O RESGATE MISTERIOSO

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    O caos da Batalha de Hogwarts se espalhava como uma sombra viva, pulsando com o som de feitiços e gritos. As paredes do castelo vibravam sob a força dos ataques, e as janelas explodiam em mil fragmentos. Era uma noite de medo e coragem, onde cada passo poderia ser o último, e você sabia que deveria estar lutando ao lado dos outros alunos, protegendo a escola que foi seu lar por tantos anos. Mas algo a impelia para longe, uma sensação incômoda que a fez virar em direção ao lago negro.

Havia um lugar que ninguém ousava se aproximar naquela confusão: a boathouse. A construção simples e quase esquecida parecia abrigar uma presença estranha naquela noite. Sua intuição se aguçou quando ouviu o som abafado de uma explosão e gritos desesperados ecoando de dentro. A mão apertou a varinha com força, e seus pés se moveram sozinhos, cada passo aumentando o aperto frio no estômago.

Você abriu a porta devagar, um feitiço na ponta da língua para se defender, se necessário. Mas o que viu ao entrar na pequena casa não era uma ameaça, e sim uma visão que fez o coração parar por um segundo.

Severo Snape, o professor que passou os últimos anos fazendo questão de demonstrar o quanto a desprezava por sua origem trouxa, estava caído no chão. O sangue escorria de seu pescoço, encharcando as vestes negras. Ele tremia violentamente, uma mão pressionando a ferida enquanto tentava, inutilmente, estancar o sangramento. O olhar desesperado de Snape vagava sem foco, perdido entre a dor e o choque.

Por um momento, você hesitou. Era Snape, o professor que a humilhara inúmeras vezes, que nunca perdia a chance de menosprezar suas habilidades e questionar seu lugar em Hogwarts. Cada lembrança amarga parecia ganhar vida em sua mente enquanto você o observava ali, tão vulnerável e à beira da morte.

Mas então ele gemeu, um som baixo e rouco que pareceu cortar a frieza que você tentava manter. Aproximando-se lentamente, você se ajoelhou ao lado dele. Ele tentou falar, mas a voz saiu como um sussurro entrecortado, a respiração dificultada pela dor.

— Quem... é você? — ele perguntou, a voz falhando enquanto tentava erguer a varinha, mas o braço caiu sem força.

Você não respondeu. Sabia que ele não conseguiria identificá-la naquele estado, e talvez fosse melhor assim. A última coisa que Snape desejaria era ser salvo por alguém como você, uma aluna que ele sempre considerou inferior, incapaz e sem valor para a magia.

— Fique quieto — murmurou, segurando a cabeça dele com uma das mãos enquanto a outra abria rapidamente um pequeno frasco com uma poção de cura. — Não fale. Só... não morra, está bem?

Ele tentou afastá-la, um resquício do orgulho teimoso que ainda resistia, mas estava fraco demais. Você derramou a poção diretamente na ferida, observando o líquido espesso borbulhar e selar parte do corte. Snape grunhiu de dor, o corpo arqueando ligeiramente, mas não tinha forças para resistir. A cada movimento dele, você sentia o quanto estava frágil, como se cada respiração pudesse ser a última.

Apoiada de joelhos no chão úmido e frio, você começou a murmurar feitiços de cura, as palavras saindo quase sem pensar. Ele olhava para você, ou pelo menos tentava. O rosto dele, contorcido pela dor, parecia buscar algo — uma identidade, um rosto, uma explicação. Mas sua visão estava embaçada e a mente entorpecida demais para distinguir qualquer coisa.

Você continuou trabalhando rapidamente, derramando mais algumas gotas de uma poção fortalecedora nos lábios dele e pressionando a ferida com cuidado. As mãos tremiam um pouco, mas você respirou fundo e manteve o controle. Se havia aprendido alguma coisa em Hogwarts, era que às vezes a verdadeira força estava em se manter firme quando tudo ao seu redor estava desmoronando.

Snape piscou algumas vezes, o olhar oscilando entre o teto e o rosto borrado à sua frente. Algo parecia brilhar nas profundezas de seus olhos, um reconhecimento distante que nunca se concretizou. Ele queria falar, queria exigir respostas, mas as palavras se perderam antes de deixarem os lábios.

— Não quero... — ele começou, mas você apenas balançou a cabeça.

— Shh. Guarde suas forças. — Você se afastou um pouco, os olhos varrendo o estado deplorável dele. Havia feito o máximo que podia com os recursos limitados que tinha. Ele precisava de ajuda profissional, de Madame Pomfrey ou de qualquer um mais capacitado. Mas, por enquanto, ele sobreviveria.

Você se levantou devagar, e algo brilhou no chão ao lado do corpo dele. Quando baixou o olhar, viu um pequeno anel de prata que havia escorregado do seu dedo. A respiração ficou presa na garganta. Era um anel simples, mas de grande valor sentimental, com um pequeno símbolo que Snape, se estivesse em melhores condições, poderia ter reconhecido.

Por um momento, pensou em pegá-lo, mas ao ouvir um gemido baixo de Snape, percebeu que o tempo estava contra você. Se ficasse ali por mais tempo, não conseguiria sair sem ser vista. Desviando o olhar do anel, você deu um passo para trás, depois outro, até que finalmente se virou e saiu pela porta, sumindo na escuridão antes que alguém pudesse notar sua presença.

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Quando Severo Snape voltou a si, o mundo parecia envolto em um véu de dor e neblina. Ele piscou lentamente, o olhar se ajustando à escuridão da boathouse. A memória da mordida de Nagini e o ataque de Voldemort vieram como flashes rápidos e confusos, mas... algo estava diferente. A dor no pescoço, embora ainda insuportável, estava contida. A hemorragia havia parado.

Com esforço, virou a cabeça e viu um pequeno frasco vazio ao lado do corpo. Quem o havia salvado? E por quê? O pensamento trouxe um lampejo de raiva. Não queria dever sua vida a ninguém.

Quando tentou se levantar, um objeto no chão chamou sua atenção. Um anel. Franziu o cenho, os dedos fracos se estendendo para pegá-lo. O metal frio e liso parecia vibrar em sua mão, como se guardasse um segredo.

Snape girou o anel entre os dedos, observando cada detalhe. Não era dele, e certamente não pertencia a nenhum dos Comensais da Morte. A mente dele, sempre afiada, mesmo em momentos de fraqueza, começou a trabalhar rapidamente. A forma como foi curado, a rapidez... quem quer que fosse tinha um conhecimento avançado de poções e feitiços de cura.

Seus olhos se fecharam por um momento, uma única palavra passando por sua mente. Aluna? Quem de suas alunas teria a audácia de intervir? Tantas faces passaram pela mente dele, mas nenhuma se encaixava perfeitamente. Odiava a sensação de impotência, a incapacidade de controlar a situação.

Com um esforço sobre-humano, Snape conseguiu se apoiar em uma das paredes, o anel ainda preso entre os dedos. Precisava descobrir quem havia ousado intervir. Não era gratidão que o movia, mas uma necessidade de saber. Alguém havia desobedecido a ordem natural das coisas. Alguém o havia salvado quando deveria tê-lo deixado morrer.

E Severo Snape não deixaria isso passar em branco.

Determinou-se a encontrar essa pessoa. Desvendaria quem fora tolo o bastante para arriscar a própria vida por ele. Não era o fim. Era apenas o começo de um novo mistério que o consumiria até ter todas as respostas.

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Signum FortitudinisOnde histórias criam vida. Descubra agora