Ao fim da tarde estavam as duas primas de conversa enquanto os restantes habitantes da casa faziam a habitual sesta.
- Não sei como o primo...
- Já são aí umas vinte vezes que falas do primo Rodolffo! - questionou Juliette.
- Eu não sabia que era proibido. Essa agora!
- Não é proibido, mas desde ontem não falas senão dele.
- Então vou falar de outra coisa. O tempo vai bom com este sol. Se não mudar vamos ter muito milho.
Juliette ria.
- De que te ris? Tu só gostas de conversar sobre milho, couves e tempo.
- Gosto muito, mas não te zangues rapariga.
- Às vezes não te entendo.
- Pronto. Não digo mais nada. Fala lá do rapaz à vontade.
- Não tenho nada a dizer. - disse Cristina com a cara emburrada.
- Tens cá um feitio, Juliette! Gostas de tirar qualquer um do sério. Haja paciência.
- Então diz lá o que ias falar do primo.
- Não quero falar mais dele. Vejo que não te agrada outras interessarem-se por ele seja qual for a razão.
- E de onde vem isso agora?
- É o que eu vejo. Pensas que eu possa me interessar...
- E porque não? É natural.
Natural é o que eu vejo desde que ele pisou aqui a primeira vez. Esta conversa só confirma as minhas suspeitas.- Que suspeitas?
- Que o primo Rodolffo não te é indiferente. Não tens que ter vergonha. Ele é um homem elegante, bonito e culto, espirituoso e afável. Esses sentimentos são normais.
E mediante tudo isto deixa-me aconselhar-te a usares de cautela. Não é prudente denunciares-te já. Sempre foste tímida, não sejas precipitada agora.
Juliette não queria falar demais. Da sua observação ao primo pode constactar que ele não tinha ficado muito impressionado com Cristina.
Cristina permaneceu calada perante estas afirmações da prima.
- E mais te digo, Cristina! São precisos anos para se conhecer uma pessoa. Os defeitos logo aparecem e eu posso dizer que encontrei muitos.
- Muitos?
- Sossega; nada que ele não perca se quiser.
- Julgas-me apaixonada por ele?
- Encantada é o termo certo.
- Pois eu digo-te que não.
- Tu agradaste-te pelo brilho dele. O verniz que dele emana é mentiroso. Deixa esse verniz estalar que verás o verdadeiro homem.
- Será que me enganei tanto?
- O tempo dar-me-á razão.
- Eu tenho a impressão que tu queres desviar o foco do primo para ti e por isso me dizes isso.
Ao perceber a mudança no semblante de Juliette, Cristina pediu desculpa e a conversa ficou por ali.
No dia seguinte Rodolffo voltou à quinta e desdobrava-se em elogios a Juliette enquanto Cristina era ignorada. Ela respondia sempre com o seu sentido irónico, mas isso não o demovia.
Combinaram o tal passeio à senhora da Assunção para dali a dois dias.
Cristina foi a primeira a acordar. Vestiu-se e correu ao quarto de Juliette.
