Sombras Do Passado

𝑶 𝑹𝒊𝒕𝒖𝒂𝒍 𝒄𝒐𝒎𝒆ç𝒂 (41)

A praça do vilarejo estava em completa agitação. As pessoas se moviam rapidamente, preparando o local para o ritual que restauraria o pacto. A luz emanada da esfera continuava a brilhar na pedra sagrada, enchendo o ar com uma energia vibrante, mas instável. Helena observava tudo atentamente, sabendo que cada detalhe poderia determinar o sucesso ou o fracasso da cerimônia.

Gabriel, ao lado de Helena, ajudava a organizar os moradores. Muitos ainda estavam nervosos, suas vozes trêmulas enquanto discutiam o que precisavam fazer. Sofia, com sua calma usual, conversava com pequenos grupos, oferecendo palavras de encorajamento.

— Eles estão começando a acreditar — disse ela, ao se aproximar de Helena. — Mas ainda há muita incerteza. Não podemos falhar.

Helena olhou para a pedra sagrada, onde a esfera pulsava em um ritmo constante. Ela podia sentir o poder contido nela, mas sabia que era volátil. Se o ritual não fosse conduzido corretamente, toda a energia acumulada poderia se voltar contra eles.

— Temos que ser rápidos — disse Helena, com a voz firme. — A tempestade está se aproximando, e o desequilíbrio está se intensificando.

O céu acima deles estava cada vez mais carregado. Nuvens escuras giravam em torno do vilarejo como uma coroa sinistra, e raios silenciosos cortavam o ar. A própria natureza parecia estar reagindo ao caos do pacto rompido.

Marla se aproximou apressada, seu semblante preocupado.

— As pedras de proteção estão prontas, mas ainda precisamos de mais ajuda para organizar as oferendas. Se as coisas não estiverem no lugar certo, o ritual pode falhar.

Helena assentiu.

— Deixe-me ajudar com isso.

Enquanto ela seguia Marla até o centro do vilarejo, Gabriel ficou para trás, ajudando a garantir que os moradores estivessem posicionados corretamente ao redor da praça. Era um trabalho meticuloso, e o clima crescente de tensão não ajudava. Todos estavam cientes de que o tempo estava se esgotando.

Elian, o curandeiro, estava no centro da praça, preparando os itens sagrados que seriam usados durante o ritual. Ele segurava uma bolsa de ervas e pequenos objetos brilhantes, símbolos antigos que, segundo ele, eram essenciais para canalizar a energia da esfera.

— Está tudo quase pronto — disse Elian quando Helena se aproximou. — Mas precisamos de um foco de energia para estabilizar o fluxo entre a luz e a sombra. Sem isso, a força liberada pode ser incontrolável.

Helena franziu a testa.

— Como encontramos esse foco?

Elian a encarou, seus olhos cansados, mas firmes.

— Esse foco deve vir de dentro de nós. Daqueles que compreendem o equilíbrio. Você... e outros como você, que sentiram tanto a luz quanto a escuridão. Precisamos que vocês sejam o canal.

Helena sentiu o peso das palavras de Elian. Ela sabia que ele estava certo. A energia que fluía do pacto precisava de uma âncora — e essa âncora só poderia ser fornecida por aqueles que entendiam o poder do equilíbrio.

— Está falando de mim? — perguntou Helena, olhando para Elian com preocupação. — E de quem mais?

— Você e os outros que enfrentaram a escuridão diretamente — respondeu ele. — Gabriel, Sofia, até mesmo Darius. Vocês têm a conexão necessária. Sem vocês, o ritual não terá estabilidade.

Helena respirou fundo, sentindo uma pressão crescente em seu peito. Sabia que não poderia falhar, mas a ideia de ser o foco de algo tão poderoso a deixava apreensiva. Antes que pudesse responder, Gabriel se aproximou, ouvindo parte da conversa.

— Helena, estamos prontos — disse ele, com determinação em seus olhos. — Se temos que ser o foco, então vamos fazer isso.

Sofia também chegou logo em seguida, percebendo a tensão no ar.

— O que precisamos fazer? — perguntou ela, já preparada para qualquer desafio.

Helena olhou para os dois, sentindo uma mistura de alívio e nervosismo. Estavam juntos nisso. Todos eles.

— Precisamos formar um círculo ao redor da pedra — explicou Elian. — Vocês, os que possuem a conexão com o equilíbrio, devem se concentrar em canalizar essa energia. Eu guiaria o ritual, mas vocês precisam ser o ponto de ancoragem.

— Vamos fazer isso — disse Gabriel, dando um passo adiante. — Não temos escolha.

Helena assentiu. "Este é o momento que estávamos esperando. Não há mais volta."

---

Minutos depois, o círculo estava formado. Helena, Gabriel, Sofia e Darius, todos de mãos dadas ao redor da pedra sagrada. Elian começou a entoar palavras antigas, em um idioma que Helena não reconhecia, mas que ecoava profundamente em sua alma. Era como se cada palavra carregasse um peso ancestral, uma força que conectava o presente ao passado.

A esfera no topo da pedra começou a brilhar com mais intensidade. Luzes de várias cores dançavam ao redor deles, e a sensação de poder crescente era palpável. Helena sentia a energia fluir por suas mãos, um calor que se espalhava pelo seu corpo, misturado com uma leve sensação de frio — como se a luz e a escuridão estivessem disputando espaço dentro dela.

— Concentrem-se! — gritou Elian, enquanto o vento ao redor deles aumentava. — Vocês são o equilíbrio!

Helena apertou as mãos de Gabriel e Sofia com mais força, tentando manter o foco. Mas era difícil. A energia que fluía pelo círculo era intensa, quase insuportável. Ela sentiu a escuridão dentro dela despertar, como se quisesse tomar o controle.

— Não deixe a escuridão vencer! — gritou Sofia, sua voz quase sendo engolida pelo vento.

Helena fechou os olhos e se concentrou. Ela sabia que a chave não era resistir, mas aceitar. Aceitar tanto a luz quanto a escuridão dentro de si, sem medo, sem hesitação.

De repente, a luz da esfera se intensificou. Um raio de energia explodiu para o céu, rompendo as nuvens escuras. O vento cessou, e um silêncio profundo tomou conta da praça.

A esfera flutuava agora, completamente estável, emitindo um brilho suave. O ritual estava funcionando.

— Conseguimos — sussurrou Helena, com os olhos brilhando de alívio e esperança.

Mas antes que pudesse relaxar, um som profundo ecoou ao longe, como um trovão distante. Algo estava vindo — e eles ainda não estavam fora de perigo.

O equilíbrio havia sido restaurado, mas a batalha estava longe de terminar.