tenção

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Os dias seguintes à conversa entre Júlia e Flávia foram tudo menos tranquilos. As palavras trocadas naquela sala de descanso pairavam no ar, pesadas, e as duas tentavam seguir em frente sem realmente lidar com o que havia sido dito — ou não dito.

O ginásio estava sempre cheio, mas Júlia se sentia mais isolada do que nunca. Treinar ao lado de Flávia, agora, era uma mistura de conforto e tortura. O olhar de Flávia era algo que ela sempre procurava, mas, ao mesmo tempo, temia o que poderia encontrar. Luana, por outro lado, parecia sempre à espreita, pronta para se inserir na dinâmica tensa que já existia entre elas.

"Você parece distraída," comentou Luana durante um dos intervalos, enquanto Júlia se alongava no canto do ginásio. A voz dela, sempre casual, carregava aquele tom de familiaridade que Júlia ainda não sabia se gostava.

"Estou concentrada," Júlia respondeu sem muita convicção, olhando de relance para Flávia do outro lado do ginásio. Flávia estava focada em seus exercícios, mas Júlia notava que, de vez em quando, seus olhares se cruzavam, apenas para desviar rapidamente.

Luana se aproximou, sentando-se ao lado de Júlia com aquele sorriso que sugeria segundas intenções. "Talvez você devesse relaxar um pouco. O treino está pegando pesado demais ou tem outra coisa te incomodando?"

Júlia deu um meio sorriso, mas não mordeu a provocação. Sabia que Luana estava tentando tirar algo dela, talvez uma fraqueza. Desde que Luana apareceu, sempre havia uma tensão no ar, um tipo de jogo velado onde ninguém dizia o que realmente sentia, mas todos sabiam que algo estava em disputa.

Flávia, por sua vez, estava cada vez mais distante. Elas falavam o necessário para manter a dinâmica de treino, mas as conversas íntimas, os momentos de descontração, esses estavam cada vez mais raros. Júlia se perguntava se aquela conversa tinha resolvido algo ou apenas complicara ainda mais as coisas.

Enquanto isso, do outro lado do ginásio, Rebeca Andrade também estava lidando com suas próprias questões. Ela e Gabi Guimarães, estrela do time de vôlei, haviam se aproximado muito nos últimos meses, compartilhando confidências e momentos longe dos olhares atentos de suas colegas. Rebeca era intensa nos treinos, mas com Gabi, ela se permitia ser mais leve, mais aberta.

"Você está muito quieta hoje," Gabi comentou enquanto elas assistiam ao treino de suas respectivas equipes, sentadas lado a lado nas arquibancadas. "Alguma coisa aconteceu?"

"Não sei se aconteceu... ou se está acontecendo," Rebeca respondeu, sem tirar os olhos do ginásio. Ela era reservada sobre seus sentimentos, mas havia algo na forma como Gabi sorria para ela que a fazia querer compartilhar.

Gabi riu , sua mão tocando o braço de Rebeca de forma reconfortante. "Você sabe que pode conversar comigo sobre tudo né ? ."

Rebeca se virou para encará-la, sentindo um calor confortável com a proximidade. "Sim eu sei"

Gabi sorriu de forma reconfortante, mas seus olhos brilhavam com um carinho sincero. Elas estavam desenvolvendo algo, e ambas sabiam disso, mesmo que ainda não houvessem colocado em palavras.

De volta ao ginásio, Flávia parecia mais inquieta que o normal. Durante um exercício, deixou cair um dos equipamentos, algo que nunca acontecia. Júlia observou de longe, resistindo ao impulso de ir até ela para perguntar o que estava acontecendo. Flávia sempre fora a mais controlada entre elas, e vê-la cometer erros básicos era, no mínimo, preocupante.

Luana notou a hesitação de Júlia e aproveitou a oportunidade para se aproximar. "Acho que sua amiga está com a cabeça em outro lugar. Talvez você devesse ir falar com ela."

Júlia olhou para Luana, sentindo o desconforto que aquela sugestão trazia. Sabia que Luana estava testando seus limites, e isso a irritava. "Ela está bem. Só está cansada."

"Será?" Luana sorriu, levantando-se com uma elegância despreocupada. "Às vezes a gente finge que as coisas estão bem, mas por dentro, já sabe, é outra história."

Júlia ignorou o comentário, mas a dúvida que Luana plantara já estava ali, crescendo em sua mente.

Nos dias seguintes, a tensão entre Flávia e Júlia só aumentou. Pequenos gestos que antes passavam despercebidos agora ganhavam um novo significado. Se Flávia estava mais tempo ao lado de alguma colega, Júlia sentia uma pontada de ciúme que ela se recusava a admitir. E Luana, sempre por perto, parecia estar observando tudo com olhos atentos, pronta para interferir no momento certo.

Júlia, por sua vez, começou a usar a presença de Luana para provocar Flávia, ainda que não fosse de forma direta. Ela não correspondia completamente às investidas de Luana, mas deixava espaço o suficiente para que Flávia notasse. E, apesar de nunca dizer nada, Júlia sabia que Flávia estava percebendo.

O equilíbrio delicado da amizade, agora misturado com sentimentos não resolvidos, ciúmes e inseguranças, tornou o ambiente ainda mais intenso. Cada olhar, cada palavra não dita, parecia um passo em direção ao desconhecido.

Enquanto isso, o relacionamento entre Rebeca e Gabi continuava a florescer em seu próprio ritmo. As duas se encontravam após os treinos, conversando até tarde, explorando o que estava surgindo entre elas. O toque de Gabi, sempre tão suave, fazia Rebeca se sentir confortável, algo raro em sua vida tão cheia de expectativas e pressões. Estava claro que algo mais forte estava nascendo ali, e ambas sabiam que estavam prestes a cruzar uma linha que não poderiam voltar atrás.

Júlia, por outro lado, sentia que estava à beira de uma explosão. As provocações de Luana, a distância de Flávia, e os próprios sentimentos confusos eram uma mistura explosiva. Algo tinha que mudar. E, no fundo, Júlia sabia que, quando Lara finalmente aparecesse em suas vidas, a dinâmica entre elas iria mudar de vez.

Mas até lá, o clima de tensão e romance apenas crescia, como uma tempestade prestes a se formar no horizonte.

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