𝑶 𝑪𝒐𝒏𝒇𝒓𝒐𝒏𝒕𝒐 𝑭𝒊𝒏𝒂𝒍 (28)

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A noite caiu sobre Eldridge como um manto pesado e sufocante, enquanto Helena caminhava em direção à floresta, onde sabia que Gabriel estaria. Seu coração batia rápido, e seus pensamentos estavam turvos com as revelações que Sofia havia compartilhado mais cedo. As peças do quebra-cabeça que ela e Gabriel montaram ao longo das últimas semanas agora faziam sentido, mas o que Helena não poderia ter previsto era a profundidade da traição que aguardava.

O vento assobiava pelas árvores altas e retorcidas, como se até a natureza estivesse ciente da tensão que se aproximava. No centro de uma clareira, Gabriel estava à espera, sua silhueta parcialmente iluminada pela lua crescente. Ele parecia abatido, mas seus olhos ainda mantinham o brilho intenso de quem esconde segredos há muito tempo.

— Sabia que você viria — disse Gabriel, sua voz grave cortando o silêncio da noite.

Helena parou a alguns passos de distância, seu corpo rígido com a mistura de raiva e desespero. Ela segurava o amuleto da avó firmemente em suas mãos, um lembrete constante de tudo que havia sido perdido — e tudo que estava em jogo.

— Você mentiu para mim — disse Helena, sua voz trêmula, mas cheia de determinação. — Todo esse tempo, você sabia o que estava acontecendo aqui. Sabia sobre o ritual, sobre as mortes... e mesmo assim, me deixou acreditar que estava me ajudando.

Gabriel baixou os olhos por um momento, como se o peso de suas ações finalmente o estivesse alcançando.

— Eu nunca quis que as coisas chegassem a esse ponto — ele respondeu, dando um passo em direção a ela. — Mas você precisa entender, Helena. Eu tentei te proteger. Se você soubesse a verdade desde o começo, teria sido muito mais perigoso para você.

Helena riu, um som amargo que reverberou entre as árvores.

— Me proteger? — Ela sacudiu a cabeça, incrédula. — Você me envolveu nisso desde o início! Eu estava disposta a confiar em você, Gabriel. Mas tudo o que você fez foi me enganar.

O silêncio se estendeu entre eles por um momento. Helena sentiu o amuleto pulsar em sua mão, como se o espírito de sua avó estivesse tentando guiá-la. Sua avó sabia o que estava em jogo, e agora era o momento de Helena fazer o mesmo.

— Você é parte disso, não é? — Helena continuou, sua voz mais firme agora. — Parte do círculo de anciãos que mantém o ritual vivo. Foi por isso que você tentou me impedir de continuar a investigação, não foi?

Gabriel hesitou antes de responder, o que já era resposta suficiente. Ele olhou para ela com uma expressão de dor, mas também de resignação.

— Eu sou parte disso, sim — ele admitiu, a voz baixa. — Minha família faz parte desse ciclo há gerações. Mas eu nunca quis que você se envolvesse. Eu pensei que poderia te proteger, te manter longe de tudo... mas falhei.

Helena deu um passo à frente, sua raiva agora mesclada com um profundo senso de traição.

— E as pessoas que morreram? — Ela sussurrou, sentindo as lágrimas queimarem em seus olhos. — Minha avó, nossos amigos... Tudo isso foi por causa desse maldito ritual?

Gabriel fechou os olhos por um momento, como se sentisse o peso de cada vida perdida.

— O ritual é antigo, Helena — ele disse, com uma tristeza palpável em sua voz. — É maior do que qualquer um de nós. Ele foi criado para proteger a cidade, mas algo deu errado ao longo dos anos. Eu tentei parar, tentei encontrar uma maneira de quebrar o ciclo, mas... não é tão simples.

Helena ficou imóvel, sentindo um vazio profundo se abrir dentro de si. A dor da traição era quase insuportável, mas ao mesmo tempo, ela sabia que a escolha que Gabriel havia feito era complexa. Não se tratava apenas de bem contra mal, mas de sobrevivência, de um ciclo sombrio que havia enraizado em Eldridge há gerações.

— Então, o que fazemos agora? — Perguntou Helena, sua voz mais suave, mas ainda firme. — Deixamos isso continuar? Mais pessoas precisam morrer para que essa cidade sobreviva?

Gabriel balançou a cabeça, os olhos cheios de tristeza.

— Não... não mais. Eu te trouxe aqui hoje porque sei que juntos, talvez possamos encontrar um jeito de acabar com isso. Eu não sei como, mas preciso que você confie em mim uma última vez.

Helena olhou para ele, a dor e a raiva ainda presentes, mas algo dentro dela também compreendia o desespero de Gabriel. Ele estava preso, assim como ela. Ambos eram apenas peças em um jogo muito maior.

Ela respirou fundo, sentindo o peso do amuleto mais uma vez em sua mão.

— Eu vou te ajudar, Gabriel — ela disse, com determinação renovada. — Mas, se me enganar de novo, eu mesma vou acabar com tudo isso, e não vai sobrar nada de você ou da sua família.

Gabriel assentiu, aceitando sua condição. Ele sabia que a confiança entre eles estava abalada, mas, no fundo, sabia que Helena era sua única chance de romper o ciclo que havia amaldiçoado sua vida e a cidade.

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