Finalmente chegaram à aldeia. A carruagem foi imediatamente rodeada por alguns populares que queriam ver a menina. Juliette sorria e a todos mostrava a criança, mas logo Rodolffo se adiantou explicando que as duas estavam cansadas e precisavam descansar.
Já tinha chegado a notícia a casa de Henriqueta e Anastácia que acorreram a casa da fidalga.
Traziam alguns empregados carregados de pães, frutas e biscoitos assim como um faustoso jantar.
- Minha tia. Isso é comida para um regimento!
- Eu receio que este tempo todo não te alimentaste condignamente. Lá nas cidades as pessoas não comem, elas beliscam.
- A tia está a dizer que eu não fui homem para prover sustento para minha mulher e filha?
- Longe de mim tal pensamento, mas não te esqueças que chegaste aqui enfermo. Até agora ninguém descobriu de que maleitas sofrias por isso o meu receio por elas.
- Estou curado de todas as maleitas. Acho que era só solidão e a sua sobrinha foi meu remédio.
- E Cristina, minha tia. Como está?
- Não deve tardar aí. Já lhe mandei recado a dizer que vinhas.
É tão linda a pequena.- Carlota Filipa, tia Anastácia.
- Mas que nome tão pesado! Devias ter homenageado a tua mãe Ermengarda ou a tua avó Felismina.
- Só não fiz para não desconsiderar a mãe e avó do Rodolffo. - respondeu Juliette sorrindo para o marido.
- Onde está a minha priminha? - Cristina chegou ofegante.
- Calma. Não precisas correr porque não vamos sair daqui.
- Eu quero pegar nela.
Juliette ajeitou a filha no colo de Cristina que estava encantada.
- Tive tantas saudades tuas, Juliette.
- E eu de ti. Senti falta das nossas conversas.
Os empregados da casa vieram também ver a criança e desejar felicidades. Alguns traziam lembranças simples, mas não se demoravam na visita.
Juliette contava as aventuras dos meses passados no Porto enquanto Rodolffo oferecia um cálice de vinho do Porto a António.
- E vocês meu amigo? Para quando um herdeiro?
- Ah Rodolffo! Não creio que seja breve. Eu casei, mas é como se não o tivesse feito.
- Estás arrependido?
- Não. Ao início era tudo tão perfeito, mas acredita ou não faz dois meses que sou rejeitado.
- Rejeitado?
- Sim. Ela não permite que eu esteja no mesmo quarto e hoje eu durmo sozinho no quarto de hóspedes.
- E ela disse porquê?
- Não. Eu pergunto é ela só me expulsa. Nem se senta à mesa comigo nem deixa que lhe toque.
- Parece ser grave. Ainda bem que a minha Juliette não tem esses fanicos.
- Sorte a tua. E lá no Porto, como vai a sociedade?
- Um tédio. Não via a hora de regressar. Quem diria, eu, um menino da cidade ter saudades do campo.
Os dois regressaram para junto das mulheres e Rodolffo atreveu-se a beijar a esposa nos lábios para espanto das tias que o olharam com surpresa.
- E a prima Cristina quando presenteará a família com uma criança? - perguntou Rodolffo olhando para António.
- Quando Deus nosso senhor quiser. Há coisas que não cabe a nós.
- Não cabe? Como é que é?
- A hora em que ele tem que vir. É a isso que me refiro.
- Pois eu tenho cá a impressão que não vai tardar. - disse Juliette olhando para uma Cristina envergonhada.
Esta não disse nada. Apenas olhou para a prima e piscou o olho. Juliette percebeu imediatamente que ela já estava de esperanças. As duas cresceram juntas e conheciam-se como ninguém.
Juliette pediu licença para ir deitar a menina que estava impaciente. Rodolffo era outro que só desejava que todos fossem embora.
Ó Juliette minha filha! A Carlota é bem grandinha. Uma bela criança sim senhora. Nem parece que nasceu há tão pouco tempo.
A verdadeira idade de Carlota Filipa só os pais e Henriqueta sabiam. Ela olhou para o casal e de seguida para Anastácia e de uma coisa tinha certeza.
O segredo morreria com ela.FIM