interações

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Os dias após a conversa entre Flávia e Júlia trouxeram uma sensação de leveza que há muito tempo não sentiam. A tensão que antes permeava o ginásio parecia ter se dissipado, e, embora ainda houvesse uma incerteza no ar, elas sabiam que, agora, estavam pelo menos na mesma página. A distância que existia entre as duas aos poucos foi encurtando, e novos tipos de interações surgiram no lugar.

Logo na manhã seguinte ao desabafo, a rotina no ginásio continuou como sempre, mas algo na forma como Flávia e Júlia se olhavam era diferente. Em vez de evitarem os olhares uma da outra, agora havia uma troca de olhares furtivos, rápidos e quase tímidos, mas carregados de significados. Flávia se pegava observando Júlia durante os treinos, e Júlia, quando percebia, corava e desviava o olhar, mas sem conseguir esconder um leve sorriso no rosto.

Naquele mesmo dia, enquanto faziam exercícios de aquecimento, Rebeca, sempre atenta às dinâmicas do grupo, não pôde deixar de notar as mudanças. Ela sorriu para si mesma, mas decidiu não dizer nada, pelo menos não naquele momento. Ela sabia que Flávia e Júlia precisavam de espaço para entender o que estava acontecendo entre elas.

Mais tarde, durante um intervalo, as meninas estavam espalhadas pelo ginásio, conversando em pequenos grupos, quando Flávia se aproximou de Júlia para perguntar algo simples sobre o treino. No entanto, a maneira como falou, com a voz mais suave e o sorriso nos lábios, deixou claro que suas intenções iam além da pergunta.

"Você está com dificuldade na sequência de saltos?" Flávia perguntou, sua voz soando mais próxima do que o necessário.

Júlia levantou os olhos para ela, percebendo o tom diferente, e mordeu o lábio, tentando não sorrir. "Um pouco... mas acho que consigo dar conta."

Flávia se inclinou um pouco mais, ficando perto o suficiente para que apenas Júlia ouvisse sua próxima frase. "Se precisar de ajuda, sabe onde me encontrar."

A sugestão nas palavras de Flávia não passou despercebida por Júlia, que corou levemente, mas tentou disfarçar. "Vou lembrar disso", respondeu ela, com um sorriso.

Essas interações sutis, cheias de segundas intenções, continuaram a acontecer nos dias seguintes. Flávia e Júlia pareciam estar jogando um jogo silencioso, onde nenhum movimento era explícito, mas cada gesto carregava uma dose de provocação velada. Quando uma passava pela outra, os toques acidentais se tornavam cada vez mais intencionais. Um toque leve no braço aqui, uma troca de olhares prolongada ali, e logo o ambiente ao redor delas parecia vibrar com essa nova energia.

Os sorrisos furtivos, as provocações sutis, e até mesmo as brincadeiras entre elas adquiriram um novo tom, como se cada palavra ou gesto tivesse um significado oculto. Para as meninas do time de ginástica, o que antes era uma tensão mal resolvida agora parecia se transformar em algo mais íntimo, mais leve, mas ainda assim eletrizante.

Rebeca, que observava tudo de longe, aproveitou um momento após o treino para se aproximar de Júlia. "Eu percebi que as coisas estão... diferentes entre vocês", disse ela com um sorriso cúmplice.

Júlia, ainda levemente corada, deu de ombros, tentando não demonstrar o quanto aquelas palavras a afetavam. "As coisas mudaram um pouco, sim", respondeu, sem querer entrar em detalhes.

Rebeca riu, sacudindo a cabeça. "Vocês duas... só tomem cuidado para não deixarem isso atrapalhar os treinos, tá?"

Júlia assentiu, mas sabia que, por mais que tentasse, era impossível ignorar o que estava acontecendo entre ela e Flávia. Algo novo e excitante estava florescendo, e nenhuma das duas parecia disposta a reprimir isso.

Naquele mesmo dia, depois dos treinos, Flávia e Júlia estavam no vestiário, se preparando para ir embora. Elas eram as últimas, e o silêncio no ambiente tornou a atmosfera ainda mais carregada. Flávia, mais uma vez, quebrou o silêncio com um tom despreocupado, mas sua expressão mostrava algo mais.

"Vai fazer algo mais tarde?" perguntou ela, casualmente, enquanto fechava sua mochila.

Júlia, que estava de costas para Flávia, parou por um instante, sentindo o olhar dela em suas costas. "Ainda não sei... Por quê?"

Flávia deu um sorriso de canto. "Talvez a gente possa sair. Jantar, conversar. Sem a pressão dos treinos."

Júlia se virou para encará-la, surpresa pela ousadia de Flávia. "Você está me chamando para sair?" Ela tentou soar leve, mas seu coração acelerado a traiu.

"Talvez", respondeu Flávia, dando um passo mais perto, o olhar intenso. "Depende de você."

A proximidade fez o coração de Júlia disparar. Ela respirou fundo, tentando manter a calma. "Ok. Vamos jantar, então."

Flávia sorriu, satisfeita com a resposta, e as duas saíram do vestiário lado a lado, mais próximas do que nunca.

Nos dias que se seguiram, as interações entre elas continuaram a evoluir, e o que antes era apenas tensão agora se transformava em algo mais concreto. Olhares, toques, conversas demoradas – tudo era um pretexto para estarem mais perto uma da outra. E, para Júlia e Flávia, isso era apenas o começo de um novo capítulo entre elas.

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