Prefácio

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Do alto ponto da Pedra da Gávea, um menino sonhador pensava no peso dos seus desejos. Walt Disney certa vez disse: “Se você pode sonhar, você pode realizar”.
Para este garoto no alto de seus 22 anos, isso era mais do que uma frase motivacional — era um chamado.

Homens constroem impérios, mas crianças se bastam com castelinhos de areia. Não se satisfazia mais com lonas coloridas e construções que o mar destruía. Tudo que a vida poderia oferecer, buscava ter.

— Ei, seus irmãos estão te esperando.

Quem era um desejo impossível se materializou e caminhou até o terreno perigoso para abraçá-lo. Ele sentiu o calor reconfortante do abraço e se permitiu descansar, mesmo que por um instante.

— Estou indo — respondeu.

— O que está pensando? — Ela perguntou, suavemente.

— Olha essa vista, Raquel. — Girou e foi a sua vez de prendê-la nos braços. — Pense em tudo que viveremos aqui.

— Você é um sonhador.

Beijou as bochechas coloridas, reconhecendo o que mais admirava nele. O olhar otimista e o jeito esperançoso a atraíram quase que imediatamente.

— Prometo que seremos muito felizes.

Abandonou a vista e concentrou-se totalmente nela.

— Sei que seremos. — Se aconchegou no aperto. Ainda usava o colete roxo brilhante e as luvas brancas. — O Rio de Janeiro será a casa da nossa filha. — Direcionou o olhar para a barriga crescente.

— Sua família está feliz em me receber?

Colocou as mãos no estômago dela e pensou na preocupação que cercava seus pensamentos.

— Meu pai te ama. Ele até deixou que usasse o sobrenome dele.

— Raquel, não vê quão humilhante é isso? — Se afastou dela e do carinho. Sentado na parte mais perigosa da pedra, pegou o único objeto de valor que possuía, a aliança de casamento. — Sou tão desprezível que nem tenho sobrenome.

— O que acha de Alonso?

Ela ignorou a tristeza e o desespero dele para dar uma sugestão concreta.

— De onde tirou este nome?

Raquel mostrou a embalagem de um biscoito que tinha encontrado por ali. Riram juntos, entusiasmados pela simplicidade do momento.

— Acha bonito? — Ele perguntou.

— Pedro Alonso. — Disse em voz alta. — Acho que será um grande homem. — Fitou o semblante preocupado e beijou apaixonadamente.  — Os Alonsos.

Repetiu o nome, ouvindo o som, enquanto um sorriso se formava. Sonhos. Promessas.
 
— O Rio de Janeiro será nosso.

Raquel declarou a profecia sem saber com exatidão do futuro.

Peças escolhidas, os Alonsos entram no tabuleiro de xadrez. Rei? Rainha? Talvez fosse cedo demais para dizer. No entanto, uma coisa era certa: eles nunca seriam apenas peões.

Os AlonsosOnde histórias criam vida. Descubra agora