Os dias seguintes foram uma dança de disfarces e provocações. S/N tentava focar nos estudos e nas aulas, mas Snape parecia estar em toda parte, observando-a com um olhar cada vez mais penetrante. Ele estava jogando um jogo perigoso, e ela sabia que cada erro podia ser o suficiente para entregar tudo.Snape, por sua vez, não conseguia se livrar de uma nova e incômoda sensação que crescia a cada interação entre os dois. Algo havia mudado, algo sutil que ele não conseguia ignorar. Antes, sua irritação com a presença de S/N era clara e justificada: a origem trouxa, a teimosia em insistir em feitiços que pareciam fugir de seu alcance, o jeito petulante de não aceitar críticas... mas agora, havia um calor indesejado por trás de suas palavras e olhares.
Tudo começou a mudar uma manhã chuvosa, quando ele a encontrou no pátio, sentada sozinha em um canto afastado, sob a proteção de uma pequena cúpula de magia que ela conjurara para manter a chuva distante. Ela estava concentrada em um livro grosso, as sobrancelhas franzidas em concentração. A raiva usual que ele sentia ao vê-la, sempre distraída e aparentemente absorta em si mesma, foi substituída por algo... diferente.
Havia uma paz inquietante ao observá-la daquele ângulo. Os cabelos soltos caíam desordenadamente sobre os ombros, e, por um breve momento, Snape se perguntou se ela se perdera tanto no livro que esquecera o próprio tempo. O semblante dela, ainda marcado pela tensão de ser observada constantemente, parecia relaxado. Ele a estudou por mais alguns instantes, cada detalhe se imprimindo em sua memória contra sua própria vontade.
Sem perceber que o olhar dele suavizara, ela levantou os olhos e o encontrou. Num reflexo rápido, fechou o livro e se levantou, os olhos se arregalando ligeiramente, como se um segredo tivesse sido revelado.
— Professor Snape, — disse, a voz hesitante. — Eu... estava apenas estudando para as provas. Não quis incomodar...
Ele balançou a cabeça, o tom de voz mais brando do que esperava.
— Não estava incomodando. — As palavras saíram baixas e calmas, mais um reflexo do que uma decisão consciente. — Mas a biblioteca seria um lugar mais apropriado do que ficar sozinha aqui fora.
Ela piscou, claramente surpresa pela ausência de reprimenda. Snape sentiu uma irritação crescente consigo mesmo. Como poderia permitir que sua guarda caísse assim? Por um segundo, desviou o olhar e tentou se recompor. Estava aqui para pressioná-la, não para demonstrar simpatia.
— Agradeço a preocupação, professor, mas eu queria um pouco de ar. — As palavras saíram vacilantes, e ela mordeu o lábio, um gesto inconsciente que fez o olhar dele se demorar por mais tempo do que deveria.
Snape forçou a garganta a emitir um som neutro. Seu olhar escureceu ligeiramente enquanto observava a forma como ela abraçava o livro contra o peito, um gesto de proteção que o fez recordar que ainda não tinha respostas para suas perguntas.
— É isso mesmo que está fazendo, Srta. S/N? — indagou, cruzando os braços. — Estudando para as provas? Ou continua explorando coisas que não deveria?
Ela o olhou por um longo momento, os lábios pressionados em uma linha fina. Sabia que o jogo de palavras dele estava começando. Ele a provocaria, a encurralaria até que se traísse. Mas ela não podia ceder. Precisava manter a postura.
— Não sei do que está falando, professor. Minhas atividades têm sido apenas acadêmicas. — A voz dela era firme, mas Snape notou a pequena tremulação na mão dela. Ela estava mentindo. E estava com medo de ser descoberta.
Ele deu um passo mais perto, invadindo o espaço pessoal dela. S/N ergueu o rosto, os olhos fixos nos dele, como se desafiasse silenciosamente aquele gesto. Snape se encontrou, mais uma vez, num impasse. O desejo de provocá-la, de pressioná-la, misturava-se a algo mais complexo, mais pessoal. Uma atração inconfessável que parecia crescer, dia após dia, quanto mais a via lutar para esconder um segredo que ele ainda não conseguia decifrar.
— Se é assim, Srta. S/N, espero que se lembre deste momento — sussurrou, o tom velado, quase íntimo. — Porque se eu descobrir que me enganou... não haverá misericórdia. Está entendendo?
A proximidade entre eles a fez segurar o ar nos pulmões por um instante. O olhar dele estava mais intenso do que jamais vira. Havia algo ali — algo não dito, oculto entre a ameaça e a promessa de descobrir a verdade. A distância que separava seus corpos era pequena, mínima... perigosa.
— Entendo perfeitamente, professor — sussurrou ela de volta, a voz mal passando de um fio. — Não estou escondendo nada.
Snape permaneceu em silêncio, os olhos dela refletidos nos seus. Sentiu a mão formigar, como se desejasse alcançar o rosto dela, afastar a mecha de cabelo que caíra sobre a testa. E essa percepção o enfureceu. Como se, de alguma forma, ela estivesse enredando-o em um feitiço silencioso, um laço invisível que o puxava cada vez mais para perto.
Ele se afastou bruscamente, sentindo o ar ao redor se aliviar ligeiramente. Não poderia ceder a essas fraquezas. Não agora. Não com tantas perguntas ainda pairando.
— Continue com seus estudos, Srta. S/N — murmurou ele, já se afastando. — Mas lembre-se de que meus olhos estão sempre sobre você.
Ela não respondeu, apenas observou-o se afastar, o coração martelando no peito. Aquele encontro a deixara mais confusa do que nunca. Sentia a raiva dele, sim, mas também um calor inesperado que parecia emanar de cada palavra. Cada provocação carregava um peso maior agora, como se houvesse algo além de simples hostilidade.
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Ao retornar aos seus aposentos, Snape passou a mão pelo rosto, exasperado. Como poderia se permitir sentir aquilo por alguém como S/N? Alguém que, por mais que ele negasse, despertava algo que há muito havia esquecido — um interesse inquietante e, ao mesmo tempo, irritante.
O anel que ele guardava há tanto tempo reluziu de forma intrigante em sua gaveta quando a abriu. Com um gesto brusco, ele o pegou, estudando-o novamente. Havia algo ali que o conectava a S/N, ele tinha certeza. Talvez fosse o fato de que, por mais que tentasse, ela nunca parecia disposta a se afastar completamente dele. E talvez ele não quisesse que ela o fizesse.
Girou o anel entre os dedos, sentindo a frieza do metal contra a pele. Se ela realmente estivesse envolvida, se tivesse sido ela a salvá-lo naquela noite... o que significaria isso? Por que arriscar a própria vida por alguém que sempre a tratou com desdém e desprezo?
Snape fechou os olhos por um momento, as memórias daquela noite retornando com força. O toque das mãos que o ajudaram, a voz calma e controlada que tentou afastar a dor. Quem quer que fosse, ele sabia que havia uma conexão mais profunda ali. Uma conexão que agora começava a tomar forma, lenta e hesitante... e que o aterrorizava.
Ainda não sabia a verdade. Ainda não tinha certeza se era ela. Mas a simples ideia de que poderia ser S/N despertava sentimentos que ele não queria admitir, nem para si mesmo.
Determinou-se a manter a mente focada. Continuaria a buscar a verdade, não importava o que fosse preciso. E se, no fim, S/N fosse a responsável... bem, então precisaria lidar com as consequências. E talvez, só talvez, as respostas o surpreendessem mais do que qualquer mistério que já desvendara.
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Signum Fortitudinis
FanfictionContexto da História: "A Marca da Coragem" Em uma noite fatídica durante a Batalha de Hogwarts, a bravura e a vulnerabilidade se entrelaçam de maneira inesperada. Quando o caos toma conta do castelo e seus defensores lutam por suas vidas, uma aluna...