13 Uma Nova Etapa

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Soraya entrou no Senado naquele dia com uma postura confiante, como se estivesse preparada para enfrentar qualquer coisa. Seu vestido laranja destacava ainda mais sua presença, deixando-a deslumbrante, mas o brilho exterior escondia o turbilhão de emoções que ela carregava por dentro. Era um dia importante, e embora estivesse cercada de colegas e políticos, seu coração estava concentrado em uma pessoa: Simone. Hoje seria a despedida oficial de sua amiga e companheira de jornada no Senado.

Caminhou pelos corredores com passos firmes, cumprimentando quem passava, mas sua mente estava longe, em um conflito silencioso. "Preciso parecer forte", repetia para si mesma. Afinal, a política exigia isso. No entanto, o peso do momento era inegável. Simone não estaria mais ali, ao seu lado nas batalhas do Senado, e isso deixava um vazio.

Ao entrar em sua sala, Soraya fechou a porta atrás de si, se permitindo um breve momento de vulnerabilidade. Respirou fundo e tirou o discurso que havia preparado, relendo as palavras que havia escrito com tanto cuidado.

O discurso começava formalmente, como deveria ser em uma ocasião como aquela. "Senadora Simone Tebet, uma mulher de grandeza, elegância, inteligência, coragem, presença, amizade e força." Soraya sabia que cada uma dessas palavras era verdadeira. Ela sempre admirou Simone não apenas pela política habilidosa que era, mas pela mulher que se mantinha firme em suas convicções, mesmo em um ambiente tão hostil para elas.

Continuou lendo em voz baixa para si mesma: "Aqui no Brasil, ser mulher na política não é fácil, porque às vezes você é usada, é enganada, e são poucas as mulheres que se dispõem..." Sua voz falhou por um segundo, mas ela retomou rapidamente, lembrando-se da necessidade de manter a compostura. O discurso estava perfeito, refletia o respeito que ela sentia, mas havia algo que ela sabia que não estava no papel: o quanto Simone significava para ela de maneira pessoal.

Soraya olhou pela janela de sua sala, tentando conter a maré de sentimentos que se aproximava. "Eu não vou me despedir de você, porque nos vamos ver sempre, no Senado, no avião... Em fim, quero deixar registrado meu orgulho como sul-mato-grossense. você é uma inspiração para mim."

Essas palavras eram sinceras, mas não revelavam toda a verdade. Não mencionavam as noites sem dormir, a confusão interna que sentia, a admiração que, ao longo do tempo, se transformou em algo mais profundo. Mas, naquele dia, tudo que Soraya poderia fazer era manter seu papel, sua fachada, e deixar que o discurso falasse por si.

ela sentiu uma lágrima tímida escorrer por seu rosto, mas a secou rapidamente. "Ainda não é o momento", disse a si mesma.

Simone subiu à tribuna para dar seu discurso de despedida, e suas palavras encheram o Senado de emoção. Com uma voz firme, mas carregada de sentimento, ela começou:

— Não sei aonde a vida vai me levar, mas farei política enquanto viver, como cidadã, como professora, como advogada. Repito, aonde quer que a vida me leve. Lutarei e continuarei a lutar por um Brasil sem fome e sem miséria, por saúde e educação de qualidade, que devolvam a cidadania e nos retirem dessa vergonhosa situação de ser um dos países com maior desigualdade social do planeta. Por um Brasil que volte a ter, na nossa diversidade, a nossa maior riqueza, afinal, somos um único país. Um país, enfim, cujo povo cultiva em terra fértil, com seu trabalho, sua arte e seus sabores, o futuro que todos nós queremos.

As palavras de Simone ecoaram profundamente entre os senadores presentes. Soraya, em especial, sentiu uma mistura de orgulho e tristeza ao ouvir cada frase. Sabia que Simone estava se despedindo do Senado, mas não de sua missão política.

Simone então continuou, voltando seu olhar para os funcionários do Senado, aqueles que, com seu trabalho, sustentavam o funcionamento daquela casa:

— Sou testemunha de que vocês são o coração, a alma e o pulmão do Senado Federal. Nós passamos; vocês permanecem, porque nós somos passageiros; vocês são necessários, missionários da causa.

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