Corações Partidos e Cabelos Pretos (Cap. 4)

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28 de setembro quarta-feira.

Dias depois, cheguei atrasado no castigo que naquele dia seria limpar uma das salas de aula e eu já queria me matar com o cabo no mop na minha goela quando me deparei com a Julia ouvindo uma música sem os fones enquanto fazia uma coreografia. As carteiras estavam todas afastadas e ela estava de costas para a porta, completamente alheia enquanto se movimentava. Duas coisas sobre a Julia: ela era insuportável e ela era inegavelmente boa dançarina. E independente do motivo de sua dança, revirei os olhos e fui em frente.

— Tá treinando pra fugir com o circo? — provoquei no segundo em que pausei sua música, chamando sua atenção. — Treina mais, porque tá uma merda. Acho que um leão tem mais gingado que você. Quer dizer, acho não, tenho certeza. Eu vi Madagascar e o Alex é o máximo!

— Não, relaxa, a vaga já é sua! — Ela rosnou, vindo na minha direção e tirando o celular do meu alcance. — Dá licença.

Julia levou seu celular para longe, voltou a música e retomou sua coreografia a partir da contagem. Novamente eu fiquei estático. Não porque era interessante, mas que droga ela estava fazendo no meio do castigo? Tanto faz, não ia ficar parado assistindo ao seu show e correndo o risco de levar bronca. Deixei minhas coisas em um canto e fui começar a limpar as janelas.

Os minutos passavam e a música dela não acabava nunca. Eu estava de fone de ouvido e mesmo assim eu ainda ouvia sua música no repeat, embora fosse um R&B legal, depois de ouvir cinco vezes eu não estava mais aguentando. Julia fazia a mesma sequência de novo, de novo e de novo, e eu comecei a me sentir preso num looping temporal de filme de terror, e ela era a Emily Rose... era desesperador. Enquanto isso, ela não dava a mínima para a minha presença ou sequer se eu estava incomodado com aquilo. Apenas mantinha sua expressão séria e seguia com um passo atrás do outro.

— Caso tenha se esquecido, Shakira, a gente tem que limpar isso aqui até às quatro e eu não vou limpar tudo sozinho! — praticamente gritei para me sobressair em meio ao som alto.

Julia fingiu não me ouvir e continuou dançando com seus passos complexos como se fosse a maior apresentação da sua vida. E eu me incomodei mais pelo seu silêncio do que pela música. Sendo assim, fui até o carrinho que o Lewbert tinha deixado com os produtos de limpeza e escolhi o spray de álcool, seguindo em sua direção e borrifando-o como se ela fosse uma barata e eu estivesse com inseticida. Não posso negar que foi meio satisfatório quando ela começou a se esquivar.

— Para com essa porra! — ela exclamou furiosa, me golpeando na barriga.

— A gente tem que limpar aqui! Não dá pra você ficar aí dançando enquanto eu limpo, sua folgada! — Dei um passo para trás e continuei jogando os jatos de spray.

— Eu não posso hoje, só estou aqui pra não falarem que eu faltei, mas eu preciso ensaiar isso — ela rebateu enquanto avançava para tentar tirar o frasco da minha mão.

— Foda-se, então eu também não vou limpar nada e a gente vai dobrar o castigo, pode ser? — Cruzei os braços e a encarei.

— Christopher, eu já disse que eu tô perdendo uma hora de ensaio, não posso perder mais e isso aqui é importante pra caralho, então pode deixar de se importar com a minha vida pelo menos uma vez?

— E desde quando eu me importo com a sua vida? Você é tão insignificante pra mim quanto esse álcool do Lewbert — afirmei e puxei o gatilho mais um pouco enquanto ela gritava de raiva.

— É sério, eu preciso acertar essa coreografia antes das cinco porque eu tenho uma audição pra fazer!

— E eu com isso? Eu preciso que você faça a sua parte do castigo pra gente não ficar preso aqui pra sempre! Foda-se a sua audição! — Exclamei. — E porque eu não tô nem um pouco afim de te ver dançar, prefiro arrancar minhas córneas.

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