Entre Silêncios e Proximidades

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Os dias continuaram a passar, e a ausência de Lara parecia não aliviar o nó no peito de Flávia. Ela pensava que, com a partida de sua amiga, as coisas se normalizariam, mas isso estava longe de acontecer. O distanciamento de Júlia era uma presença constante, e Flávia se pegava olhando para o celular, esperando uma mensagem que não chegava. Tentava se aproximar, puxar conversa, mas Júlia se mantinha irremediavelmente distante, sempre ao lado de Luana.

No ginásio, o clima entre as meninas do time de ginástica parecia normal à primeira vista, mas para quem prestava atenção, a tensão era palpável. Rebeca, sempre observadora, notou as mudanças de comportamento, especialmente de Júlia e Flávia, que agora raramente interagiam diretamente. Não foi difícil perceber a presença constante de Luana ao lado de Júlia, e os olhares que Flávia tentava disfarçar.

Naquela manhã, durante os treinos, Rebeca se aproximou de Flávia durante um intervalo. Flávia estava sentada no chão, amarrando os cadarços de suas sapatilhas, e não percebeu a chegada da amiga até sentir sua sombra sobre ela.

“Tá tudo bem?” Rebeca perguntou, sua voz tranquila, mas firme.

Flávia levantou o olhar e tentou forçar um sorriso. “Sim, por que não estaria?”

Rebeca se sentou ao lado dela, sem desviar os olhos. “Você sabe que eu te conheço, né? E eu tô vendo que tem algo estranho entre você e a Júlia.”

Flávia suspirou, sentindo o peso das palavras da amiga. Ela não queria se abrir, mas ao mesmo tempo, guardar tudo para si mesma estava ficando insuportável. “É complicado, Rebeca. As coisas... mudaram.”

Rebeca fez uma pausa, como se processasse o que Flávia dissera. “É sobre a Lara, né? Ela tinha algo a ver com isso?”

Flávia hesitou, mas acabou assentindo. “Um pouco, sim. A Júlia viu coisas que eu acho que a magoaram, mas eu não sei como consertar isso. E agora ela tá com a Luana o tempo todo.”

Rebeca arqueou as sobrancelhas. “Luana? Não sabia que elas estavam tão próximas assim.”

“Nem eu,” Flávia respondeu, baixando os olhos para o chão. “E isso tá mexendo comigo. Eu... não sei mais o que sinto, e parece que tudo tá saindo do controle.”

Rebeca ficou em silêncio por alguns instantes, absorvendo as palavras da amiga. Ela não era do tipo que julgava, mas sabia o quanto era importante para Flávia ter clareza sobre seus sentimentos. E claramente, a situação com Júlia estava afetando muito mais do que Flávia admitia.

“Flávia, se você sente algo por ela, talvez seja melhor você ser sincera. Com ela e consigo mesma. Senão, isso vai continuar te machucando, e você vai acabar perdendo as duas — a Júlia e a si mesma.”

Flávia sabia que Rebeca tinha razão. Mas a ideia de se abrir completamente para Júlia, de expor seus sentimentos, a deixava nervosa. Afinal, e se ela a rejeitasse de vez? E se fosse tarde demais?

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Enquanto isso, do outro lado do ginásio, Júlia estava treinando com Luana. As duas haviam se aproximado consideravelmente nos últimos dias. Luana não era má companhia. Na verdade, ela era sempre gentil, estava lá para ouvir, e fazia de tudo para deixar Júlia confortável. No entanto, mesmo com essa proximidade, Júlia ainda sentia aquele vazio. Seu coração parecia estar em outro lugar, preso em algo que ela não conseguia deixar de lado.

Durante uma pausa nos exercícios, Luana notou o olhar distante de Júlia. “Tá pensando em alguma coisa, Ju?”

Júlia sacudiu a cabeça rapidamente, tentando disfarçar seus pensamentos. “Não, nada importante.”

Mas Luana não era ingênua. Ela sabia que Júlia estava se forçando a se afastar de algo — ou alguém. Luana tinha suas suspeitas sobre Flávia, mas nunca quis ser invasiva. No entanto, a dor nos olhos de Júlia estava evidente demais para ser ignorada.

“Sabe,” Luana começou, com cuidado, “às vezes a gente se afasta das pessoas porque acha que isso vai nos proteger, mas acaba se machucando mais no processo.”

Júlia olhou para Luana, surpresa com a profundidade de suas palavras. “Você acha?”

“Eu acho que às vezes a gente tem que enfrentar o que tá sentindo, mesmo que seja difícil. Porque fugir só vai fazer esse peso aumentar.”

Júlia desviou o olhar, sentindo as palavras de Luana penetrarem fundo. Ela sabia que a amiga estava certa, mas o medo de se aproximar de Flávia, de encarar seus verdadeiros sentimentos, ainda era forte. Nos últimos dias, ela havia usado a companhia de Luana como uma distração, uma forma de evitar encarar o que realmente estava acontecendo dentro de si.

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Mais tarde, quando o treino chegou ao fim, Flávia ainda tentava bolar uma maneira de falar com Júlia, mas a distância entre elas parecia cada vez maior. Lara havia ido embora, mas seu fantasma ainda pairava entre as duas. E agora, com Luana tão próxima de Júlia, o caminho parecia mais difícil.

Enquanto Flávia guardava seus pertences, Júlia saiu do ginásio, mais uma vez sem sequer olhar na direção de Flávia. Aquilo machucava mais do que Flávia gostaria de admitir.

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Nos dias seguintes, a distância continuou. Júlia permitiu que Luana se aproximasse mais, tentando, de algum jeito, preencher o vazio que sentia. Luana, por sua vez, estava sempre ali, oferecendo apoio e conforto, mas também com a consciência de que algo mais profundo estava acontecendo entre Júlia e Flávia.

E Flávia, por sua vez, estava cada vez mais desolada. Mesmo com a partida de Lara, as coisas entre ela e Júlia não haviam se resolvido. E cada vez que via Júlia e Luana juntas, algo dentro dela se partia um pouco mais.

Por mais que tentasse, Flávia não conseguia se livrar da sensação de que estava perdendo algo essencial. E enquanto os dias passavam, o medo de que já fosse tarde demais crescia dentro dela.

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