O Temido Encontro

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O domingo finalmente havia chegado, e com ele o nervosismo de Flávia atingiu seu auge. Mal havia pregado os olhos na noite anterior, virando de um lado para o outro na cama, revivendo todas as possíveis interações que teria com os pais de Júlia. Sua mente estava a mil, imaginando cenários de desastre que só pioravam seu estado de ansiedade.

— Filha, vai dar tudo certo — a mãe de Flávia disse pela milésima vez, tentando acalmar o furacão que sua filha havia se tornado.

— Mãe, e se eu fizer alguma coisa errada? E se eles não gostarem de mim? — Flávia desabafou, quase sem fôlego enquanto se olhava no espelho, ajeitando seu cabelo pela terceira vez.

— Você é uma boa menina, Flávia. Não tem por que eles não gostarem de você — sua mãe sorriu, colocando a mão no ombro dela. — Eles vão ver o que eu vejo. Só tenta relaxar, tá bom?

— Tentar — Flávia repetiu, embora soubesse que isso seria quase impossível.

Com um último olhar no espelho, Flávia pegou sua bolsa e saiu de casa. Júlia a esperava na porta com o carro já ligado, e ao ver o rosto tenso de Flávia, imediatamente abriu um sorriso tranquilizador.

— Tá nervosa, né? — Júlia perguntou, esticando a mão para pegar a de Flávia.

— Um pouco — Flávia respondeu, mordendo o lábio. — Não consegui dormir direito.

— Vai ficar tudo bem. Meus pais são incríveis. Eles vão adorar você, prometo.

Mesmo com as palavras doces de Júlia, Flávia não conseguia se acalmar por completo. O caminho até a casa dos pais dela parecia curto demais. Em pouco tempo, elas já estavam estacionando em frente à casa.

Ao entrar, Flávia foi recebida com abraços calorosos da mãe de Júlia, mas o pai dela, seu Antônio, ficou de pé, com os braços cruzados, olhando-a de cima a baixo com uma expressão séria. O coração de Flávia disparou.

— Então... você é a Flávia, né? — ele disse, a voz grave e carregada de um tom ameaçador. — A que anda saindo com a minha filha.

Flávia engoliu em seco. A boca seca e as mãos suando frio. — S-sim, senhor. Sou eu.

O olhar severo de Antônio não vacilou. Ele deu um passo à frente, aproximando-se de Flávia. — Eu só tenho uma coisa a dizer. Se você machucar a minha filha... bem, eu conheço uns caras. E não vai acabar bem pra você.

Flávia congelou. O estômago revirando. Júlia, por sua vez, tentava não rir, observando a reação de sua namorada.

— Pai! — Júlia exclamou, batendo de leve no ombro dele, mas ele se manteve sério, segurando a pose.

— É sério, Flávia. A minha filha é tudo pra mim. E eu espero que você saiba disso — completou Antônio, sem tirar os olhos dela.

Flávia sentia o coração prestes a explodir, mas foi nesse momento que a mãe de Júlia não conseguiu mais conter a risada. Ela olhou para o marido e começou a rir, contagiando Júlia e quebrando completamente a tensão do momento.

— Ai, Antônio, você é terrível! — disse a mãe de Júlia, enxugando as lágrimas de tanto rir. — Flávia, ele só estava brincando!

Flávia piscou, atordoada, enquanto Júlia também caía na gargalhada.

— Relaxa, meu pai só gosta de dar susto nas pessoas! — Júlia disse, ainda rindo.

Antônio, por fim, também sorriu, suavizando a expressão rígida de antes.

— Desculpa, Flávia. Não resisti. — Ele estendeu a mão, agora amigavelmente. — Bem-vinda à família. A Júlia falou muito bem de você.

Flávia, ainda um pouco abalada, aceitou a mão estendida, sentindo o alívio percorrer seu corpo. — Eu... eu quase acreditei!

— Bom, funcionou, então — Antônio brincou, piscando para ela.

O ambiente, que antes parecia cheio de tensão, de repente se transformou em risadas e descontração. Flávia finalmente relaxou, se acomodando no sofá enquanto as conversas fluíam naturalmente.

O almoço seguiu com conversas sobre a vida de Flávia, suas experiências como ginasta e como ela e Júlia se conheceram. A mãe de Júlia parecia encantada com a história do casal, fazendo perguntas sobre os treinos e mostrando um interesse genuíno por Flávia.

Mesmo com o susto inicial, Flávia sentiu que o peso em seus ombros tinha se dissipado. Antônio, apesar da brincadeira, se mostrou acolhedor e simpático, e a mãe de Júlia era calorosa e carinhosa. Aos poucos, Flávia percebeu que, com Júlia ao seu lado, tudo parecia mais fácil.

Enquanto elas saíam da casa depois do almoço, Júlia segurou a mão de Flávia, sorrindo de orelha a orelha.

— Viu? Eu te disse que ia ser tranquilo.

Flávia soltou uma risada aliviada, dando um leve soco no braço de Júlia. — Tranquilo? Você viu o que seu pai fez comigo?

— Ah, isso faz parte do ritual de iniciação aqui — Júlia brincou, piscando para ela. — Agora você oficialmente faz parte da família.

Flávia sorriu, sentindo-se mais leve do que em qualquer outro momento daquele dia. Ela sabia que esse era apenas o começo de muitas experiências ao lado de Júlia e de sua família, e de repente, o futuro parecia muito mais brilhante.

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