Teenage Lovers 1

Amigos (Cap. 7)

22 de outubro de 2016 — madrugada de sábado.

Ao final daquele beijo, Julia saiu da cozinha e eu continuei ali, repassando os últimos minutos enquanto esfregava meus lábios distraidamente, sentindo o gosto do gloss de melancia tão forte. E estava tão imerso na minha própria cabeça que não vi quando Dan se aproximou, batendo no meu ombro com um sorriso largo.

— Eu sabia que você ia mudar de ideia uma hora — celebrou. — Ela é exatamente o seu tipo, cara, não pode negar!

— Foi só um beijo, não vou casar com ela, tá? — Revirei os olhos, ainda incomodado que eles não deram a mínima para mim em quase duas horas e eu só voltei a ser relevante por causa da Julia.

— Não me pareceu só um beijo. — Ele riu. — Sua língua estava quase na garganta dela, Nick. Isso não é só um beijo.

— Tanto faz o que pareceu, eu sei o que foi e é suficiente pra mim — murmurei ao me desencostar da ilha para pegar outra cerveja. Quando me virei na direção do Dan, ele ainda me olhava com um sorriso de lado, como se estivesse me analisando. — Para com isso. Volta pra sua festa e não enche! — Empurrei-o de leve na direção da porta do jardim e ele riu outra vez.

Em seguida, senti sua mão no bolso da minha jaqueta.

— É por conta da casa — disse enquanto levantava as sobrancelhas de uma forma maliciosa, batendo contra o meu peito por fim.

— O quê?

Continuei olhando em sua direção, confuso, enquanto colocava a mão no mesmo bolso, sentindo uma embalagem plástica como se fosse um sachê de algum condimento. Ao tirar do bolso, me deparei com uma embalagem preta de camisinha. Eu torci o nariz para a suposição mais louca de todas e Jordan riu mais. Estava prestes a refutar sua ideia e devolvê-la quando ouvi os passos pesados de Julia retornando. Jordan passou pela porta em direção ao jardim e meu único reflexo foi guardá-la novamente. Obviamente eu não usaria aquela camisinha, ainda mais com a Julia. Me revirava o estômago só de pensar nisso. E também não queria começar uma briga depois de um dia tão estranhamente pacífico se ela pensasse que eu tinha segundas intenções com ela. Eu definitivamente não tinha e aquilo tinha sido mesmo só um beijo. Um de quatro. Tão bom quanto os dois anteriores. Talvez eu quisesse repetir... E essa era a única ideia louca, porém aceitável, que sairia da minha boca naquela noite.

— O videogame do Dan ainda está ligado, quer jogar alguma coisa? — ela mencionou com uma expressão animada que eu ainda não estava acostumado. Claramente era efeito do álcool, que tinha uma quantidade muito maior no seu sangue do que tudo o que ela havia fumando.

Olhei para fora mais uma vez e tive certeza que ninguém sentiria minha falta, nem mesmo Dan que acabou de falar comigo. Então assenti. Peguei minha garrafa e a segui pelo andar até voltarmos à sala de jogos. Ainda tinham três fatias de pizza completamente frias e Julia não pareceu se importar com isso porque devorou-as num segundo enquanto eu escolhia o que iríamos disputar agora. Parte minha se sentia no fundo do poço por ter que me entreter com o inimigo ao invés de simplesmente ir para casa, mas não era tão ruim assim. Com nossas guardas baixas, estávamos igualmente vulneráveis um para o outro e Julia parecia realmente confortável com isso, porque do instante em que passamos pela porta, ela não parou de falar. Tudo virava um extenso assunto para ela e meu cérebro penava para acompanhar, principalmente quando sua dicção falhava pela língua lenta e ela mesma dava risada, perdendo-se do fio da meada. Desde quando ela falava tanto assim? 

Acabamos em Castle Crashers, que eu não jogava há muito tempo porque só o Dan tinha esse jogo e não gostávamos muito, mas Julia achou bonitinho e quis jogar. Não era tão "violento" quanto Mortal Kombat, quer dizer, violento para nós, eram só cavaleiros coloridos com armas na mão para salvar as princesas levadas por um mago. E Julia parecia pronta para dar sua vida para salvá-las com seu cavaleiro cor-de-rosa enquanto eu só estava matando meu tempo zanzando pelo mapa atrás dela com o meu boneco vermelho. Era... engraçado.