- Vem até ao meu quarto Cristina.
- O que queres prima?
- Conta-me de ti e do António.
- Contar o quê?
- O que falam, o que fazem. Saiem todos os dias!
- Ah, Juliette. Como não o descobri antes?
...
<<Foi no dia de Natal quando ele me convidou para um passeio até ao moinho.
O António é bom de conversa e as horas ao pé dele passam muito rápido.Caminhámos um bom bocado e já perto do moinho velho decidimos atravessar.
Ele ia à frente e eu atrás. Numa das pedras escorreguei e por sorte não fui na corrente.
António que tem bons reflexos, impediu que eu mergulhasse nas àguas frias, mas ainda me molhei até à cintura.Entramos no moinho velho e António cuidou logo de fazer uma fogueira para eu poder secar a roupa, mas comecei a ficar com muito frio.
- A roupa seca mais rápido se a tirar.
- Tirar a roupa? Na tua frente?
- Olhe! Enrole a manta na cintura e dou-lhe o meu casaco. Eu aguento bem só com a fogueira.
Cristina a principio não aceitou, mas o frio era tanto que não pensou muito. Retirou a saia, as coulotes, meias e sapatos e António improvisou um estendal onde pendurou as roupas junto à fogueira.
Cristina enrolou-se e cobriu-se com a manta. Estava desnuda da cintura par baixo.
- António, promete não se gabar por aí que viu as minhas pernas?
- Por quem me toma? Porque eu faria uma coisa dessas da mulher que amo?
- Ama?
- Acaso nunca desconfiou?
- Julguei que os seus sentimentos eram sobre a minha prima.
- A sua prima deve acertar-se com o cavalheiro Rodolffo.
- Eles detestam-se. Ela detesta-o.
- Do ódio nasce o amor, mas não estou aqui para falar deles e sim de nós. Se estiver de acordo eu irei pedir à sua mãe para cortejá-la.
E farei hoje mesmo quando regressarmos.E assim aconteceu, daí eles agora saírem para passear todos os dias.
Trocaram o primeiro beijo no dia seguinte ao sucedido, mas António era moço formado no seminário e não tentou nada além dos beijos.>>
- Ele não tentou mais nada?
- Nadinha. O António é cavalheiro. Agora diz-me: - Como vai a tua relação com o primo Rodolffo?
- Somos amigos. Também conversamos bastante.
- É de ti que ele gosta. Agora tenho certeza.
- E eu já olho para ele com outros olhos.
- Havemos de casar no mesmo dia. Eu com António e tu com Rodolffo.
- Casar? Não sejas precipitada! Ainda vai demorar para eu casar.
- Pois eu hei-de casar logo e ir para Lisboa. Foi o António que me garantiu.
