Capítulo 78: Bolha de esperança

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^Bolha da Esperança^

A manhã estava fria e nublada, tons de azul e roxo cinzentos desciam como um harmonioso degrade pelo céu. A névoa estava fina pelas proximidades, mas suficiente para embaçar as árvores secas na distância.
O forte aroma de café escoltando os corredores escuros e gélidos do convento, atiçando a curiosidade de dois meninos que rastejavam até as portas duplas dos fundos, tomando cuidado para não chamar a atenção das freiras.

— Ali, vê? Tem um lago pedrilhante atrás da cabana de madeira. Eu juro por tudo que vi um monstro de cinco cabeças, e... e... ele era tão grande que podia correr nas nuvens! — Disse com entusiasmo na voz. Balançando-se nas vigas de pedra que separavam eles do quintal, um menino ainda de pijama listrado.

— Uhum, e o que mais você viu ontem? Um pássaro alado de fogo comendo as flores? — Satirizou, outro um pouco mais velho, desenhando sobre o piso gelado de pedras. Seus cachos encaracolados cor de mel içam com a presença do vento. — Ah, espera... você já tinha me dito dessa semana passada, hehe.

— Ah, qual é, eu tô falando sério! Toda noite, antes deu ter que te aturar roncando, sempre olho pela janela e vejo esses monstr-... Não! Na real, acho que não são monstros, já que eles sorriem pra mim quando me veem de volta. — Sentou-se ao lado do menino, pegando um papel. — Apesar de serem assustadores, eles não parecem ser maus.

Desenhou a figura que acabara de contar para o cacheado: um ser alongado, cuja cabeça tocava os céus, seus longos braços mal conseguiam ficar esticados por baterem no chão, sem contar suas pernas que precisavam estar sempre dobradas. E claro, o mais evidente, a presença de cinco cabeças, espalhadas de forma aleatória por onde deveria ser seu pescoço.

— Então por que nunca consigo vê-las? E também, quando me disse sobre ter uma minhoca bocuda brilhante rastejando em volta do convento, falou que estava tudo destruído, mas... não tem nada estragado aqui.

— E-Eu... eu não sei. Juro que vi e até senti os tremores na hora, só que poucos minutos depois dela ter ido embora tudo voltou ao normal. — O menino de pijama listrado lotou as páginas com as figuras. — O padre falou que podia se tratar do despertar das minhas habilidades, mas, pela cara dele, nem parecia botar fé nisso.

— Um padre sem fé, que frase mais bizarra de se ouvir, hehe. Mas relaxa, se esse for mesmo o caso, irmãozinho, pode ter certeza que vou te ajudar a descobrir mais sobre esses tais poderes. E também, 'tô interessado em poder enxergar por mim mesmo essas criaturas, principalmente esse bode dourado.

— Esse é muito fofo, até me seguiu por um tempinho por dentro do convento.

Ambos admiravam a chuva cair, sendo gradualmente dissipada junto a névoa com os ruídos de passos se aproximando; porém, não pareciam vir do corredor ou do campo, mas ecoando por toda parte.

— O que é isso? — o menino de cachos perguntou-se.

— Hum... Aí, Traduz, acho que está no momento de dizermos adeus, ao menos por enquanto.

Traduz: Hã? — estava flutuante, mas não apenas em questões, mas como também em corpo, sendo levado para além do teto fraccionado. — O quê? N-Não, eu não quero ir. Grr... Comuhaooo!

Mas não importava quanto tentasse nadar para baixo, as correntes de uma força maior ainda o forçava a seguir. Balançando seu corpo de forma frenética, até o momento em que sua visão encontrou um par de olhos púrpuras escondidos atrás das árvores secas, aproximando-se lentamente do menino de listrado.

Traduz: Comuhaoo!

Comuhao: Não precisa se preocupar comigo, bobão! Agora, levanta e salve a sua alma e a da sua família. Traduz, acorda!

Banimento Final - Ato1 (Em reformas)Onde histórias criam vida. Descubra agora