𝑶 𝑪𝒐𝒏𝒔𝒆𝒍𝒉𝒐 𝒅𝒐𝒔 𝑺𝒐𝒃𝒓𝒆𝒗𝒊𝒗𝒆𝒏𝒕𝒆𝒔 (38)

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O retorno ao vilarejo foi silencioso, mas repleto de tensão. Helena, Gabriel e Sofia estavam exaustos após o confronto com as sombras, mas a vitória ainda pesava em seus ombros. Sabiam que o desafio que enfrentavam estava apenas começando. Quando chegaram à praça, os poucos moradores que restavam começaram a sair de suas casas, ainda cautelosos.

O velho que haviam encontrado antes os esperava, seus olhos fixos em Helena, como se tivesse visto algo além de sua compreensão.

— Vocês conseguiram? — perguntou ele, com a voz vacilante.

Gabriel assentiu.

— As sombras foram derrotadas, mas não sabemos por quanto tempo. Precisamos de mais informações, de aliados.

Helena notou a reação de medo nas expressões dos moradores ao ouvirem as palavras "sombras". Eles haviam vivido na escuridão por tempo demais, e o pavor ainda os consumia. Ela deu um passo à frente, sua voz firme e cheia de compaixão.

— Sabemos que vocês têm medo, mas não podemos mais viver nas sombras. Precisamos nos unir, lutar juntos, ou essa escuridão vai se espalhar para além deste vilarejo. Nós somos a única esperança de impedir que isso aconteça.

Um silêncio pesado se seguiu, até que uma mulher, com uma criança pequena nos braços, deu um passo adiante.

— O que podemos fazer? — perguntou, sua voz embargada pelo medo.

Sofia foi a primeira a responder.

— Precisamos de informações. Vocês conhecem este lugar melhor do que ninguém. Já viram algo antes? Algo que explique por que esses rituais estão acontecendo aqui?

O velho olhou para o chão, como se relutasse em compartilhar algo.

— Há histórias... — começou ele, com a voz fraca. — Histórias antigas sobre uma entidade que vive nas sombras. Dizem que, há muitos anos, nossos ancestrais fizeram um pacto com essa força para proteger nossas terras. Mas tudo tem um preço, e agora estamos pagando.

Helena franziu o cenho.

— Um pacto? Como podemos desfazer isso?

O velho sacudiu a cabeça.

— Não sei se pode ser desfeito. Mas as histórias falam de um lugar. Uma caverna sagrada nas montanhas, onde o pacto foi selado. Dizem que quem entrar lá pode encontrar as respostas… ou ser consumido pela escuridão.

Helena trocou um olhar com Gabriel e Sofia. A resposta que procuravam poderia estar naquela caverna, mas o risco era evidente. Mesmo assim, não tinham outra escolha.

— Precisamos ir até lá — disse Gabriel, determinado. — Não podemos continuar às cegas.

O velho os olhou com apreensão.

— A caverna está distante, e o caminho é perigoso. Muitos que tentaram nunca voltaram.

Sofia cruzou os braços, sua postura de desafio.

— Não temos outra opção. Se há uma chance de parar isso, vamos tomar esse risco.

Antes que pudessem discutir mais, um homem alto, com a barba desgrenhada e um olhar desconfiado, saiu da multidão. Ele parecia mais robusto e determinado do que os outros.

— Se vocês estão indo, eu vou com vocês — disse ele, a voz firme. — Eu conheço o caminho para a caverna. Meu nome é Darius.

Gabriel o observou por um momento, avaliando se podia confiar nele, mas o tempo estava contra eles.

— Muito bem, Darius. Você nos guia até a caverna, mas não pense que será fácil.

Darius assentiu.

— Sei o que está em jogo.

Na manhã seguinte, o grupo estava pronto para partir. Além de Helena, Gabriel, Sofia e Darius, mais dois moradores do vilarejo decidiram se juntar a eles: Marla, uma jovem caçadora que conhecia bem as montanhas, e Elian, um curandeiro experiente.

— Não podemos ficar parados e esperar pelo fim — disse Marla, enquanto ajustava seu arco nas costas. — Se há algo que podemos fazer, vamos fazer.

Elian, mais velho e calmo, apenas murmurou: — Vamos ver o que o destino nos reserva.

A subida pelas montanhas foi lenta e árdua. As trilhas eram estreitas e cobertas de neblina, tornando o caminho difícil de navegar. Darius liderava o grupo, sua expressão sempre focada, como se soubesse exatamente para onde estavam indo.

— O que sabe sobre a caverna? — perguntou Helena, enquanto eles paravam para descansar brevemente.

— Apenas o que meu pai me contou quando eu era criança — respondeu Darius. — Ele dizia que era um lugar sagrado, mas também amaldiçoado. Que aqueles que buscavam poder lá dentro acabavam perdendo a alma.

Sofia arqueou uma sobrancelha.

— E você ainda quer nos levar lá?

Darius deu de ombros.

— O que temos a perder neste ponto? Estamos lutando por nossas vidas.

A escuridão começou a cair quando finalmente chegaram a uma abertura rochosa no meio das montanhas. A entrada da caverna era imponente, cercada por pedras pontiagudas que pareciam dentes, prontos para devorar qualquer um que ousasse entrar.

— É aqui — disse Darius, parando abruptamente.

Helena olhou para a caverna, sentindo um peso no ar, como se algo a observasse. Havia uma presença ali, antiga e poderosa. Ela sabia que, uma vez dentro, não haveria volta.

— Estamos prontos? — perguntou Gabriel, segurando a espada com firmeza.

Helena respirou fundo, seus pensamentos correndo. O que os aguardava dentro daquela caverna? Mais uma vez, as palavras de sua avó vieram à tona: "A verdadeira força vem de dentro."

— Vamos — disse ela, determinada. — Não podemos hesitar agora.

O grupo entrou na caverna, seus passos ecoando nas paredes rochosas. A escuridão os envolvia como um véu, e o ar ali dentro era denso, quase sufocante. Helena acendeu uma tocha, iluminando o caminho à frente, mas a sensação de estar sendo observada continuava.

Ao longo do caminho, gravuras antigas nas paredes começaram a surgir à luz da tocha. Eram imagens de figuras sombrias, sempre em conflito com seres de luz. Helena sentiu um arrepio. Seria esse o pacto que o velho mencionara? Um equilíbrio entre luz e sombra?

— Cuidado! — gritou Sofia, interrompendo os pensamentos de Helena.

Um tremor percorreu o chão da caverna, e uma rachadura se abriu no solo, dividindo o caminho. O grupo parou abruptamente, encarando o novo obstáculo.

— Parece que a caverna não quer nos deixar passar — disse Marla, com um meio sorriso, apesar da tensão.

Helena olhou para a rachadura e depois para os outros.

— Não vamos deixar que isso nos pare. Estamos mais perto das respostas do que nunca.

Enquanto o grupo tentava encontrar um caminho ao redor do obstáculo, Helena sentia o peso da responsabilidade crescer. A cada passo, a escuridão dentro da caverna parecia mais viva, mais consciente. Sabia que algo aguardava por eles nas profundezas, algo que testaria não apenas sua força, mas também sua fé em si mesmos.

E quando o verdadeiro desafio chegasse, eles teriam que estar prontos.

Sombras Do PassadoOnde histórias criam vida. Descubra agora