Cristina acordou bastante cedo na manhã de Natal e correu para o quarto de Juliette. Esta ainda estava deitada e ela também se meteu debaixo dos cobertores felpudos.
- Melhorou da dor de cabeça?
- Sinto-me óptima hoje.
- Estou triste, mas não tanto como pensava estar.
- O que aconteceu?
- Ontem quando fui passear com o primo Rodolffo, fiquei a saber que ele ama outra.
- Ele falou o nome?
- Não, mas eu desconfio quem seja. Eu pareço tola, mas sou muito observadora.
- E como te sentes em relação a isso?
Parece que não deste muita importância.- Doeu, mas ele foi sincero e isso eu aprecio num homem.
- É. Não mandamos no coração. E quem será a mulher por quem o coração dele bate?
- Por ti prima. Se não fosse pela prima ele não teria ficado tão aborrecido ontem quando pediste ajuda ao António e recusaste a dele.
- Achas?
- Se fosse esse o caso, como te sentirias tu?
- Conformada. Não posso obrigar ninguém a gostar de mim. E fico feliz por ti.
- Não há nada entre nós dois.
- Porque não queres ou porque achas que me magoas?
- Pelos dois, mas ainda ontem eras a jovem mais apaixonada da aldeia.
- Ó prima! Tu sabes quantas vezes já me apaixonei? É só aparecer um jovem novo que eu fico encantada.
- E depois perdes a oportunidade de olhares em volta e veres quem te quer bem.
- O que tu sabes que eu desconheço?
- Quem está sempre presente nos nossos passeios?
- O António.
- Quem não sai cá de casa?
- O António.
Olha que eu jurava que era por ti.- Porque te convinha pensar assim para poderes cortejar os outros.
- Foi ele que falou?
- Não. Foi o primo Rodolffo. Ele é que percebeu tudo.
- Agora entendo a conversa dele ontem. - Anda, levanta-te que vamos à missa das 10.
- Vai lá que já vou ter contigo para almoçar.
Cristina saiu e Juliette deixou-se ficar deitada. Aconchegou as mantas ao pescoço e sorriu ao pensar no que tinha acontecido na noite anterior. Ainda sentia o gosto dos lábios dele e o coração estava apertadinho. Abraçou-se e fechou os olhos imaginando como seria estar nos seus braços.
Levantou-se e vestiu-se saindo do quarto em direcção à sala. Todos já estavam à mesa.
O cheiro do café e do pão acabado de cozer despertou-lhe o apetite. O único lugar disponível era ao lado de Rodolffo e ela ali se sentou.
- Melhorou, prima Juliette?
- Estou melhor. Obrigada.
Juliette esperava a sua vez de pegar no bule de café e enquanto isso mantinha as mãos apoiadas nas pernas. Rodolffo baixou a dele e procurou o contacto com ela. Apertou-lhe a mão disfarçadamente enquanto pegava mais um biscoito.
