se afastar?

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Os dias que se seguiram à conversa no apartamento de Júlia foram marcados por um silêncio pesado e uma distância crescente entre elas. Flávia mal conseguia lidar com o turbilhão de emoções que sentia. Lara já havia ido embora, levando com ela os momentos breves, mas intensos, que as duas compartilharam. Mesmo assim, o beijo entre elas ainda estava fresco na memória de Júlia, e essa lembrança havia criado uma barreira quase intransponível.

Júlia, por sua vez, tinha se fechado ainda mais. A conversa que teve com Flávia no apartamento, embora necessária, não trouxe o alívio que ela esperava. As palavras de Flávia foram sinceras, mas as marcas deixadas pela proximidade entre Flávia e Lara ainda eram profundas. Ela não conseguia apagar da mente o momento em que viu as duas se beijando. Agora, havia uma espécie de muro invisível que mantinha Flávia distante.

Mesmo que Flávia tentasse se aproximar, Júlia continuava a recuar. E, para piorar a situação, Luana, que sempre soube aproveitar os momentos de fragilidade de Júlia, estava mais presente do que nunca. Seus gestos eram sutis, suas palavras cuidadosas, mas havia uma intenção clara em cada ação.

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Era uma tarde como outra qualquer no ginásio. Flávia tentava se concentrar nos exercícios, mas sua mente voltava sempre para Júlia, que treinava um pouco afastada. O silêncio entre elas já durava dias, e isso estava começando a afetar Flávia mais do que ela queria admitir.

Enquanto observava Júlia de longe, Flávia notou algo que lhe causou um aperto no peito: Luana estava mais próxima de Júlia do que antes. Elas trocavam sorrisos, e, de vez em quando, Luana se inclinava para sussurrar algo no ouvido de Júlia. O coração de Flávia acelerou, e o incômodo que ela sentia só aumentava.

Flávia tentou afastar os pensamentos, mas a visão de Júlia se abrindo para Luana, permitindo que ela se aproximasse mais a cada dia, a estava enlouquecendo. E, por mais que quisesse intervir, Flávia sentia que não tinha mais o direito de fazer isso. Ela tinha errado, e agora estava colhendo as consequências.

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Após o treino, enquanto as garotas do time de ginástica se dispersavam, Flávia decidiu tentar falar com Júlia novamente. Ela sabia que não poderia adiar isso para sempre. Mas, quando começou a caminhar em direção a ela, foi interrompida por Rebeca, que a chamou com um aceno discreto.

"Flávia, posso falar com você um minuto?" Rebeca perguntou, olhando de relance para Júlia e Luana.

Flávia hesitou por um instante, mas assentiu. "Claro, Bec. O que foi?"

As duas se afastaram um pouco do grupo, e Rebeca, sempre direta, começou: "Tá todo mundo percebendo que as coisas entre você e a Júlia não estão bem. Eu sei que isso não é da minha conta, mas vocês duas precisam resolver isso. De verdade."

Flávia abaixou a cabeça, sentindo o peso das palavras de Rebeca. "Eu sei... mas é mais complicado do que parece."

Rebeca colocou uma mão no ombro de Flávia, tentando confortá-la. "Eu imagino que seja. Mas, olha, eu já estive em situações assim com a Gabi. Se você não falar logo, o silêncio só vai piorar as coisas."

Flávia suspirou, passando a mão pelos cabelos. "Eu tentei falar com ela... fomos até o apartamento dela, conversamos... mas parece que nada mudou. Ela ainda está distante."

"Talvez ela precise de mais tempo," sugeriu Rebeca, com um tom compreensivo. "Mas você precisa ser paciente. Se você realmente gosta dela, vai valer a pena esperar."

Flávia assentiu, embora a espera parecesse insuportável. "Eu só... não sei se ela vai me perdoar por tudo isso."

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Enquanto Flávia conversava com Rebeca, Luana e Júlia permaneciam do outro lado do ginásio, cada vez mais próximas. Luana, com seu jeito cuidadoso e sutil, se aproximava de Júlia sem pressa, criando uma conexão que, de certa forma, a fazia se sentir confortável. Ela não era insistente, mas estava sempre ali, presente, oferecendo seu apoio de maneira silenciosa.

"Você sabe que, se quiser conversar, eu tô aqui, né?" Luana disse, olhando de canto para Júlia, que apenas assentiu, sem dizer nada.

Júlia ainda estava confusa com seus sentimentos. Ela sabia que a aproximação de Luana era reconfortante, mas, ao mesmo tempo, seu coração ainda batia mais forte por Flávia. No entanto, a dor de ver Flávia com Lara, de sentir que havia sido deixada de lado, ainda a consumia.

Luana percebeu o olhar distante de Júlia e, em um gesto sutil, tocou de leve no braço dela. "Não precisa fingir que tá tudo bem."

Júlia respirou fundo, lutando contra as emoções que borbulhavam dentro dela. "Eu só... eu não sei o que fazer, Luana. Tá tudo tão confuso."

"Eu entendo," disse Luana, calmamente. "Mas, às vezes, a gente precisa dar um passo para trás para entender o que realmente quer. Se afastar pode te ajudar a ver as coisas com mais clareza."

Júlia olhou para Luana, agradecida pelo apoio. Ela sabia que Luana estava sendo sincera, e a companhia dela havia sido um alívio nos últimos dias. Mas, no fundo, Júlia sabia que estava usando essa aproximação como uma forma de evitar lidar com seus sentimentos por Flávia.

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Flávia, observando de longe, sentiu uma pontada de ciúmes ao ver Júlia tão à vontade com Luana. Ela sabia que não tinha o direito de se sentir assim, especialmente depois de tudo que havia acontecido com Lara, mas o coração nem sempre seguia a lógica.

Ela suspirou, sabendo que precisava ser paciente, mas, a cada dia que passava, a distância entre ela e Júlia parecia aumentar. E agora, com Luana cada vez mais próxima, Flávia começava a temer que estivesse perdendo Júlia para sempre.

O silêncio entre elas continuava a crescer, e Flávia se perguntava se ainda havia tempo para reverter tudo.

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