𝓒𝓪𝓹í𝓽𝓾𝓵𝓸 22

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As janelas do carro estão aberta, o vento está bagunçando todo meu cabelo, mais do que já está bagunçado, o solto do rabo de cavalo e amarro em um coque alto. Sinto os olhos de alguém me fitando, sei que ele está me observando, cada gesto meu, sorri disfarçadamente.

- Veio de calça hoje. - ele fala como quem não quer nada.

- Conseguiu enxergar sem óculos? - debocho por ele afirmar algo óbvio.

- Não preciso de um para ver algo horrendo. - seu sorriso presunçoso abre o caminho para suas covinhas, as quais nunca reparei antes, são um pouco fofas... Mas estão em um rosto de uma pessoa nada fofa.

- Deve ser por isso que você evita de ser olhar no espelho, né? - o encaro mantendo a postura.

- Não. Evito de olhar para você. - ele sorri convencido.

- Pois não é o que está parecendo - dou uma piscadela.

- Tenho que avaliar meu brinquedo. - sorri de canto.

- Cachorro - tento segurar minha raiva, mas com Gabriel é impossível.

- Au, au - dei uma gargalhada, não sei porquê ele fez isso, mas não consegui evitar de ri e ele também não.

- Parece que aceitou ser meu cachorro. - levanto os ombros e digo docilmente.

- Sou o babaca, mas cachorro não. - ele é muito mais do que babaca, consigo montar uma listinha, já está até no sobrenome dele.

- Gabriel Diaz Babaca Cretino Idio... - ele coloca o dedo indicador nos meus lábios, sinto formigar e fico quieta.

- Como sempre carinhosa, víbora - o moreno tira seu dedo da minha boca e causa uma dormência nos meus lábios me fazendo sentir falta do seu toque.

Gabriel para o carro na frente do apartamento de Pedro, sem eu dizer o endereço. Só comentei que ia ficar na casa do meu irmão.

- Como...

- Entregue - ele me corta - se você quiser ficar mais um pouco nesse carro... - sei que ele está zombando de mim, mas mesmo assim fico apreensiva.

- Com certeza não. - fecho a porta atrás de mim e entro no apartamento.

É estranho como hoje ele tava tão... Diferente, pude perceber que mesmo com as barreiras erguidas, a algo nelas, como se cada pedra de gelo tivesse história, uma mistura de vazio e tristeza. Até mesmo consegui ver ele sem sua barreira, e o que mais temia, é que ele é alguém que eu poderia gostar, alguém terrivelmente apaixonante.

Solto um suspiro.

Mas ele nunca vai deixar as suas barreiras baixa, sinto que se eu a menos tentar encostar nela vou acabar me queimando.

De qualquer forma ele não é problema meu.

Ando até o apê de Pedro e hesito ao encostar na maçaneta.

Respiro fundo e a vontade de sair correndo daqui só aumenta a cada segundo, não consigo segurar na maçaneta para abrir a porta.

Não quero... Não quero encarar o que está aí dentro, pois sei que vou ter que lidar com meus problemas de frente, quero fugir só mais um pouco... Minhas pernas se movem sozinha e caminho para fora do apartamento, ando sem rumo pela rua vazia e escura, sendo iluminada pelos postes e algumas casas com as luzes acesas.

E em uma delas a uma família jantando, meu coração dói a ver essa cena, como eu desejei tanto isso para mim, minha mãe e meu pai ao meu lado, mas as únicas vezes que eu me lembro deles ficarem ao meu lado era quando eu estava sendo um estorvo.

𝐓𝐞𝐧𝐭𝐚𝐧𝐝𝐨 𝐬𝐞𝐫 𝐚 𝐩𝐫𝐨𝐭𝐚𝐠𝐨𝐧𝐢𝐬𝐭𝐚Onde histórias criam vida. Descubra agora