Cap.4 - O Reencontro

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"Debaixo do mesmo céu
Respirando o mesmo ar
Tem dois corações com saudade, só pela metade
Querendo encaixar..."

(Eu sem você não dá - César Menotti e Fabiano)

Kelvin chegou ao Naitandei de madrugada, era melhor assim, porque a chance de alguém vê-lo era menor, tinha combinado com Luana de entrar pelos fundos do estabelecimento como tanto já havia feito no passado.

Seu chefe de segurança Norberto estava bastante contrariado de ter que mudar todo o esquema que já havia montado cuidadosamente, ele o acompanhava com uma cara mais fechada do que o normal o que tornava sua expressão próxima de uma gárgula gótica, era um sujeito forte de quase dois metros de altura, moreno e tinha uma careca reluzente.

Kelvin foi recepcionado por Luana e Rodrigo, o bar ainda estava a todo vapor, eram por volta das duas madrugada.

Luana deu um abraço demorado em Kelvin, com os olhos brilhantes de lágrimas de alegria.

Rodrigo também lhe deu as boas vindas, efusivamente.

Muita gente já não estava mais ali, apenas Graciara, Polerina e Zeza permaneciam no bar.

Berenice tinha conseguido se casar com um velho fazendeiro que lhe dava a boa vida que tanto almejara, sabia que ela vinha visitar o bar com certa frequência, pois sentia falta do ambiente.

Nando agora trabalhava numa produtora musical em São Paulo e ocasionalmente fazia visitas, ele tinha sido casado com Iná por um tempo, mas o casamento tinha chegado ao fim há dois anos, Iná tinha voltado para sua terra natal e não mandava mais notícias há meses.

É assim a vida, ela segue e se transforma.

A única constância na vida é a sua impermanência, assim como um rio, suas águas nunca são as mesmas, estão sempre em mudança.

Quando Kelvin tinha avisado Luana que viria, ela tinha mandado mensagem para Ramiro para que ele passasse no bar, caso viesse fazer uma nova visita técnica pelas redondezas.

Não tinha contado diretamente que Kelvin estaria no bar, porque tinha medo de como ele reagiria, talvez, segundo sua lógica, fosse melhor ele surpreendê-lo.

Ramiro tinha respondido que madrugaria em Nova Primavera porque tinha um longo dia de trabalho pela frente e que tentaria passar no Naitandei no final da noite.

Kelvin tinha sido conduzido ao seu antigo quarto que agora era apenas um quarto de hóspedes. Ninguém mais utilizava o local, mas ainda haviam alguns antigos objetos dele ali, como seu abajur que dava o reflexo de uma luz alaranjada e o velho guarda-roupa.

Quando Luana o deixou sozinho ali dentro, ele sentou na cama e respirou fundo, seu coração batendo forte, aquele lugar guardava memórias agridoces.

Tinha sofrido muito dentro daquelas paredes, mas também tinha vivido boa parte do seu amor por Ramiro ali também.

Quase podia vê-lo parado na porta.

Ele deitou e encarou o teto. Era uma loucura estar ali? Era. Porém, ele precisava fazer isso.

Era necessário fazer um acerto de contas com o seu passado.

Sabia que Ramiro apareceria ali em algum momento. E, quando isso acontecesse, ele tentaria estar prontamente em seu campo de visão.

Acabou adormecendo, pois estava exausto.

Acordou assim que o sol nasceu, desceu para a cozinha, onde fez o café, a cozinha de Zeza tinha mudado muito pouco, não tinha visto o amigo, porque ele estava fora da cidade visitando alguns parentes, mas segundo Luana retornaria hoje, tinha saudades de todos.

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