Desço as escadas e Pedro está na sala, ele nunca demora a chegar quando ligo para ele. Não importa aonde esteja ele sempre atende minha ligação e vem correndo, mesmo que não precise. Nem mesmo sou sua irmã de verdade e ele faz isso por mim, o que nem meus pais fazem.
Ando até ele e o abraço, ele está quentinho, seu braço me envolve e eu afundo minha cara em sua camisa.
- Tá tudo bem pequena? - Sua voz está calma, ele apoia seu queixo em minha cabeça e passa sua mão em minhas costas - Faz um tempinho que eu não entro aqui. - Fico em silêncio e sei que Pedro está estranhando meu comportamento - Vamos para casa? - Ele se desprende do meu abraço e segura em meu cotovelo, me forçando a olhar em seus olhos.
Casa? Essa é minha casa. Uma casa vazia, moro em um lugar quente por fora, mas tão frio por dentro, talvez existam diferentes casas e eu fui a escolhida para a casa da solidão. Querendo ou não, continua sendo a minha casa, não importa se é pequena ou grande, me sinto sozinha de qualquer jeito, mesmo quando eles estão aqui. É como ir na praia, cheia de pessoas, só que eu estou no fundo do mar, vendo seus pés por cima de mim.
- Minha casa é essa Pedro - com o olhar vazio pronuncio essas palavras sem expressar nenhuma emoção, Pedro se prepara para dizer algo estupidamente emocionante ou consolador - Lembra da última vez que você esteve aqui? - Consigo ver a confusão em seu rosto. Ele deve estar se perguntando do por que eu querer tocar nesse assunto.
- Como eu poderia esquecer... - Sinto um nó na garganta e meu estômago revira, seu olhar está distante, ele deve está revivendo aquele dia - Nunca. Nunca mais quero te ver daquele jeito - Ele me puxa para um abraço quase me sufocando - Não... Não se permita ficar daquele jeito novamente pequena - Suas mãos estão tremendo e consigo sentir a dor em sua fala - Eu estou aqui, a uma ligação, eu venho correndo - ele não deveria ter vindo aqui, eu devo estar o atrapalhando, como meus pais sempre dizem para mim "problema", é isso que eu sou. - Você nunca vai ser um problema para mim pequena - Abro olhos e lágrimas escorrem - Por favor, me chame, não se sinta só. A solidão é um sentimento perverso, te faz acreditar que é um estorvo na vida das pessoas, faz acreditar que você é o problema - Soluço - mas para mim você nunca vai ser um problema. - ele me solta do abraço e levanta meu rosto - Viu? Nunca, nunca e nunca. Se você acredita nisso você só tá sendo uma idiota.
- Idiota...?
- Sim, uma idiota - ele volta a me envolver em seus braços e eu respiro fundo soltando o ar, descanso em seu abraço, me apoio ali, me apoio na única pessoa que não me ver como um problema. Eu sou uma idiota por achar que Pedro me veria dessa forma, entre todas as pessoas do mundo ele é o único que não me veria desse jeito, estou cansada de ser uma coisa ruim para as pessoas. - Ninguém aguenta tanto tempo só. Você se destrói ou destrói as pessoas em sua volta - Gabriel... Ele também se sente só, consigo ver isso na sua fortaleza de gelo, a que ele ergue para que ninguém o veja destruído, para que ninguém veja seu olhar carente... Babaca, ele me deixou ver, ele abaixou a guarda. Agora não consigo o tirar da minha cabeça, como eu o odeio...
- A Luna está em casa? - "em casa" - Só estou pergun...
- Não. Ela saiu. - Pedro me solta e segura em minhas mãos, fico envergonhada por ele ver meu rosto assim. - Quem te fez ficar assim novamente pequena? - Como que ele?... Ele me conhece melhor do que eu mesma. Sorri com pesar e quase posso ver meu olhar se quebrar, como digo para meu irmão que eu ainda não superei? Eu menti para ele, eu não... - Pequena... Não precisa falar se você não conseguir - Eu não consigo Pedro, eu não consigo. - Ok, vamos para casa - ele dá uma batidinha em meu ombro me confortando, sem eu dizer nada, sem eu falar uma única só palavra ele entendeu que eu não estava pronta para falar.
Amo ele, amo que ele me conheça e não me force a falar o que eu estou sentindo, obrigado, obrigado Pedro.
Pedro me leva até seu carro e vamos para seu apartamento em silêncio, chegando lá vou direto para o "meu" quarto, está do jeito que deixei. Me sento na poltrona e olho cada detalhe do quarto, é rosa com listras brancas, minha cama está com almofadas rosa e cinza, meu cobertor chadres... Do jeito que eu sonhei.
VOCÊ ESTÁ LENDO
𝐓𝐞𝐧𝐭𝐚𝐧𝐝𝐨 𝐬𝐞𝐫 𝐚 𝐩𝐫𝐨𝐭𝐚𝐠𝐨𝐧𝐢𝐬𝐭𝐚
RomanceCarol é uma adolescente de 16 anos, viciada em livros de romance como a maioria das garota. Ela deseja viver como nos livros, acreditando que um garoto vai oferecer o casaco por está frio, que vai dá flores ou até mesmo oferecer um guarda chuva. De...