𝑮𝒖𝒂𝒓𝒅𝒊ã𝒐 𝒅𝒂 𝑪𝒂𝒗𝒆𝒓𝒏𝒂 (39)

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O eco dos passos de Helena e de seu grupo reverberava pelas paredes da caverna, enquanto eles seguiam em silêncio, atentos a qualquer sinal de perigo. A rachadura no chão havia sido apenas o primeiro obstáculo; a sensação de que algo os observava continuava a pesar sobre todos, como se a própria escuridão dentro da caverna estivesse viva.

— Estamos chegando perto — sussurrou Darius, seus olhos fixos nas paredes à frente, onde as gravuras antigas se tornavam mais detalhadas.

Helena se aproximou das gravuras. Elas retratavam uma figura envolta em sombras, cercada por pessoas ajoelhadas em adoração. Ao lado, um círculo de luz parecia surgir da terra, envolto por raios e símbolos estranhos.

— Isso deve ser o pacto — disse Gabriel, com um toque na ombreira de Helena. — A união entre luz e sombra.

Sofia assentiu, observando as imagens atentamente.

— Mas essas gravuras também mostram conflito. Talvez o equilíbrio tenha se rompido.

Helena tocou uma das figuras com os dedos, sentindo a aspereza da pedra. "Se o equilíbrio foi quebrado, será que podemos restaurá-lo?", pensou, enquanto uma dúvida incômoda se enraizava em sua mente. Não havia garantias do que encontrariam mais à frente.

De repente, o silêncio da caverna foi rompido por um som grave, um rugido profundo que fez as pedras tremerem. Todos se entreolharam, a tensão aumentando.

— O que foi isso? — perguntou Marla, com a voz carregada de preocupação.

— Seja o que for, está vindo de dentro — respondeu Darius, estreitando os olhos. — Precisamos continuar.

Com cautela, o grupo avançou. A caverna se alargou em um vasto salão subterrâneo, o teto tão alto que a luz da tocha de Helena mal o alcançava. No centro, uma figura imponente os aguardava. Um ser colossal, feito de rocha e sombras, emergiu da escuridão, seus olhos brilhando com uma luz avermelhada. Ele se ergueu como um guardião das profundezas, protegendo o que quer que estivesse além.

— O Guardião da Caverna — murmurou Elian, o curandeiro. — As histórias dizem que ele protege o pacto.

Helena deu um passo à frente, a tocha tremendo em sua mão.

— Precisamos passar. O pacto tem que ser restaurado — disse ela, a voz firme, mas com uma pontada de incerteza.

O Guardião rugiu novamente, sua voz profunda como trovão. Ele deu um passo à frente, e a terra tremeu sob seus pés. Não havia dúvidas de que ele não deixaria o grupo passar sem lutar.

Gabriel sacou sua espada, e Sofia preparou uma flecha em seu arco.

— Helena, o que fazemos? — perguntou Gabriel, olhando-a com expectativa.

Helena sentiu o peso da responsabilidade sobre seus ombros. Sabia que a força bruta não seria suficiente para derrotar uma criatura tão poderosa. "O que as gravuras significam?", ela pensou, desesperadamente buscando uma resposta. Algo sobre o equilíbrio, sobre a união entre luz e sombra.

— Esperem! — disse ela, estendendo a mão para parar Gabriel e Sofia. — Acho que não podemos simplesmente lutar contra ele. Precisamos entender o que ele representa.

Darius, impaciente, deu um passo à frente.

— Não temos tempo para enigmas! Ele vai nos esmagar!

Helena olhou para a criatura, observando sua forma. Era parte rocha, parte sombra, como se fosse a personificação do pacto entre luz e escuridão. Ela se lembrou das palavras de sua avó, sobre como a verdadeira força vinha de aceitar ambas as partes de si mesma.

— Ele é o guardião do pacto. Se o equilíbrio entre luz e sombra está quebrado, talvez ele esteja aqui para testar nossa compreensão — disse Helena, sua voz ficando mais confiante. — Não podemos apenas destruí-lo. Precisamos restaurar o equilíbrio.

Sofia olhou para Helena, surpresa.

— E como vamos fazer isso?

Helena fechou os olhos por um momento, respirando profundamente. Ela sentiu a energia dentro de si, a luz que havia despertado durante o confronto com as sombras, mas também a escuridão, o medo e a dor que carregava. Ambos faziam parte dela. Quando abriu os olhos, caminhou lentamente até o Guardião.

— Eu aceito a escuridão, assim como aceito a luz — disse ela, sua voz ecoando pela caverna. — Ambas fazem parte de mim, e é só assim que podemos seguir em frente.

A criatura pareceu hesitar por um momento, seus olhos avermelhados piscando. O chão tremeu levemente sob seus pés, mas Helena não recuou.

— Nós não estamos aqui para destruir o que protege. Estamos aqui para restaurar o que foi perdido — continuou Helena.

O Guardião se moveu para frente, sua forma colossal inclinando-se sobre ela. Todos no grupo prenderam a respiração, esperando pelo pior. Mas, em vez de atacar, o Guardião estendeu uma das mãos gigantescas para Helena. No centro de sua palma, uma esfera de luz e sombra pulsava, como se fosse o próprio coração do pacto.

Helena, sem hesitar, colocou suas mãos sobre a esfera. Uma onda de energia percorreu seu corpo, e por um breve momento, ela sentiu como se estivesse flutuando entre dois mundos: um de luz radiante e outro de sombras profundas. Mas, ao invés de temer, ela se permitiu sentir ambas as forças, entendendo que uma não podia existir sem a outra.

De repente, o Guardião recuou, sua forma dissolvendo-se lentamente até que nada restasse além da esfera pulsante flutuando no ar. Helena olhou para o objeto, ciente de que aquele era o coração do pacto, a chave para restaurar o equilíbrio em Eldridge.

— Conseguimos? — perguntou Gabriel, abaixando sua espada, ainda incerto.

Helena assentiu, segurando a esfera com cuidado.

— Ainda não acabou, mas estamos no caminho certo.

Com a esfera nas mãos, o grupo se preparou para sair da caverna. Mas Helena sabia que o verdadeiro desafio ainda estava por vir. Restaurar o pacto seria apenas o primeiro passo em uma luta muito maior que aguardava por eles.

Enquanto deixavam o salão subterrâneo, Helena olhou para trás uma última vez. A caverna estava em silêncio, mas algo dizia a ela que esse era apenas o início de uma nova fase em sua jornada. O Guardião havia desaparecido, mas o que ele representava ainda estava muito vivo — tanto dentro dela quanto no mundo lá fora.

Sombras Do PassadoOnde histórias criam vida. Descubra agora