𝑨 𝑫𝒆𝒄𝒊𝒔ã𝒐 (29)

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Helena sentia o peso de cada respiração, como se o ar ao seu redor estivesse impregnado pela escuridão crescente de Eldridge. As revelações da noite anterior ainda ecoavam em sua mente — Gabriel havia mentido. Os segredos que ele escondeu não eram meros detalhes do passado, mas o cerne de tudo que estava acontecendo. O ritual, as mortes, o sofrimento. Gabriel estava profundamente envolvido.

Ela caminhava pela casa, cujos corredores haviam se tornado testemunhas silenciosas de seu tormento. Nas mãos, o amuleto que havia pertencido à sua avó, agora brilhando fracamente sob a luz fraca do crepúsculo. Sentia-se atraída para ele, como se uma força invisível a puxasse para continuar a investigação e desvendar a verdade por trás do ritual sombrio que ameaçava a cidade. Mas, ao mesmo tempo, sabia que quanto mais se aprofundasse, mais colocava em risco aqueles que amava — e, acima de tudo, Gabriel.

Um som suave, quase inaudível, a trouxe de volta à realidade. Helena virou-se rapidamente e encontrou Sofia à porta. Sua nova amiga tinha os olhos cheios de preocupação.

— Você não pode continuar assim, Helena — Sofia murmurou. — Isso vai te destruir... e a todos ao seu redor.

Helena suspirou, sentindo o peso das palavras de Sofia se misturar ao seu próprio conflito interno. Tudo o que havia descoberto até agora parecia levá-la a um ponto sem retorno. Se continuasse, enfrentaria forças que mal compreendia. Mas, se desistisse, as mortes continuariam, e mais pessoas poderiam ser levadas.

— Eu sei o que está em jogo — disse Helena, sua voz firme, mas carregada de dor. — Mas, se eu parar agora, toda essa dor terá sido em vão.

Sofia deu um passo à frente, com os olhos suplicantes.

— E Gabriel? — Ela perguntou, hesitante. — Você confia nele depois de tudo?

Helena fechou os olhos, as lembranças da última conversa com Gabriel invadindo sua mente. Ele havia confessado que sua família era parte dos anciãos que guardavam o segredo do ritual, mas insistiu que nunca quis envolvê-la. Ele jurou que tentava protegê-la, mas as palavras agora pareciam vazias. A traição ainda latejava em seu coração.

— Eu não sei — admitiu, sua voz frágil. — Mas sei que preciso decidir. Se continuo ou se paro antes que mais vidas sejam destruídas.

Um silêncio denso se instalou entre elas. O vento sussurrava através das janelas da casa, como se a própria cidade estivesse esperando sua escolha. Helena sabia que não podia hesitar por mais tempo. Era o momento de decidir. O amuleto em suas mãos parecia vibrar, como se ecoasse a urgência de seu destino.

De repente, um pensamento a golpeou: se parasse, nunca saberia a verdade sobre a morte de sua avó. Aquela sombra que pairava sobre sua família, aquele mistério que havia consumido sua vida desde que retornara a Eldridge, nunca seria resolvido. Mas se seguisse em frente, poderia não ser apenas a vida dela que estivesse em perigo, mas a de todos ao seu redor — Sofia, Gabriel, e até mesmo os moradores da cidade que ainda estavam vivos.

Com o coração pesado, Helena finalmente encontrou sua resposta.

— Vou continuar — murmurou, mais para si mesma do que para Sofia. — Preciso terminar o que comecei, mesmo que isso me destrua.

Sofia não respondeu, mas seus olhos brilharam com um misto de medo e respeito. Sem mais palavras, ela se virou e saiu, deixando Helena sozinha com sua decisão.

Enquanto a escuridão se aprofundava do lado de fora, Helena apertou o amuleto com força. Não havia mais volta.

Sombras Do PassadoOnde histórias criam vida. Descubra agora