capítulo 13

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Acordei com as vozes suaves de Daniel e Sr. Miyagi conversando na sala. O aroma de chá quente preencheu o ar, e meus olhos demoraram um pouco para se ajustar à luz suave do ambiente. Olhei para o lado e vi Daniel sentado com uma xícara de chá nas mãos, parecendo um pouco melhor, mas ainda machucado. Sr. Miyagi estava ao lado dele, com a calma habitual, enquanto passava um pano molhado nos ferimentos de Daniel.

— Por que nunca me disse que sabia karatê? — ouvi Daniel perguntar, sua voz carregando uma curiosidade genuína.

Sr. Miyagi deu um pequeno sorriso.

— Você nunca perguntou — ele respondeu com simplicidade.

Eu me sentei no sofá, tentando me manter silenciosa, sem querer interromper, mas atenta ao diálogo que se desenrolava.

— Onde aprendeu? — Daniel continuou.

— Meu pai — Sr. Miyagi respondeu, sem desviar o olhar de seu trabalho cuidadoso nos machucados de Daniel.

— Pensei que ele era pescador... — Daniel comentou, com um tom levemente surpreso.

— Em Okinawa, todos os Miyagi sabem duas coisas — Sr. Miyagi disse, ainda com seu sorriso suave. — Pescar... e karatê.

Eu me ajeitei no sofá, ouvindo tudo em silêncio, absorvendo cada palavra. Daniel franziu a testa, ainda processando a resposta.

— Você já ensinou karatê pra alguém antes? — Daniel perguntou, enquanto observava o Sr. Miyagi colocar o pano de volta em um balde com água fria.

— Não — Sr. Miyagi respondeu de forma simples, sem mais explicações.

Daniel ficou em silêncio por um momento, pensando em algo. Então, com uma mistura de esperança e determinação, ele perguntou:

— Ensinaria?

Sr. Miyagi ergueu o olhar para ele, com uma expressão ponderada.

— Depende.

— Depende do quê? — Daniel perguntou, intrigado.

— Tem que ser por uma boa razão — Sr. Miyagi respondeu, sério, mas sem perder sua calma característica.

Eu senti uma pontada no peito, observando Daniel tentar convencer Sr. Miyagi. Ele parecia estar buscando algo, talvez uma forma de se defender, mas era mais do que isso. Ele queria entender o que o karatê realmente significava.

— Eu quero aprender pra me vingar  — Daniel disse com sinceridade. — Esses caras do Cobra Kai, eles não param de me perseguir. Eu só... quero que isso pare.

Sr. Miyagi inclinou a cabeça, pensativo, antes de falar com uma firmeza inesperada:

— Karatê pra defesa só. — Ele olhou para Daniel, seus olhos transmitindo uma sabedoria que parecia atravessar o tempo. — Lutar para machucar não é caminho do karatê.

Daniel assentiu, absorvendo cada palavra. Eu estava quieta, ainda digerindo tudo. Até eu, que tinha passado tanto tempo no Cobra Kai, sabia que havia algo muito errado na maneira como éramos ensinados a lutar.

— E aqueles garotos do Cobra Kai? — Daniel continuou, a raiva e a frustração retornando à sua voz. — Eles não lutam pra se defender, lutam pra machucar.

Sr. Miyagi colocou a xícara de chá de lado e olhou para Daniel com um olhar profundo e sério.

— Não existe mal estudante, só um mal professor.

Essas palavras me atingiram em cheio. Eu pensei em Kreese, em todas as vezes que ele nos pressionava a sermos mais agressivos, a não ter misericórdia. O que estávamos aprendendo no Cobra Kai... era completamente o oposto do que Sr. Miyagi acreditava.

Breaking the Cobra code - Karate Kid Onde histórias criam vida. Descubra agora