silêncio ensurdecedor

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Flávia não sabia mais o que fazer. Cada tentativa de falar com Júlia parecia esbarrar em uma parede invisível que crescia a cada dia. O afastamento de Júlia era doloroso, e a presença constante de Luana ao lado dela tornava tudo ainda mais difícil de suportar. O tempo passava, mas as coisas não melhoravam. Pelo contrário, parecia que a distância entre elas só aumentava.

Naquela tarde, Flávia se pegou encarando o celular mais uma vez, pensando se devia mandar uma mensagem para Júlia. Havia tentado tantas vezes, e o resultado sempre era o mesmo: silêncio. Mas não podia desistir tão facilmente, não quando sabia que os sentimentos ainda estavam ali, apesar de tudo.

Rebeca, que estava treinando do outro lado da sala, notou o olhar perdido de Flávia e decidiu se aproximar.

“Você tá se torturando à toa, sabia?” disse Rebeca, sentando-se ao lado de Flávia.

Flávia suspirou, guardando o celular e cruzando os braços. “Eu sei... Mas é difícil não tentar, sabe? Eu sinto que se eu parar de tentar, vou perder ela de vez.”

Rebeca balançou a cabeça. “Você não vai perder ninguém se for honesta. Às vezes, o que a gente precisa é dar um espaço, respirar um pouco. Deixar que o outro sinta a falta também.”

Flávia ficou em silêncio, absorvendo as palavras da amiga. Ela sabia que Rebeca estava certa, mas o medo de perder Júlia para sempre a paralisava.

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Enquanto isso, do outro lado do ginásio, Júlia se encontrava em uma situação igualmente complicada. Ela continuava se aproximando de Luana, mas por mais que tentasse, não conseguia preencher o vazio que sentia por Flávia. A verdade era que a presença de Luana, por mais agradável e acolhedora que fosse, não era suficiente para apagar os sentimentos que ainda mantinha por Flávia.

Nos últimos dias, Júlia havia permitido que Luana entrasse mais em sua vida, procurando conforto e apoio. Luana, por sua vez, permanecia cuidadosa, sempre atenta às necessidades de Júlia, mas sem forçar nada. Ela sabia que Júlia ainda estava profundamente ligada a Flávia, mas, por algum motivo, não conseguia evitar a esperança de que, talvez, com o tempo, Júlia pudesse ver nela algo mais.

Naquele dia, enquanto as duas estavam do lado de fora do ginásio, aproveitando uma pausa nos treinos, Luana notou que Júlia estava ainda mais distante do que o habitual.

“Tá pensando em alguma coisa?” Luana perguntou suavemente.

Júlia olhou para ela, tentando sorrir. “Ah, só... pensando nas coisas do treino. Sabe como é.”

Luana sabia que havia mais por trás daquele sorriso forçado, mas decidiu não pressionar. Em vez disso, mudou de assunto, tentando aliviar o clima.

“Você tem treinado muito bem ultimamente,” disse Luana, sorrindo de forma gentil. “Tá cada vez melhor.”

“Obrigada,” Júlia respondeu, desviando o olhar.

A conversa morreu ali, mas o silêncio que seguiu não foi incômodo. Luana sabia que, por enquanto, isso era o máximo que poderia esperar de Júlia: uma proximidade silenciosa, sem grandes expectativas.

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Flávia, por outro lado, continuava lutando contra seus próprios sentimentos. Lara havia partido, mas as lembranças do breve tempo que passaram juntas ainda a atormentavam. Os beijos, os momentos de flerte e as provocações que trocavam. Flávia sabia que, para ela, tudo aquilo não passava de distração, uma forma de lidar com a confusão em relação a Júlia. Mas será que Júlia conseguia ver isso? Ou será que, para ela, Lara havia representado algo mais?

Enquanto as dúvidas corroíam Flávia por dentro, ela se viu cada vez mais impotente. E, para piorar, a presença de Luana ao lado de Júlia não ajudava em nada. Pelo contrário, a cada dia parecia que Júlia se afastava ainda mais, permitindo que Luana ocupasse um espaço que, em outro momento, pertencia a ela.

Naquela noite, Flávia estava deitada em sua cama, encarando o teto, quando uma mensagem de Rebeca apareceu em seu celular.

"Você precisa falar com ela."

As palavras eram simples, mas carregavam um peso enorme. Flávia sabia que, em algum momento, teria que se abrir para Júlia, dizer tudo o que sentia. Mas será que ainda tinha tempo? Ou será que já havia perdido a chance?

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Enquanto isso, Júlia também estava em sua própria batalha interna. Ela sabia que Luana gostava dela, de uma forma que ia além da amizade. E, por mais que não quisesse admitir, Júlia estava começando a permitir que Luana ocupasse um espaço em sua vida que antes era exclusivo de Flávia. Não que estivesse apaixonada por Luana, mas a proximidade entre elas oferecia uma espécie de conforto, uma distração dos sentimentos que ainda nutria por Flávia.

Naquela mesma noite, Júlia se pegou pensando em como as coisas haviam mudado tão rapidamente. Lara, Flávia, Luana... Tudo parecia fora de controle, e ela não sabia como voltar atrás.

O silêncio entre ela e Flávia parecia definitivo. Cada vez que olhava para Flávia no ginásio, sentia uma pontada de dor, como se algo essencial estivesse faltando. Mas, ao mesmo tempo, a proximidade de Luana oferecia uma sensação de segurança, de que talvez, com o tempo, as coisas pudessem ficar bem novamente.

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Os dias continuaram a passar, e a distância entre Júlia e Flávia parecia se tornar cada vez mais insuportável. Flávia tentou de todas as formas se aproximar, mas Júlia, presa em seus próprios medos e confusões, manteve-se firme em seu afastamento. Enquanto isso, Luana continuava sendo a presença constante ao lado de Júlia, preenchendo o vazio deixado por Flávia.

E Flávia, por mais que tentasse, sabia que, a cada dia, estava perdendo Júlia um pouco mais.

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