Entre o Medo e a Coragem

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Os dias seguintes em Hogwarts foram marcados por uma tensão eletricamente palpável. Snape continuava a agir de maneira reservada e, ao mesmo tempo, sutilmente diferente. Embora sua fachada austera e controlada ainda estivesse presente, havia um novo elemento em sua abordagem, algo que deixava S/N intrigada e esperançosa.

Durante as aulas de Poções, ela notou que ele a observava com uma intensidade que não conseguia entender completamente. As instruções que ele dava eram agora mais detalhadas, e, por vezes, seus olhares se cruzavam, provocando um calor em seu rosto que ela não conseguia controlar. Aquela conexão que antes era marcada por desprezo parecia estar lentamente se transformando em algo mais profundo, mais complexo.

Um dia, enquanto trabalhavam em um projeto de poção avançada, S/N sentiu um impulso de se aproximar dele. Era como se uma força invisível a atraísse, e, mesmo que seu coração estivesse batendo forte de ansiedade, ela decidiu que precisava arriscar.

— Professor — disse ela, quase hesitante. — Posso lhe fazer uma pergunta?

Snape parou e olhou para ela, sua expressão impassível, mas havia uma cintilação nos olhos que a encorajou a prosseguir.

— O que você espera do futuro? — Ela não tinha certeza se estava pronta para a resposta, mas as palavras saíram antes que ela pudesse reconsiderar.

Ele parecia surpreso com a pergunta, mas depois de um momento, um leve sorriso apareceu em seus lábios, embora fugaz.

— Espero que os alunos aprendam a importância do conhecimento e da responsabilidade que vem com ele. — respondeu ele, a voz quase suave. — Mas e você? O que espera?

S/N engoliu em seco, o coração disparado. O que ela realmente esperava? Mais do que poderia verbalizar.

— Eu... espero entender melhor a mim mesma. E... talvez encontrar um lugar onde eu me sinta aceita, não apenas como uma aluna, mas como alguém que pode fazer a diferença.

Houve um silêncio momentâneo, e ela se sentiu vulnerável, exposta. Mas, para sua surpresa, Snape acenou lentamente, como se compreendesse exatamente o que ela queria dizer.

— Aceitação é uma busca constante — disse ele, pensativo. — Mas, muitas vezes, ela começa com a aceitação de nós mesmos.

Aquele diálogo leve, quase íntimo, deixou S/N com um misto de esperança e apreensão. Ela se perguntava se Snape realmente percebia que o que ele dizia se aplicava a eles dois. No fundo, ela sabia que ele também lutava com seus próprios demônios.

Enquanto os dias se transformavam em semanas, S/N se permitiu explorar a nova dinâmica entre eles. Os pequenos gestos se tornaram mais frequentes: um olhar mais gentil, um reconhecimento silencioso do esforço dela em suas aulas. Mas havia uma barreira invisível que ainda os separava — o medo das consequências de cruzar aquela linha.

Em uma noite clara, enquanto estudava na biblioteca, S/N sentiu a presença familiar de Snape se aproximando. Ele parecia mais relaxado, e, por um momento, o peso da responsabilidade que carregava parecia menos intenso.

— S/N — disse ele, quebrando o silêncio. — Posso me juntar a você?

Ela olhou para cima, surpresa, mas também animada. Nunca antes Snape havia se oferecido para se juntar a ela fora da sala de aula.

— Claro, professor. — disse ela, tentando manter a compostura. — O que o traz aqui?

— Apenas queria me certificar de que você está se saindo bem em seus estudos. — Ele se sentou à sua mesa, e S/N percebeu que, de alguma forma, aquele gesto simples significava muito mais do que palavras poderiam expressar.

A conversa fluiu naturalmente. Eles discutiram não apenas sobre poções, mas também sobre suas esperanças, seus medos e a vida em Hogwarts. S/N sentiu que estava finalmente começando a entender o homem por trás da persona austera, e Snape parecia começar a baixar as defesas que havia levantado ao longo dos anos.

— Às vezes, sinto que a vida nos obriga a agir de maneiras que não escolhemos — Snape confessou, sua voz baixa e reflexiva. — Fazemos escolhas baseadas em medos e inseguranças, mas há sempre uma oportunidade de mudança.

A profundidade daquela afirmação ressoou em S/N. Ela sabia que eles estavam falando mais do que apenas sobre poções ou decisões acadêmicas; estavam explorando os labirintos de suas almas.

— E você? Acha que pode mudar? — ela perguntou, buscando sua resposta com um olhar atento.

Snape hesitou, a expressão de sua face mudando. Ele parecia estar lutando com algo dentro de si, e S/N percebeu que estava próxima de um ponto de inflexão.

— Mudar não é fácil. — disse ele finalmente. — Mas, talvez, com o tempo... possa aprender a aceitar o que não consigo mudar e a trabalhar com o que ainda está por vir.

Ela não sabia se ele falava sobre si mesmo ou sobre os dois, mas o entendimento compartilhado naquele momento era profundo. S/N se sentiu cada vez mais atraída por ele, não apenas pela força e pela vulnerabilidade que ele mostrava, mas também pela possibilidade de um futuro diferente — um futuro que ela nunca havia imaginado, mas que agora parecia tangível.

— Eu estarei aqui para apoiar você, professor. — disse S/N, a determinação firme em sua voz. — Não precisa passar por isso sozinho.

Ele a olhou, e por um breve instante, a parede que ele havia construído ao longo dos anos parecia desmoronar, revelando um homem que também precisava de compreensão e apoio.

— E eu também estarei aqui para você — respondeu Snape, um leve brilho de gratidão em seus olhos escuros.

Naquele momento, S/N soube que havia dado um passo significativo em sua jornada juntos. Embora os desafios ainda estivessem à frente, havia um novo entendimento entre eles, uma promessa de que cada um poderia ser mais do que seus passados os definiram. E com esse novo compromisso, eles estavam prontos para enfrentar o que quer que o futuro lhes reservasse.

No entanto, à medida que as semanas passavam, S/N também sentia a pressão crescente de seus sentimentos. Era uma luta constante entre o desejo de se aproximar dele e o medo de que sua vulnerabilidade pudesse resultar em dor. O que começara como um ato de bravura em uma noite fatídica agora se transformava em uma dança delicada de emoção e razão.

E enquanto Snape parecia cada vez mais disposto a explorar essa nova conexão, a luta interna de S/N apenas crescia. As paredes ao redor de seu coração eram fortes, mas as fissuras já começavam a se formar, desafiando-a a considerar a possibilidade de um amor que sempre fora considerado impossível.

Ela sabia que a verdade sobre seus sentimentos não poderia ser ignorada por muito mais tempo. E, enquanto o futuro continuava a desenhar seus contornos, S/N sentiu que uma escolha decisiva estava se aproximando — uma escolha que definiria não apenas o relacionamento deles, mas também o que cada um poderia se tornar no processo.

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