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A câmara de nidificação era uma caverna espaçosa e abobadada no coração da montanha. De um lado, dentro de uma enorme lareira esculpida diretamente na pedra sólida, um fogo crepitava e murmurava sonolento, banhando a câmara com um brilho quente e lançando sombras trêmulas nas paredes. No centro da sala, tecido com materiais incongruentes — vime, juncos e travesseiros de seda — ficava o ninho.

O quarto de nidificação era quente, tranquilo e confortável.

Lá fora era uma questão diferente. Havia uma tempestade rugindo ao redor do pico da montanha esta noite, girando e colidindo como pensamentos sombrios ao redor de uma cabeça perturbada. No entanto, conforme o som do vento e do trovão filtrava pelo labirinto tortuoso de corredores antigos esculpidos na rocha viva, seu volume diminuía, e quando finalmente alcançava a câmara de nidificação no coração quente da montanha, o barulho era pouco mais que um suspiro.

Para Katrine, deitada em seu ninho, os sons abafados da tempestade eram quase inaudíveis por causa da respiração profunda e constante vinda de seu companheiro atrás dela.

Não, não foi a tempestade que acordou Katrine.

Tinha sido o ovo.

O ovo se moveu.

Katrine transferiu seu peso contra os juncos e almofadas macios e confortáveis ​​do ninho e puxou o ovo para mais perto. Não era grande; Katrine conseguia segurá-lo facilmente com as duas mãos. Sua superfície era lisa, mas não tão dura quanto os ovos de galinha que ela costumava comprar no supermercado. Em vez disso, este ovo tinha apenas um toque de couro e uma textura ondulada como ela já tinha visto em um ovo de avestruz.

Katrine segurou o ovo contra a barriga. Ela levantou as pernas e envolveu os braços ao redor dele, envolvendo-o completamente em seu corpo, protegendo-o e desejando que cada gota do calor do seu corpo irradiasse para o precioso oval.

“Como você está aí, pequena?” Katrine sussurrou.

Somando-se ao calor do corpo de Katrine, havia rajadas rítmicas de respiração que a banhavam por trás, agitando levemente seus cabelos cacheados e se acomodando sobre o ninho como um cobertor invisível de ar. Aquela respiração era quente, mas seca. Seu calor não era nem um pouco como a respiração de um mamífero de sangue quente, mas mais como o brilho de uma lareira acesa no inverno. Ela até carregava consigo um leve aroma não muito diferente do aroma terroso e picante da fumaça da madeira.

Lá fora, a tempestade ficou mais alta. Katrine se lembrou de uma noite tempestuosa semelhante que ela havia suportado dentro desta fortaleza na montanha. Isso tinha sido há pouco mais de três meses, mas parecia uma vida inteira.

O ovo se moveu novamente.

Lenta e silenciosamente, Katrine deslizou o ovo para cima do seu corpo até que ela pudesse inclinar a cabeça para baixo e colocar uma orelha contra sua superfície. Ela tinha feito isso frequentemente nos últimos dois meses, e cada vez ela ficava surpresa com a maneira como o pequeno batimento cardíaco dentro dele continuava ficando mais forte a cada dia, a cada hora.

Mas agora havia outros sons também. O som de peso se deslocando, de um pequeno corpo se movendo inquieto por dentro. Os olhos de Katrine estavam arregalados agora. Seu próprio coração batia contra o esterno com excitação crescente. Ela prendeu a respiração enquanto ouvia. E então...

Baque.

Era um som pequeno, mas com sua orelha pressionada contra a casca, o som foi amplificado. Katrine se afastou com um suspiro suave, então pressionou sua bochecha contra o ovo mais uma vez para ouvir e sentir...

Baque. Baque… Tchk.

Katrine se afastou novamente, dessa vez alisando a superfície do ovo com a mão. Era uma luta conter o turbilhão de emoções que subiam em seu peito, rodopiando e se agitando como a tempestade lá fora. Excitação, nervosismo, medo e antecipação. Mas acima de tudo, alegria. A hora finalmente havia chegado. A pequena, mas bem distinta rachadura na ponta do ovo deixou isso claro.

“Skal!” Ela sussurrou animadamente

"Milímetros?"

A voz que zumbia atrás dela era profunda e retumbante, como os sons do próprio planeta que às vezes vibravam das raízes da montanha. Com aquele som, mais hálito quente derramou-se sobre o corpo de Katrine, mas sua pele permaneceu arrepiada de excitação.

O ovo se moveu em suas mãos novamente, dessa vez com ainda mais força. A pequena rachadura cresceu.

“Skal!” Katrine disse mais alto dessa vez. “Skal, acorde!”

Seu dragão grunhiu atrás dela. Escamas quentes e suaves se moveram contra suas costas nuas e macias. Braços poderosos a apertaram firmemente, protetoramente, da mesma forma que ela abraçou o precioso ovo. Houve um bocejo com tons de fumaça. Um rosnado. Um carinho sonolento contra sua nuca.

“Grmph…Kat? Qual é o problema, meu atma?”

“Não há problema algum,” Katrine respondeu apressadamente, incerta do porquê ainda estava sussurrando. “Skal, é o ovo…”

Ela sentiu aqueles músculos enormes e escamosos ficarem rígidos atrás dela. A respiração quente foi contida. Um coração gigantesco tamborilou contra suas costas com um ritmo ainda mais rápido. Quando seu dragão falou novamente, sua voz estava totalmente alerta e cheia de emoção — um coquetel de excitação e felicidade com apenas uma pitada de preocupação paternal.

“O ovo?”

“Sim,” Katrine disse, sem se incomodar mais em sussurrar. “Está chocando…”

Cria do Dragão Alienígena (Dragões de Arcturus #1)Onde histórias criam vida. Descubra agora