Entre Sorrisos

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O dia seguinte amanheceu com uma energia diferente. No ginásio, o barulho constante dos aparelhos e as vozes animadas das meninas se misturavam com a expectativa que Flávia e Júlia sentiam. Ambas haviam acordado com a lembrança da noite anterior viva em suas mentes, o gosto do beijo ainda presente em seus lábios, e agora, durante os treinos, elas pareciam incapazes de manter distância uma da outra.

Assim que Flávia entrou no ginásio, vestindo o uniforme de treino, seus olhos procuraram imediatamente por Júlia, que já estava se alongando do outro lado da sala. Os olhares delas se cruzaram, e um sorriso cúmplice surgiu no rosto de ambas, como se compartilhassem um segredo que ninguém mais ali sabia.

Rebeca, sempre atenta, notou a troca de olhares e sorriu de canto, sem dizer nada. Ela sabia que havia algo acontecendo, mas preferiu observar de longe, sem se intrometer. No entanto, aquilo não passou despercebido por mais ninguém, especialmente quando Flávia, disfarçando a própria ansiedade, passou por Júlia e deu um leve toque em sua cintura, algo quase imperceptível para quem não estivesse prestando atenção. Mas para Júlia, aquilo era como uma faísca.

Conforme o treino avançava, as provocações entre as duas iam crescendo de forma sutil. Júlia aproveitava cada momento de distração das outras meninas para se aproximar de Flávia, trocando sorrisos cheios de significado e toques rápidos. Flávia, por sua vez, retribuía com olhares intensos e risadas contidas, sentindo a adrenalina correr pelo corpo sempre que os olhares delas se encontravam.

Durante uma pausa, enquanto as outras ginastas conversavam animadamente em um canto, Flávia e Júlia ficaram para trás, perto de um dos aparelhos. Flávia se inclinou para amarrar o cadarço do tênis, e Júlia, aproveitando a oportunidade, se aproximou por trás.

“Você está bem concentrada hoje,” Júlia sussurrou no ouvido de Flávia, sua voz baixa e provocante.

Flávia sorriu sem levantar o olhar, fingindo inocência. “Tentando ser, mas está difícil com certas distrações por perto.”

Júlia riu, e antes que qualquer uma das outras meninas notasse, ela se inclinou e deu um rápido beijo no canto da boca de Flávia, que se arrepiou com o toque. Foi um gesto rápido, quase imperceptível, mas o suficiente para deixar Flávia com o coração acelerado.

Quando Rebeca se aproximou novamente, Júlia já estava de volta ao seu lugar, agindo como se nada tivesse acontecido. Mas o sorriso no rosto de Flávia e o rubor leve em suas bochechas entregavam o quanto ela estava sendo afetada por aqueles pequenos momentos.

“Você está estranha hoje, Flá,” Rebeca comentou, desconfiada, observando a amiga com atenção.

Flávia disfarçou, passando a mão pelo cabelo e dando de ombros. “Só estou com a cabeça cheia.”

Rebeca estreitou os olhos, mas antes que pudesse perguntar mais, Carol chamou as meninas de volta ao treino. Flávia suspirou aliviada, mas sabia que não conseguiria escapar das perguntas da amiga por muito mais tempo.

A cada pausa, a tensão entre Flávia e Júlia aumentava. Havia toques sutis, sorrisos furtivos e, quando ninguém estava olhando, beijos roubados. Era como se elas estivessem jogando um jogo perigoso, tentando equilibrar a seriedade dos treinos com o desejo crescente que sentiam uma pela outra.

Em um dos momentos mais intensos do treino, enquanto todas estavam focadas em suas séries, Flávia e Júlia se encontraram sozinhas em um canto do ginásio. Sem dizer nada, Júlia segurou Flávia pela mão e a puxou para trás de um dos aparelhos.

“Você vai me matar de ansiedade,” Flávia murmurou, sorrindo enquanto encarava os olhos brilhantes de Júlia.

“Então por que você não faz algo a respeito?” Júlia respondeu, provocativa.

Sem perder tempo, Flávia se inclinou e beijou Júlia com intensidade, um beijo rápido, mas cheio de desejo. O coração delas batia acelerado, e quando se afastaram, ambas estavam sorrindo como adolescentes apaixonadas.

“Isso vai dar problema se continuarmos assim,” Flávia disse, rindo levemente, embora soubesse que não queria parar.

“Que problema?” Júlia deu de ombros, fingindo inocência. “Ninguém está prestando atenção.”

Flávia balançou a cabeça, tentando disfarçar o sorriso, e as duas voltaram para o treino como se nada tivesse acontecido. Mas o clima entre elas estava cada vez mais evidente. Mesmo que as outras meninas não percebessem todos os detalhes, o comportamento delas começava a levantar algumas suspeitas.

Ao final do treino, quando todas estavam exaustas e se preparando para ir embora, Rebeca finalmente se aproximou de Flávia mais uma vez, com um olhar desconfiado.

“Você acha que eu sou cega?” Rebeca perguntou, cruzando os braços enquanto encarava a amiga.

Flávia tentou disfarçar, mas o sorriso no rosto a entregava. “Do que você está falando?”

“De você e a Júlia,” Rebeca disse, sem rodeios. “Eu vi como vocês estavam hoje.”

Flávia suspirou, sabendo que não adiantava mentir. “Tá, e se eu disser que não é nada demais?”

Rebeca ergueu uma sobrancelha, incrédula. “Flávia, por favor. Eu conheço esse seu sorriso. Vocês estão juntas, não estão?”

Flávia hesitou, mas depois riu, balançando a cabeça. “Eu não sei, Rebeca. Não sei o que isso é. Mas... parece certo.”

Rebeca sorriu, cruzando os braços. “Eu sabia. Só toma cuidado, tá? Se isso for o que você quer, vai em frente, mas lembra que sentimentos podem ser complicados.”

Flávia acenou, concordando, mas o sorriso no rosto mostrava que, naquele momento, ela estava exatamente onde queria estar.

Enquanto elas se despediam e se preparavam para ir embora, Flávia trocou um último olhar com Júlia. O clima entre elas estava mais leve, mas o desejo de se verem novamente, longe das provocações e das distrações, estava claro.

Júlia, ao deixar o ginásio, acenou para Flávia, piscando de forma sugestiva antes de ir embora. O coração de Flávia bateu forte, sabendo que, mais cedo ou mais tarde, elas teriam mais momentos como aquele.

O que começou como pequenos flertes estava se tornando algo mais, e ambas sabiam que não podiam mais evitar o que estava por vir.

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