Famílias (Cap. 15)

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10 de dezembro de 2016 sábado.

Apenas três horas haviam se passado e eu já estava desperto debaixo da água corrente do chuveiro como se meu corpo não estivesse suplicando por mais cinco minutos. Definitivamente, ficar acordado até às quatro com a Julie foi uma decisão pior do que se eu tivesse enchido a cara como me mandaram não fazer. Sendo assim, eram sete e quinze e eu estava deixando o banheiro com uma cara tão sonolenta quanto ao entrar, mas não havia nada que um energético e o café fresco da minha mãe não pudessem ajudar.

— Bom dia, filho! — meu pai exclamou quando deixou seu quarto ao mesmo tempo que eu retornava ao meu, nos encontrando no caminho. Ele me deu um beijo na cabeça e seguiu até a beirada da escada. — Vamos sair às oito, tá?

— Beleza — murmurei com uma voz arrastada e grave.

Ele esboçou um riso.

— Eu vou fingir que você não desobedeceu nossas ordens e não está de ressaca, mas eu acho bom você fazer o treino de hoje render igual todos os outros, viu? A competição é amanhã! — ele exclamou, apoiando-se no guarda corpo ainda atento a mim.

— Não tô de ressaca, é sono. Eu não bebi nada, eu juro.

— Sei — disse de maneira alongada, seguindo pela escada caracol enquanto eu fazia uma careta, voltando ao meu quarto.

Assim como há dez minutos quando fui tomar banho, Julie permanecia imóvel com a cabeça coberta pelo edredom e uma respiração forte pelo sono pesado. A porta escapou da minha mão quando fui fechá-la e nem o barulho foi capaz de acordá-la. Por um momento, pensei que Julie estivesse morta, mas uma nova respiração alta ressoou pelo cômodo, então suspirei aliviado. Aproveitei isso para trocar de roupa, pois a calça que eu havia levado para vestir no banheiro estava apertada demais e eu não conseguiria treinar direito. Somente quando estava pronto, me sentei na beirada da cama para calçar meus tênis e aproveitei para cutucá-la.

Julie continuou adormecida.

Terminei de amarrar meus cadarços e me levantei, contornando a cama até seu lado e sacudindo-a mais, em seguida jogando o edredom para o lado livre.

— Jules, eu vou sair às oito e ainda preciso te deixar em casa — falei ao chacoalhá-la novamente.

Não sei se falei alto demais ou se a sacudi muito forte, mas Julie despertou assustada, quase batendo sua cabeça na minha ao projetar seu corpo para a frente como se fosse uma catapulta e olhando ao redor. Fui para trás para tirar minha cabeça da sua mira e acabei tropeçando na minha bateria, o que fez um estrondo. Eu definitivamente acordei depois do eco dos pratos que deixaram meu cérebro zumbindo por minutos.

— Bom dia — falei em seguida enquanto ela esfregava os olhos com força.

— Pra quem? — ela murmurou em uma voz mais rouca que o normal, enfim levantando-se. Então seus olhos se fixaram na bateria por alguns segundos dentro de uma expressão incomodada. — Isso já estava aqui? — Julie apontou para o instrumento e me olhou com um olho aberto e outro fechado, além do cabelo bagunçado e o rosto amassado pela fronha. Esbocei uma risada ao assentir. — Que trambolho!

— Estou começando a reconsiderar o convite de te trazer pra dormir aqui depois de todo rolê... Você acorda mais chata do que o normal — provoquei conforme seguia até minha mesa de cabeceira para pegar meu celular. Ouvi sua risada nasal perto da escrivaninha onde suas roupas estavam emboladas.

— Bom dia — ela finalmente respondeu quando voltei a olhá-la. — Posso usar o banheiro?

— Não, tem um vaso aqui no corredor, pode fazer xixi lá.

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⏰ Última atualização: 16 hours ago ⏰

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