fomos ligados e necessitamos um do outro para respirar e viver. Ela me trouxe de volta à vida, ligado ao próprio filho.

— Por quê? — Seu tom até tremeu e se manteve na minha frente.

— Era uma loba e foi abusada pelo pai de Jimin. O pai dela a trocou para se manter nas terras que eram tomadas pelos vampiros. Ela fugiu para a floresta e viveu até quando pôde, escondida, mas no dia do nascimento de Jimin, o ordinário a encontrou e levou o filho, pois acreditou que a criança seria um guerreiro por ser a mistura das suas raças. A mãe lutou, mas havia acabado de parir, ele colocou fogo na cabana e ela só não morreu queimada, pois em meio à dor e sofrimento, se descobriu possuidora de grande poder. O pai de Jimin é alguém fluente e respeitado dentro da comunidade. Ele notou rapidamente que Jimin não era nada como imaginava, então passou a escravizar a criança.

— Mas o que ela tanto deseja?

— Vingança sobre todos que machucaram o filho e proteção para sua cria. Eu não sou o predestinado dele, Jin, eu sou apenas o guardião.

"JungKook"

Espantei-me quando sua voz doce e assustada quebrou o clima tenso.

Mesmo à distância, ainda conseguia me chamar.

— Preciso voltar, ele está com frio e medo. É o primeiro dia dele aqui e, se eu o deixar, dormirá embaixo da cama. Eu não sou o amor predestinado dele, Jin. — Aproximei-me e beijei sua testa com carinho. — Eu sou seu guardião e, tudo que sentimos um pelo outro, foi implantado por uma mãe vingativa e louca.

Predestined to Vampire - Jikook (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora