Segunda-feira, Cecília saiu da última aula da manhã sentindo-se exausta. O peso das preocupações acumuladas nos últimos dias a seguia como uma sombra constante, mas apesar do cansaço e da tensão acumulados, decidiu ir para sua aula de judô à tarde. Talvez a atividade física ajudasse a clarear sua mente, trazer algum alívio para os pensamentos turbulentos que não lhe davam trégua.
No dojô, ela tentou se concentrar nas instruções do sensei, mas sua mente estava em outro lugar. A cada movimento que repetia, voltava a pensar no Império e na Imperatriz das Sombras. Quem era realmente a Condessa de Pernambuco, cujo rosto ela conhecia mas cujo nome permanecia um mistério? E Regina... A proposta de adoção continuava ecoando em seus pensamentos.
Cecília amava a presença de Regina. Havia algo na maneira como Regina a tratava, no carinho discreto e na firmeza que usava para guiá-la, que a fazia se sentir pequena e protegida, algo que há muito tempo ela ansiava. O toque de Regina, o tom afetuoso de sua voz, faziam seu coração, sempre tão obstinado e independente, vacilar. Ela queria aquela conexão. Ela queria ser amada por Regina. Mas... e as consequências? Ser adotada significava que Regina não seria apenas alguém que a acariciava e a protegia. Seria também uma figura de autoridade inegável em sua vida. Conseguiria Cecília ser obstinada contra Regina, se precisasse?
Esses pensamentos a atormentavam. E se Regina descobrisse suas investigações sobre o Império, o Submundo e seus perigos? Certamente, ela exigiria que Cecília parasse com tudo, e Cecília não sabia se estava disposta a desistir de algo em que estava tão obcecada. Além disso, Regina já demonstrara autoridade sobre ela em várias ocasiões, mas Cecília sabia que o nível de controle e responsabilidade seria outro se Regina se tornasse sua mãe de fato. Ela estaria disposta a aceitar essa nova ordem em sua vida?
Perdida nesses devaneios, Cecília começou a perder o foco. Ela aplicava os golpes de maneira errática, distraída. A voz do sensei a chamava de volta à realidade, mas logo seus pensamentos retornavam àquele turbilhão. Foi quando, sem perceber, aplicou um golpe forte demais em seu colega. O impacto foi imediato. Ele caiu bruscamente no tatame, assustando a todos.
Seu sensei interveio de imediato, seu olhar severo refletindo sua decepção.
— Cecília!
Disse ele, a voz firme.
— O que aconteceu? Isso é inadmissível. No judô, respeito e controle são tudo. Você poderia ter machucado gravemente seu colega.
Cecília, surpresa e atordoada com o que havia feito, sentiu o rosto esquentar de vergonha.
— Me desculpe, sensei... eu... eu perdi o foco.
Balbuciou, tentando explicar, mas ciente de que suas palavras não justificavam seu erro.
— Isso não pode continuar.
Ele disse com um tom severo.
— Você está desconcentrada, e isso está afetando sua prática. Vou ligar para Guilhermo. Ele precisa saber o que aconteceu aqui.
O coração de Cecília afundou. Guilhermo... Ele sempre acreditou que o judô a ajudaria a encontrar equilíbrio, ela não podia suportar a ideia de desapontá-lo dessa forma. Desesperada, recorreu à única pessoa que, naquele momento, parecia capaz de salvá-la daquela situação.
— Por favor, sensei, não ligue para o senhor Guilhermo.
Disse ela, tentando manter a compostura.
— Ligue para a senhora Regina. Ela é minha parente por parte de mãe. Tenho certeza de que ela poderá resolver isso.
Sensei Arima olhou para Cecília por um instante, ponderando, e então assentiu. Pegou o telefone e ligou para Regina.
Quando Regina chegou, sua presença parecia preencher todo o dojô. Sua expressão era séria, os olhos severos, irradiando autoridade. O coração de Cecília afundou. Por um breve momento, ela se arrependeu profundamente de ter chamado Regina. Ela parecia exatamente como uma mãe furiosa com a filha.
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Entre Rosas e Sombras: Conflito com o Submundo
Mystery / Thriller⚠️ Alerta de gatilho Cecília Dantes, uma jovem detetive prodígio de Recife, aos impressionantes 17 anos, equilibra sua inteligência afiada com uma rotina rigorosa que termina pontualmente às 18 horas. Sua vida meticulosamente organizada começa a de...