XVII

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Finalmente chegaram à aldeia.  A carruagem foi imediatamente rodeada por alguns populares que queriam ver a menina.  Juliette sorria e a todos mostrava a criança, mas logo Rodolffo se adiantou explicando que as duas estavam cansadas e precisavam descansar.

Já tinha chegado a notícia a casa de Henriqueta e Anastácia que acorreram a casa da fidalga.

Traziam alguns empregados carregados de pães, frutas e biscoitos assim como um faustoso jantar.

- Minha tia.  Isso é comida para um regimento!

- Eu receio que este tempo todo não te alimentaste condignamente.  Lá nas cidades as pessoas não comem, elas beliscam.

- A tia está a dizer que eu não fui homem para prover sustento para minha mulher e filha?

- Longe de mim tal pensamento,  mas não te esqueças que chegaste aqui enfermo.  Até agora ninguém descobriu de que maleitas sofrias por isso o meu receio por elas.

- Estou curado de todas as maleitas.  Acho que era só solidão e a sua sobrinha foi meu remédio.

- E Cristina, minha tia.  Como está?

- Não deve tardar aí.  Já lhe mandei recado a dizer que vinhas.
É tão linda a pequena.

- Carlota Filipa, tia Anastácia.

- Mas que nome tão pesado!  Devias ter homenageado a tua mãe Ermengarda ou a tua avó Felismina.

- Só não fiz para não desconsiderar a mãe e avó do Rodolffo. - respondeu Juliette sorrindo para o marido.

- Onde está a minha priminha? - Cristina chegou ofegante.

- Calma.  Não precisas correr porque não vamos sair daqui.

- Eu quero pegar nela.

Juliette ajeitou a filha no colo de Cristina que estava encantada.

- Tive tantas saudades tuas, Juliette.

- E eu de ti.  Senti falta das nossas conversas.

Os empregados da casa vieram também ver a criança e desejar felicidades.   Alguns traziam lembranças simples, mas não se demoravam na visita.

Juliette contava as aventuras dos meses passados no Porto enquanto Rodolffo oferecia um cálice de vinho do Porto a António.

- E vocês meu amigo?  Para quando um herdeiro?

- Ah Rodolffo!  Não creio que seja breve. Eu casei, mas é como se não o tivesse feito.

- Estás arrependido?

- Não.   Ao início era tudo tão perfeito, mas acredita ou não faz dois meses que sou rejeitado.

- Rejeitado?

- Sim.  Ela não permite que eu esteja no mesmo quarto e hoje eu durmo sozinho no quarto de hóspedes.

- E ela disse porquê?

- Não.   Eu pergunto é ela só me expulsa.  Nem se senta à mesa comigo nem deixa que lhe toque.

- Parece ser grave.  Ainda bem que a minha Juliette não tem esses fanicos.

- Sorte a tua.  E lá no Porto, como vai a sociedade?

- Um tédio.  Não via a hora de regressar.  Quem diria, eu, um menino da cidade ter saudades do campo.

Os dois regressaram para junto das mulheres e Rodolffo atreveu-se a beijar a esposa nos lábios para espanto das tias que o olharam com surpresa.

- E a prima Cristina quando presenteará a família com uma criança? - perguntou Rodolffo olhando para António.

- Quando Deus nosso senhor quiser.  Há coisas que não cabe a nós.

- Não cabe?  Como é que é?

- A hora em que ele tem que vir.  É a isso que me refiro.

- Pois eu tenho cá a impressão que não vai tardar. - disse Juliette olhando para uma Cristina envergonhada.

Esta não disse nada.  Apenas olhou para a prima e piscou o olho.  Juliette percebeu imediatamente que ela já estava de esperanças.   As duas cresceram juntas e conheciam-se como ninguém.

Juliette pediu licença para ir deitar a menina que estava impaciente.  Rodolffo era outro que só desejava que todos fossem embora.

Ó Juliette minha filha!  A Carlota é bem grandinha.   Uma bela criança sim senhora.  Nem parece que nasceu há tão pouco tempo.

A verdadeira idade de Carlota Filipa só os pais e Henriqueta sabiam.  Ela olhou para o casal e de seguida para Anastácia e de uma coisa tinha certeza.
O segredo morreria com ela.

FIM


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