J&Z (Cap. 13)

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06 de dezembro de 2016 — terça-feira.

Estávamos a menos de uma semana da competição, que era a primeira etapa de classificatórias para o Mundial, e Jack estava mais pilhado do que nunca. Era de longe seu momento mais desesperado e ansioso por uma vitória como eu nunca vi. Ele me levava ao limite e o extrapolava dia após dia. Eu sabia que, apesar de ter outros três garotos representando o J&Z e tentando a mesma vaga que eu, assim como algumas garotas na equipe feminina, inevitavelmente eu era o rosto do clube e eu tinha uma reputação. Por que eu podia ser tricampeão, mas agir igual um amador quando estava diante da chance da minha vida como o Mundial? Era sempre a mesma coisa e aquilo, mesmo tão otimista e com minha competitividade no talo, ainda me deixava inseguro com a ideia de que seria mais um ano sem o resultado esperado. Em toda tentativa, a mesmo frustração: meu pai desanimado que o clube dele não era bom o suficiente, Jack decepcionado porque não era um treinador à altura e eu no fundo do poço por não conseguir dar o melhor de mim e entregar o mesmo resultado de 95% dos treinos. E naquela terça, não era diferente, estávamos todos com nossas emoções à flor da pele e, estando tão perto do evento, ficávamos mais ariscos uns com os outros. Jack parecia mil vezes pior do que em qualquer outro dia, estava insuportável.

— Vocês estão desistindo? É sério? — Jack gritou quando eu e os meus amigos nos jogamos no chão da pista, exaustos, depois de mais uma sequência de manobras. E o nosso nível era altíssimo, o que resultava em corpos mil vezes mais cansados depois de tanta repetição. Aquilo não exigia apenas do nosso físico, mas de um mental de ferro para coordenar cada movimento com perfeição. — Vocês são skatistas ou um bando de amebas?

— Eu definitivamente sou uma ameba agora — Trent murmurou, deitado como uma estrela do mar e secando o suor do rosto com a barra da camiseta.

— Cara, ele tá maluco! — Nolan exclamou olhando para mim, agachado ao lado dele, recuperando o fôlego. — Vai falar com ele, porque a gente não tá aguentando mais.

— Eu sei, ele só tá pilhado — falei arrumando meu cabelo por baixo do boné antes de colocá-lo de volta.

— Pilhado pra caralho — Nate completou. — Eu sei que ele quer que, pelo menos, um de nós ganhe, mas desse jeito ninguém vai passar da primeira fase!

— Tá, eu falo com ele. 

Me levantei depois de puxar o ar, bati na cauda do skate para ele alcançar minha mão e saí me arrastando na direção do Jack com as mãos na cintura e me olhando com as sobrancelhas levantadas.

— E é por isso que você é o número um dessa pista. Não porque é o filho do dono. Adoro seu entusiasmo, moleque! — ele exclamou, batendo nas minhas costas quando me aproximei e exibindo um sorriso admirado.

— Cara, na boa, chega por hoje, vai — falei, olhando-o sério.— Já estamos aqui há três horas, deu! — exclamei mais firme.

— E eu mandei seu pai reservar a pista por quatro horas — ele rebateu tão firme quanto eu.

— Então pega seu skate e usa nessa uma hora restante, porque eu tô fora por hoje! — retruquei decidido. — E eles também. — Apontei para trás, para os três ainda mortos no centro da pista, e dei-lhe as costas, indo até o banco onde estava minha mochila e minha garrafa de água. 

— Façam o que quiserem, só não venham me culpar depois que perdermos por mais um ano, tá? — ele disse alto, olhando para todos nós. 

Ninguém levou seu discurso dramático à sério, então ele também pegou suas coisas e saiu da pista. Meus amigos vieram até mim e conversamos por mais alguns minutos sobre a postura quase militar do Jack naquele treino e como era tão esquisito. Um tempo depois, estávamos os quatro deixando a pista também quando meu pai passou pelo portão com uma expressão esperançosa e estranhando todos nós prontos para ir embora, e sem o Jack ali.

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