Eu nadava sem destino, imerso nas águas escuras de um oceano agitado. A tempestade ao meu redor rugia, suas ondas monstruosas tentando me arrastar para o fundo. Meu corpo estava esgotado, os músculos queimavam com o esforço de lutar contra as marés. Não sabia mais onde estava ou para onde ir. Cada braçada parecia mais pesada, mais lenta. O céu sem estrelas não oferecia nenhuma esperança de terra firme. Eu estava completamente perdido.
As águas me puxavam para baixo, para o abismo, e meu peito queimava pela falta de ar. A luta parecia inútil e a exaustão começou a tomar conta de mim. O desejo de desistir me envolvia, quase irresistível. Estava à beira de me render, de me deixar afundar para sempre. Foi quando, no meio da escuridão, uma voz familiar surgiu entre as ondas, cortando o caos.
"Ave Maria, cheia de graça..."
Era a voz da minha avó. Aquela voz que me guiara por toda a vida. Uma luz, suave e distante, começava a aparecer, enquanto sua oração ressoava nas profundezas do meu ser. Lembrei-me dela, de como me criara sozinha depois que meus pais morreram em um acidente de carro, quando eu era apenas um menino. Milagrosamente, sobrevivi. E desde então, minha avó se tornou tudo o que eu tinha.
"O Senhor é convosco..."
Ela me levava para as missas desde cedo. Enquanto as outras crianças se distraíam ou reclamavam, eu me sentia fascinado. Minha avó me ensinara que a morte dos meus pais não era apenas uma tragédia; eles haviam sido recebidos na vida eterna. E eu, por algum motivo que somente Deus conhecia, ainda tinha uma missão a cumprir. Ele me escolhera para viver, para continuar meu caminho.
"Bendita sois vós entre as mulheres..."
Na escola, eu era alvo dos meninos, pois eles eram ensinados que um homem de verdade não se criava na saia da avó. Apanhava, mas nunca respondi com violência. Sob a orientação dela, aprendi que a verdadeira força estava na fé. Com cada golpe, crescia a certeza de que o mundo precisava de algo maior do que ódio; precisava da compaixão e do amor de Cristo.
"Bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus..."
A fé da minha avó mostrava-me que os planos de Deus, por mais misteriosos que fossem, sempre tinham um propósito. E foi ali, nesse terreno fértil de confiança e devoção, que minha vocação para o sacerdócio começou a florescer.
"Santa Maria, mãe de Deus..."
Então, algo mudou. Um som angelical rompeu o estrondo da tempestade. A luz que antes era fraca começou a brilhar com mais força. Eu via uma estrela surgindo no meio da escuridão. Sentia-me sendo puxado de volta à vida, as forças retornando aos meus braços e pernas. Naquela luz intensa, sabia que Nossa Senhora estava ali. A estrela do mar.
"Rogai por nós, pecadores..."
Meus olhos doíam com o brilho que se intensificava. Minha alma, desesperada por consolo, buscava aquele farol divino. Mas, quando finalmente meus olhos conseguiram focar, vi que não era a Virgem Maria. O rosto que me puxava do abismo era o de Estela.
"Agora e na hora de nossa morte..."
Ela brilhava com seu olhar celestial. Pura como uma verdadeira santa, sua presença preenchia cada parte do meu ser com uma mistura de paz e assombro. Estava ali, como uma estrela guia, resgatando-me do fundo do abismo.
Mas o peso da realidade — do amor proibido e de todo o conflito que me consumia — também emergia naquele momento. Estela, brilhante e etérea, resplandecia com tanta intensidade, tão divina em sua beleza, que senti meus olhos queimarem. Sua luz parecia sagrada demais, enquanto eu, mergulhado em minhas impurezas, era incapaz de suportar tamanha perfeição sem ser cegado por ela.
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Estrela Guia ✨
Romance✝️ Ao longo de seus quarenta e poucos anos, Gregório interessava-se apenas por seu ofício de sacerdote. Desde noviço, aprendera a se dedicar à fé e aos rituais da igreja, tornando-se um padre culto e respeitado em sua comunidade. ✨ Mas tudo muda qua...