Revelações e Nervosismo

24 1 0
                                    

O sol já estava alto quando Flávia entrou no ginásio. O treino começaria em poucos minutos, mas sua mente estava longe, ainda presa na conversa que tivera com sua mãe na noite anterior. Ela sabia que, mais cedo ou mais tarde, teria que contar para Júlia. Ainda que estivesse nervosa, sentia que era importante compartilhar esse momento com ela.

Júlia já estava ali, ajustando os cadarços do tênis no canto da sala. Quando seus olhares se encontraram, um pequeno sorriso escapou dos lábios de ambas, mas Flávia notou uma pontada de nervosismo em si mesma. O que sua mãe havia dito ainda ecoava em sua mente, e aquilo mexia com seus sentimentos de um jeito que ela não estava preparada.

Ela respirou fundo e se aproximou de Júlia, tentando disfarçar o leve tremor nas mãos. Júlia levantou a cabeça, notando a hesitação em Flávia.

— Oi, Fla — disse Júlia com um sorriso suave, mas logo percebeu que havia algo diferente. — Você está bem? Parece meio distraída.

Flávia assentiu, engolindo em seco. Ela puxou uma cadeira ao lado de Júlia e se sentou, olhando para as próprias mãos por um momento antes de falar.

— Eu preciso te contar uma coisa — começou, e já sentiu o olhar curioso de Júlia cravar-se nela. — Eu conversei com minha mãe ontem. Sobre... nós.

Júlia ficou em silêncio por alguns segundos, claramente tentando processar o que Flávia estava dizendo. Seus olhos se arregalaram um pouco, e ela endireitou a postura, agora completamente focada em Flávia.

— Você contou pra sua mãe? — a voz de Júlia saiu um pouco mais alta do que o esperado, com uma mistura de surpresa e nervosismo. — E o que... o que ela disse?

Flávia riu baixinho, notando o quanto Júlia estava inquieta. Era engraçado ver sua amiga tão nervosa, considerando que Júlia sempre fora a mais calma das duas. Mas ela entendia — sua mãe era uma figura forte, e saber que ela havia sido envolvida na história, mesmo que indiretamente, certamente mexia com Júlia.

— Calma, não foi nada demais — Flávia tentou acalmá-la, colocando uma mão sobre o joelho de Júlia. — Eu só... precisava desabafar. Eu estava confusa, com todos esses sentimentos que surgiram entre nós. E, bom, minha mãe é alguém com quem sempre posso contar.

Júlia soltou o ar que nem sabia que estava prendendo, mas ainda havia um leve desconforto em sua expressão. Ela conhecia a mãe de Flávia há anos, desde os primeiros dias no ginásio. Respeitava muito aquela mulher, mas também sabia que ela era extremamente protetora com a filha.

— E o que ela disse? — perguntou Júlia, com uma voz mais baixa, quase temendo a resposta.

Flávia hesitou por um segundo, mas, ao lembrar-se da conversa da noite anterior, um pequeno sorriso surgiu em seus lábios. Ela olhou nos olhos de Júlia, sentindo que estava na hora de ser completamente honesta.

— Ela me perguntou se eu estava apaixonada por você — confessou, sentindo o rosto esquentar levemente.

Os olhos de Júlia se arregalaram novamente, e seu coração disparou no peito. Aquela palavra — “apaixonada” — parecia carregar um peso que ela não esperava naquele momento. Júlia sempre soube que havia algo especial entre elas, mas ouvir aquilo dito em voz alta a fez sentir um frio na barriga.

— E o que você respondeu? — a voz de Júlia saiu quase num sussurro.

Flávia desviou o olhar por um momento, tomando coragem para continuar. O que estava prestes a dizer poderia mudar tudo entre elas, mas, de alguma forma, ela sabia que era o certo a fazer.

— Eu disse que sim. Que acho que estou — admitiu, a voz carregada de sinceridade.

Júlia ficou em silêncio, sentindo o coração bater mais rápido. As palavras de Flávia a atingiram como uma avalanche, e de repente, tudo parecia ganhar uma nova dimensão. Ela sempre soube que tinha sentimentos por Flávia, mas ouvir que esses sentimentos eram recíprocos mexia com ela de uma maneira que não estava preparada.

— Fla... eu... — Júlia começou a falar, mas parou, sentindo a confusão de emoções transbordar. Ela respirou fundo, tentando organizar seus pensamentos. — Eu também sinto isso, sabe? Mas é tudo tão complicado. Eu não quero que as coisas entre nós mudem para pior. E sua mãe... bem, você sabe o quanto eu a respeito. Fico nervosa em pensar no que ela pode achar de mim.

Flávia riu, balançando a cabeça.

— Você conhece minha mãe, Júlia. Ela só quer que eu seja feliz, e foi isso que ela me disse. Que eu preciso seguir o que meu coração diz. E, sinceramente, meu coração está gritando por você.

Júlia sentiu o peito apertar. Era muita coisa para processar, mas, ao mesmo tempo, era o que ela mais queria ouvir. Ela se inclinou um pouco mais perto de Flávia, suas mãos entrelaçando-se instintivamente.

— Então... — Júlia começou, com um sorriso tímido nos lábios. — O que fazemos agora?

Flávia sorriu de volta, sentindo que a tensão entre elas estava se dissipando, sendo substituída por algo mais suave, mais genuíno. Ela apertou a mão de Júlia, sentindo o calor que emanava daquela conexão.

— Acho que a gente tem que ver onde isso vai dar — respondeu Flávia, sentindo o coração mais leve

Júlia assentiu, o sorriso crescendo em seus lábios. Pela primeira vez em dias, ela se sentiu realmente tranquila, como se todas as peças estivessem começando a se encaixar.

— Eu gosto da ideia — disse Júlia, com um brilho nos olhos.

As duas ficaram em silêncio por um momento, apenas aproveitando o conforto da companhia uma da outra. Mesmo sem palavras, elas sabiam que estavam no caminho certo.

Indecisão Onde histórias criam vida. Descubra agora