Cap.13 - O resgate

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"E a emoção do nosso amor
Não dá pra ser contida
A força desse amor
Não dá pra ser medida
Amar como eu te amo
Só uma vez na vida..."

(O amor é mais - Roberto Carlos)

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O avião, agora em um mergulho, parecia um pássaro ferido, lutando para se manter no ar.

Embicou, ficando completamente na vertical, como se fosse um pêndulo.

Kelvin agarrou-se à poltrona, sentindo o coração disparar. O mundo exterior estava um borrão de escuridão enquanto a água ia se aproximando a uma velocidade aterrorizante, abaixaram conforme instruído, ficando todos na posição de "brace", que consiste em colocar a cabeça entre os joelhos e abraçar as pernas.

Um estalo ensurdecedor cortou o ar, seguido por um forte impacto.

O jato se chocou contra a água a cerca de duzentos quilômetros por hora.

O choque foi brutal.

A fuselagem se partiu ao meio, dividindo a aeronave em duas, a proa se estilhaçando e sumindo nas águas, as poltronas em suas maioria se soltaram imediatamente, como um brinquedo quebrado, e a cabine foi inundada instantaneamente.

Fragmentos do avião se espalhavam pelo mar, flutuando.

O choque da água gelada com as pessoas arrancou o ar dos pulmões imediatamente, fazendo com que fosse difícil respirar, dando início ao estado hipotérmico inevitável numa situação como essa.

A água, que parecia ter saído diretamente de um iceberg, envolveu Kelvin em um abraço de gelo inesperado. O choque térmico era tão intenso que sua pele parecia gritar, assemelhava-se a pequenas agulhas penetrando sua pele ao mesmo tempo

Kelvin lutava contra uma dor aguda nas costelas, agravada pela força do impacto, o cinto de segurança, que deveria ser seu protetor, agora era um traidor que se soltara e o tinha machucado quando ricocheteou na queda, na hora do desespero Kelvin tinha afivelado errado e o cinto facilmente abriu.

Desorientado, Kelvin se viu quase submerso quando uma onda o engoliu,  cuspindo água pra todo lado, as águas do Atlântico o puxando para o fundo como se uma população de sereias lá embaixo tentasse sequestrá-lo para as profundezas, ele só não afundou devido ao colete salva-vidas e ao assento flutuante, ele estava com as pernas dentro da água, e apoiava o tronco em cima da poltrona parcialmente quebrada, que funcionava como uma boia.

Ele lutou para voltar à superfície, sua respiração ofegante misturada com a adrenalina.

Um fio de sangue escorria de seu supercílio que tinha um corte mediano, e a sensação de pânico o envolvia como um manto escuro.

Chovia a cântaros e não se enxergava nada.

O silêncio após o impacto pareceu durar horas, ninguém conseguia respirar o suficiente para falar ou gritar, sobrepondo-se a isso o choque de um acidente repentino como aquele.

Havia estilhaços por toda parte que batiam em Kelvin, empurrando-o para longe e um chiado constante que ele não sabia determinar de onde vinha, começou depois de alguns minutos a escutar gritos já um pouco distantes.

Não via um palmo na frente do nariz.

— Kelvin! — a voz de Daniela cortou o som da água, ela lutava contra uma onda, apenas com o colete e tentando nadar às cegas.

A luz fraca de uma lanterna foi acesa por um dos seguranças de Kelvin que tinha treinamento militar, ele iluminou parcialmente a água agitada, coberta por restos de avião, era semelhante a quando você quebra uma lâmpada e os cacos se espalham por todos os lados.

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