VI

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Durante os três dias seguintes, Rodolffo praticamente não deixou o quarto e a cama, tamanho foi o resfriado por conta do passeio com a fidalga e sua prima.

Cristina estava ansiosa para saber noticias e Juliette disfarçadamente tentava animá-la não deixando transparecer a angústia que lhe ia na alma.

Era véspera de Natal. Na cozinha da Quinta da tia Henriqueta ultimava-se a confecção das variadas iguarias para a festa.

Da quinta do Roseiral vieram dona Anastácia, Maria e Rodolffo para consoar. Era hábito e dona Henriqueta fazia questão que assim fosse este ano também já que todos os anos era assim.

Convidaram também o António. António era o professor da aldeia. Apesar de muito novo era muito estimado principalmente pelas crianças que ensinava.

Cristina ao ver Rodolffo chegar correu à cozinha a contar à prima.

- O António também veio.

- Que sorte a tua, teres dois ilustres cavalheirismo que inda hão-de fazer um duelo para ganhar a tua atenção.

- Que dizes prima? O António? Nem nunca ele se dirigiu a mim com um unico galanteio.

- O homem é tímido, Cristina! Eu sei que o teu coração pende para o outro lado, mas era uma ideia a considerar.

- Eu nunca o vi com esses olhos.

- Pois não. Só tens olhos para o primo Rodolffo

- Tem o quê para mim? Perguntou Rodolffo entrando na cozinha.
Eu quero ajudar estas duas donzelas.

- Ajudar só se for a Juliette, porque eu não me dou com essas tarefas.

- O que faz, Juliette?

- Estou a fritar as rabanadas.

- Eu coloco-lhe o açúcar e canela.

- Isso era tarefa do António. Óh Cristina, tu chama lá o António que me há-de dar uma mão.

- A minha não serve? Até nesta noite tem prazer em me humilhar. Vou dar uma volta pela quinta.

- Leve minha prima consigo!!

- Vou sózinho e só não regresso ao Roseiral por consideração à sua e à minha tia.

Juliette não respondeu e deu-se conta de que não tinha agido bem.
Continuou o que estava a fazer pois havia tanta comida para preparar.
Mais tarde ia desculpar-se com Rodolffo

Cristina viu quando Rodolffo saiu e foi atrás deles debaixo do olhar de António.

- Perdoe a minha prima, Rodolffo. Não deixemos que este episódio estrague a nossa noite. Estou aqui para o que precisar.

- Posso ser muito sincero consigo?

- Claro primo. Gosto de sinceridade.

- Acho que devia dar uma oportunidade ao coitado do António. Não vê como ele olha para si?

- O António? Ele é só amigo.

- Amigo!!!! Eu lhe garanto que da parte dele não é só amizade.

- Mas da minha é. O meu coração bate por outro. Não devia dize-lo. Uma pessoa de bem jamais diria estas coisas a um homem, mas o primo é diferente.

- Então somos dois tolos apaixonados pelas pessoas erradas.

Cristina sentiu as palavras dele perfurarem-lhe o coração até ao mais fundo do seu ser.
Pediu para regressar o que fizeram no mais profundo silêncio.



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