Nos dias que se seguiram ao encontro no pátio, Snape encontrou uma desculpa para observar S/N com mais frequência. Ele se dizia estar atento a qualquer comportamento suspeito — afinal, ainda precisava descobrir quem o havia salvado naquela noite fatídica. Mas, em algum lugar profundo dentro de si, sabia que a busca pela verdade estava se misturando a uma atração inquietante, e isso o deixava mais irritado do que nunca.Durante as aulas, ela parecia mais determinada do que o normal a impressioná-lo. Embora soubesse que ele jamais a elogiaria, era como se a simples ideia de fazer algo correto aos olhos de Snape fosse um pequeno triunfo. Ela respondia às perguntas com mais confiança e, até mesmo, se arriscava a testar novas teorias em poções complexas, algo que, no passado, a teria paralisado de medo.
Snape, é claro, não dava indícios de aprovação. Pelo contrário, redobrava as críticas, apontando cada deslize com sua usual acidez. Só que, dessa vez, ela não recuava. A cada novo confronto, S/N se mantinha firme, sustentando o olhar dele, quase desafiando-o. Isso o fascinava e o irritava em igual medida.
Uma tarde, depois de um teste prático exaustivo, Snape a mandou ficar após a aula. Os outros alunos se entreolharam, sussurrando especulações enquanto saíam. S/N respirou fundo, preparando-se para o que viria.
Ele esperou até que a última porta se fechasse antes de falar, a voz gotejando sarcasmo.
— Impressionante como, mesmo quando tenta se superar, Srta. S/N, você consegue cometer erros tão... amadores.
Ela manteve o queixo erguido, as mãos se apertando em punhos ao lado do corpo. Não se tratava de um erro, ela sabia. Snape estava testando seus limites.
— Sei que fiz tudo corretamente, professor. O resultado está perfeito. — A voz dela era controlada, mas havia um toque de frustração ali.
— Oh, claro, o resultado está 'aceitável'. Mas ainda assim... fraco, carente de precisão. — Ele se aproximou devagar, os olhos ardendo de algo que ela não conseguia decifrar. — É esse o melhor que consegue fazer? Eu esperava mais... especialmente considerando o quanto parece querer provar algo, seja lá o que for.
Aquelas palavras ecoaram mais fundo do que ela esperava. S/N sentiu o rosto queimar, a raiva borbulhando na superfície. O que ele esperava dela? Por que parecia se deliciar em diminuir cada pequeno progresso que fazia?
— Talvez se o senhor realmente me olhasse sem todo esse... desprezo, veria que sou mais capaz do que pensa. — As palavras saíram antes que pudesse detê-las. Ela viu o olhar dele mudar, endurecer por um segundo antes de se suavizar, algo sombrio passando pelos olhos negros de Snape.
— Desprezo? — Ele deu um passo mais perto, a voz um sussurro ameaçador. — Não me atribua sentimentos que não possuo. Se existe algo que aprendi ao longo dos anos é que... desprezo é uma emoção desperdiçada.
Houve um silêncio tenso. Ele estava tão perto agora que S/N sentia a energia opressora que emanava dele. Mas, ao invés de recuar, levantou o queixo mais um pouco, as mãos finalmente relaxando ao lado do corpo.
— Não estou tentando me provar para o senhor, professor — murmurou, os olhos cravados nos dele. — Estou apenas tentando ser a melhor versão de mim mesma. E se o que faço não é suficiente, então... — Ela hesitou, as palavras seguintes soando mais baixas, quase um suspiro. — Então, lamento por isso. Mas não vou parar.
Algo brilhou nos olhos de Snape. Havia uma intensidade ali que ela nunca havia visto antes, um fogo contido que parecia prestes a queimar. Ele inclinou a cabeça levemente, os olhos descendo para os lábios dela por um instante breve, mas perceptível. Quando voltou a falar, a voz era quase gentil.
— Não pare, Srta. S/N. — Aquelas palavras, carregadas de algo velado, a surpreenderam. — Porque talvez, um dia, você descubra que o que está procurando... está mais perto do que imagina.
Ela ficou paralisada, o coração disparado no peito. O que ele queria dizer? Antes que pudesse perguntar, Snape se afastou, virando-se para a mesa onde ela havia deixado sua poção.
— Agora, corrija isso. Não há espaço para incertezas — disse ele, como se nada houvesse acontecido.
S/N assentiu, a mente ainda girando com o significado oculto por trás das palavras dele. Aproximou-se da mesa e começou a refazer a poção, as mãos surpreendentemente firmes. Estava decidida a não deixar que ele a desestabilizasse, mas, ao mesmo tempo, algo dentro de si se agitou. Snape a deixara ver um vislumbre de algo mais profundo... e isso a fazia querer entender mais. Queria compreendê-lo.
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Quando finalmente terminou, Snape pegou o frasco que ela entregou, examinando o conteúdo com uma expressão neutra. Por um momento, pensou que ele voltaria a criticá-la, mas, em vez disso, apenas assentiu.
— Muito bem. — Não havia entusiasmo, mas também não havia crítica. Era uma aprovação, ainda que silenciosa.
Ela agradeceu com um aceno de cabeça e começou a recolher suas coisas para sair. Snape observou o movimento dela, como se calculasse cada gesto, cada respiração.
— Um momento, Srta. S/N — chamou antes que ela alcançasse a porta. Ela parou, esperando, o coração acelerado.
Ele girou lentamente um objeto entre os dedos. O anel. O anel que ele guardava desde aquela noite. S/N prendeu a respiração, mantendo a expressão o mais neutra possível. Ele não podia ter descoberto...
— Este anel... — começou ele, a voz baixa e suave. — Eu o encontrei na noite em que fui... ferido. Você sabe de quem é?
Ela sustentou o olhar, lutando contra a pulsação violenta em suas têmporas.
— Não, professor. Nunca o vi antes.
Snape permaneceu em silêncio por longos segundos, os olhos dela refletidos nos seus. Ele esperava ver algo — um tremor, um brilho de reconhecimento, qualquer coisa que o ajudasse a concluir que ela estava mentindo. Mas S/N estava treinada. Se havia aprendido alguma coisa com ele, era como mascarar emoções.
— Está certa disso? — murmurou, ainda brincando com o anel entre os dedos. Ela assentiu uma única vez, sem desviar o olhar.
— Absolutamente.
Snape inspirou fundo, depois soltou o anel em cima da mesa com um movimento brusco.
— Pode ir.
Ela não hesitou, saindo da sala o mais rápido que pôde sem parecer suspeita. Quando a porta se fechou atrás dela, ele passou as mãos pelo rosto, os dedos se afundando nos cabelos negros. Ainda não tinha certeza se acreditava nela. Mas algo dentro de si lhe dizia que estava perto... muito perto da verdade.
E cada passo nessa direção o fazia perceber que, talvez, não quisesse apenas respostas.
Queria entender quem ela realmente era. E, no fundo, algo mais profundo e perigoso começava a se insinuar. Uma necessidade que ia além da curiosidade.
Severo Snape, pela primeira vez em muito tempo, sentiu-se à deriva em um mar de emoções que não sabia como controlar. E isso, mais do que qualquer outra coisa, o deixava furioso.

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Signum Fortitudinis
Fiksi PenggemarContexto da História: "A Marca da Coragem" Em uma noite fatídica durante a Batalha de Hogwarts, a bravura e a vulnerabilidade se entrelaçam de maneira inesperada. Quando o caos toma conta do castelo e seus defensores lutam por suas vidas, uma aluna...