À Beira da Revelação

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Nos dias que se seguiram, a rotina em Hogwarts voltou a uma calmaria enganosa. Os corredores, que antes ecoavam com o frenesi dos estudantes discutindo as cicatrizes da batalha e os eventos que haviam se desenrolado, agora pareciam se acalmar como se a escola respirasse um alívio silencioso. Mas, no fundo dos corredores frios das masmorras, um turbilhão de emoções agitava-se na mente de Severo Snape.

Seu olhar perscrutador não deixava de seguir S/N quando ela passava pelos corredores ou se concentrava em algum feitiço difícil durante as aulas. Era como se cada palavra dela, cada movimento, estivesse sob um microscópio. E, embora ele mantivesse a fachada dura de sempre, por dentro, as dúvidas o consumiam.

Enquanto Snape se dedicava obsessivamente a analisar cada gesto de S/N, ela, por outro lado, fazia um esforço sobre-humano para se manter indiferente. As palavras dele ecoavam em sua mente toda vez que se lembrava do encontro no laboratório. A intensidade nos olhos de Snape ao mencionar o anel, a desconfiança velada... Sabia que estava pisando em terreno perigoso. Se ele a descobrisse, não teria mais para onde correr.

Ainda assim, havia algo inevitavelmente fascinante na forma como ele parecia hesitar, como se não quisesse realmente descobrir a verdade. E isso, de algum modo, a fazia questionar os próprios sentimentos. Por que se importava tanto? Por que precisava que ele a visse como mais do que uma aluna qualquer, alguém que ele desprezava por ser mestiça?

No fundo, S/N sabia a resposta. Sempre soube.

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Uma semana depois, Snape estava sentado em seu escritório, os olhos fixos em um antigo livro de poções, mas sua mente longe. O anel estava ao lado dele, como sempre. Incomodava-o a cada olhar, a cada pensamento. Ele tentou focar no texto à sua frente, mas cada palavra se esvaía como fumaça, inútil e evasiva.

Frustrado, fechou o livro com um movimento brusco e se recostou na cadeira. Não conseguia mais ignorar o crescente interesse por aquela aluna que parecia desafiar todas as suas expectativas. Sentia um desconforto, um calor esquisito que não tinha nada a ver com a raiva ou a irritação. Era uma... atração? Ele rapidamente afastou o pensamento, recusando-se a aceitar algo tão absurdo. Mas, mesmo enquanto tentava bloquear isso, o olhar voltava sempre para o anel.

Um objeto tão simples e insignificante, e ainda assim, ele estava prestes a enlouquecer por causa disso.

— Está perdendo o foco, Severo — murmurou para si mesmo, irritado. Então, tomou uma decisão.

Levantou-se de repente, pegando o anel e enfiando-o no bolso. Se não conseguisse respostas observando de longe, faria da maneira que sabia melhor: pressionaria até que as defesas caíssem.

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Naquela mesma noite, ele enviou uma mensagem a S/N, ordenando que fosse ao seu escritório. Quando ela chegou, batendo levemente à porta, Snape já estava sentado atrás da mesa, os olhos negros fixos nela como se pudesse desvendá-la por completo com um simples olhar.

— Professor? — perguntou, cautelosa, ao entrar. Sabia que ser chamada à sala de Snape fora do horário de aula raramente era um bom sinal.

Ele gesticulou para que ela se sentasse. S/N obedeceu, sentindo o estômago se apertar. Algo no silêncio dele a deixava inquieta.

— Sabe por que a chamei aqui? — Ele não parecia ter pressa para responder, a voz baixa e cheia de uma suavidade sinistra.

Ela balançou a cabeça, forçando-se a manter o olhar fixo nos olhos dele.

— Não, senhor.

Um silêncio tenso se instalou. Então, com um movimento deliberadamente lento, Snape retirou o anel do bolso e o colocou sobre a mesa entre eles. S/N congelou, mas fez um esforço desesperado para manter a expressão neutra.

— Este anel... — ele começou, quase casualmente. — Eu já lhe perguntei se sabia a quem pertencia, e você negou qualquer envolvimento. — Seus olhos se estreitaram. — Acredito que esteja escondendo algo de mim.

Ela sentiu um arrepio percorrer a espinha. Mas, ainda assim, sustentou o olhar.

— Não estou escondendo nada, professor.

— Nada? — Ele se inclinou para frente, as mãos unidas, um sorriso frio brincando nos lábios. — Então não se importaria de me contar por que estava tão perto da boathouse naquela noite, certo?

S/N sentiu a pulsação acelerar. Ele sabia. Ou, pelo menos, suspeitava o suficiente para perguntar. Precisava pensar rápido.

— Eu... estava tentando ajudar onde fosse possível. A escola inteira estava em perigo, eu... — A voz dela falhou por um segundo. — Fui até lá para procurar sobreviventes.

— Interessante. — A voz dele era quase sedutora em sua suavidade. — Porque, sabe, Srta. S/N, tenho certeza de que, se realmente quisesse ajudar, não teria se aventurado sozinha a um lugar onde ninguém mais estava. — Ele inclinou a cabeça. — Não quando a prioridade era lutar ao lado dos outros.

Ela engoliu em seco, sentindo o chão sob seus pés começar a ruir. Mas não cederia.

— O senhor está me acusando de algo?

— Acusando? Não, não — ele balançou a cabeça lentamente. — Apenas buscando... respostas. — Snape pegou o anel e o girou entre os dedos, os olhos nunca deixando os dela. — E, por acaso, há algo que gostaria de me contar?

S/N sabia que estava à beira de um precipício. Um passo em falso e tudo estaria perdido. Sentiu a mente correr a mil por hora, mas nenhuma desculpa parecia boa o suficiente.

— Eu realmente não sei a quem pertence esse anel — disse lentamente, cada palavra escolhida com cuidado. — E não sei o que o senhor espera ouvir de mim.

Snape ficou em silêncio por mais alguns segundos que pareceram eternos. Então, deixou o anel de lado e se levantou, caminhando em direção a ela. Parou a poucos centímetros, olhando-a de cima, a presença dele tão avassaladora que ela sentiu as pernas tremerem.

— Se eu descobrir que está mentindo para mim, Srta. S/N... — Ele deixou a ameaça pairar no ar. Então, abaixou-se levemente, o rosto muito próximo ao dela, e murmurou, com uma voz que era ao mesmo tempo fria e... intrigantemente íntima. — Não haverá lugar em Hogwarts onde possa se esconder.

O coração de S/N parecia prestes a explodir. Não conseguia pensar em nada além da proximidade dele, do perfume amargo das poções misturado ao cheiro de tinta. O olhar de Snape queimava, e por um instante — um único instante —, ela quase quis confessar tudo. Tirar o peso de seus ombros, contar a verdade.

Mas, em vez disso, ela apenas sustentou o olhar dele, a voz firme, mesmo que por dentro estivesse se despedaçando.

— Eu não tenho nada a esconder, professor.

O queixo de Snape se apertou, como se estivesse lutando contra algo dentro de si. Ele se afastou com um suspiro baixo, virando-se para a mesa.

— Pode ir. Por enquanto.

Ela hesitou apenas o suficiente para se certificar de que as pernas aguentariam. Então, virou-se e saiu do escritório, o corpo tremendo com a intensidade do que acabara de acontecer. Quando a porta se fechou atrás dela, Snape ficou olhando para o anel sobre a mesa.

Cada instinto seu gritava que S/N sabia mais do que dizia. E, no entanto, havia algo nela que o prendia, que o fazia hesitar.

Snape franziu a testa. A resposta estava ali, ao seu alcance, mas algo o impedia de simplesmente arrancá-la à força.

Ele precisava saber. Precisava entender por que aquela garota mexia tanto com ele.

Mas, ao mesmo tempo, temia a verdade que encontraria.

E o que isso significaria para ambos.

Signum FortitudinisOnde histórias criam vida. Descubra agora