VIII

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Cristina acordou bastante cedo na manhã de Natal e correu para o quarto de Juliette.   Esta ainda estava deitada e ela também se meteu debaixo dos cobertores felpudos.

- Melhorou da dor de cabeça?

- Sinto-me óptima hoje.

- Estou triste, mas não tanto como pensava estar.

- O que aconteceu?

- Ontem quando fui passear com o primo Rodolffo,  fiquei a saber que ele ama outra.

- Ele falou o nome?

- Não,  mas eu desconfio quem seja.  Eu pareço tola, mas sou  muito observadora.

- E como te sentes em relação a isso?
Parece que não deste muita importância.

- Doeu, mas ele foi sincero e isso eu aprecio num homem.

- É.  Não mandamos no coração.   E quem será a mulher por quem o coração dele bate?

- Por ti prima.  Se não fosse pela prima ele não teria ficado tão aborrecido ontem quando pediste ajuda ao António e recusaste a dele.

- Achas?

- Se fosse esse o caso, como te sentirias tu?

- Conformada.  Não posso obrigar ninguém a gostar de mim.   E fico feliz por ti.

- Não há nada entre nós dois.

- Porque não queres ou porque achas que me magoas?

- Pelos dois,  mas ainda ontem eras a jovem mais apaixonada da aldeia.

- Ó prima!  Tu sabes quantas  vezes já me apaixonei? É só aparecer um jovem novo que eu fico encantada.

- E depois perdes a oportunidade de olhares em volta e veres quem te quer bem.

- O que tu sabes que eu desconheço?

- Quem está sempre presente nos nossos passeios?

- O António.

- Quem não sai cá de casa?

- O António.
Olha que eu jurava que era por ti.

- Porque te convinha pensar assim para poderes cortejar os outros.

- Foi ele que falou?

- Não.   Foi o primo Rodolffo.   Ele é que percebeu tudo.

- Agora entendo a conversa dele ontem. - Anda, levanta-te que vamos à missa das 10.

- Vai lá que já vou ter contigo para almoçar.

Cristina saiu e Juliette deixou-se ficar deitada.  Aconchegou as mantas ao pescoço e sorriu ao pensar no que tinha acontecido na noite anterior.   Ainda sentia o gosto dos lábios dele e o coração estava apertadinho.  Abraçou-se e fechou os olhos imaginando como seria estar nos seus braços.

Levantou-se e vestiu-se saindo do quarto em direcção à sala.  Todos já estavam à mesa.

O cheiro do café e do pão acabado de cozer despertou-lhe o apetite.  O único lugar disponível era ao lado de Rodolffo e ela ali se sentou.

- Melhorou, prima Juliette?

- Estou melhor.  Obrigada.

Juliette esperava a sua vez de pegar no bule de café e enquanto isso mantinha as mãos apoiadas nas pernas.  Rodolffo baixou a dele e procurou o contacto com ela.  Apertou-lhe a mão disfarçadamente enquanto pegava mais um biscoito.

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