𝑶 𝒓𝒆𝒕𝒐𝒓𝒏𝒐 (1)

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Helena ajustou o retrovisor do carro e olhou uma última vez para a cidade que deixara para trás anos atrás. As ruas ainda pareciam familiares, mas o peso das memórias a fez hesitar. A pequena cidade de Eldridge sempre teve seu charme, mas também suas sombras, e agora, após tanto tempo, ela estava de volta.

Enquanto dirigia pelas ruas pavimentadas, lembranças de sua infância surgiam, misturadas com a dor de um passado que ela preferia esquecer. A casa da família estava no final da rua, envolta por árvores altas que pareciam guardiãs de segredos. Com um suspiro, estacionou em frente e saiu do carro.

O cheiro do ar fresco a envolveu, mas algo na atmosfera parecia diferente. Uma sensação inquietante a acompanhava, como se os próprios muros da casa estivessem esperando por ela. Helena caminhou até a porta, hesitante. O som da chave na fechadura ecoou no silêncio.

Dentro, a casa estava como ela lembrava: paredes adornadas com fotos antigas, móveis cobertos por lençóis brancos. Mas havia algo que a incomodava. A sala parecia carregada, como se os objetos a observassem.

Enquanto explorava os cômodos, Helena encontrou um álbum de fotos empoeirado. Folheou as páginas, relembrando momentos felizes ao lado da família. Mas em cada sorriso, ela também via uma sombra, um eco do que estava por vir. A perda de sua avó havia deixado marcas profundas, e as lembranças se tornavam mais pesadas a cada dia.

Um toque suave na janela a fez se virar. Era um vento leve, mas parecia sussurrar palavras que ela não conseguia entender. Helena fechou os olhos por um instante, tentando afastar a sensação estranha que a envolvia.

Decidida a explorar mais, saiu para o quintal. O espaço estava tomado pelo mato, mas ainda podia ver onde havia brincado com as amigas. Na esquina, a velha árvore parecia mais imponente, como se estivesse guardando segredos. Enquanto a observava, notou uma figura se aproximando.

Era Gabriel, um amigo de infância. Seu olhar era intenso, e havia algo diferente nele. “Helena!” ele exclamou, um sorriso brotando em seu rosto. “Você voltou!”

“Oi, Gabriel,” ela respondeu, sentindo um misto de alegria e nervosismo. “É bom te ver.”

Ele olhou ao redor, e a expressão em seu rosto mudou. “Essa cidade… ela muda, mas não muda, você sabe? O que te trouxe de volta?”

“Só precisava de um tempo para mim,” disse Helena, sem se aprofundar. “E… eu queria entender melhor o que aconteceu com a minha avó.”

Gabriel assentiu, o sorriso desaparecendo. “Ainda há muitas histórias não contadas sobre ela. Algumas pessoas preferem esquecer. Outras… não conseguem.”

A conversa foi interrompida por um barulho vindo do interior da casa. Helena se virou, o coração acelerado. “O que foi isso?”

“Não sei. Mas parece que você não é a única que voltou,” ele respondeu, com uma expressão preocupada.

Com um impulso de coragem, Helena decidiu investigar. “Vamos lá,” disse, levando Gabriel junto. Ao entrarem, o ambiente parecia mais pesado. As sombras dançavam nas paredes, e o silêncio era quase ensurdecedor.

Enquanto caminhavam, Helena sentiu que os ecos do passado estavam começando a se misturar com algo mais. Algo que não se via, mas que estava prestes a ser revelado. Ela sabia que sua volta à Eldridge não seria apenas um reencontro, mas o início de uma jornada sombria que mudaria tudo.

Assim, o primeiro dia de seu retorno se transformou em um convite para explorar não só sua história, mas também os segredos que a cidade guardava.

Sombras Do PassadoOnde histórias criam vida. Descubra agora