✝️ Ao longo de seus quarenta e poucos anos, Gregório interessava-se apenas por seu ofício de sacerdote. Desde noviço, aprendera a se dedicar à fé e aos rituais da igreja, tornando-se um padre culto e respeitado em sua comunidade.
✨ Mas tudo muda qua...
O silêncio entre nós era um velho amigo que eu tanto havia desejado reencontrar. Não o silêncio vazio, mas aquele que só existe entre almas que se compreendem sem a necessidade de palavras.
Estela e eu permanecíamos em um longo abraço, nossos corpos envolvidos pela suavidade do toque, pela cumplicidade que o tempo e a distância nunca conseguiram romper. Por muitos anos, meu coração fora atormentado pelo desejo incontido de poder segurá-la assim, de aninhá-la em meus braços e protegê-la de tudo. E agora, ali estávamos, vivendo aquele instante que parecia impossível.
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Minha mão passeou por seus cabelos, deslizando até a nuca, onde comecei a acariciá-la com ternura. Senti o leve estremecer de Estela sob meu toque, uma reação que trouxe um calor indescritível ao meu peito. Saber que ela se sentia tão envolvida por mim quanto eu por ela era um verdadeiro presente. A reciprocidade daquele amor, a possibilidade de vivê-lo sem reservas, era o tesouro mais valioso que a vida poderia me oferecer.
Ela ergueu o rosto devagar, e seu movimento trouxe meu queixo naturalmente para repousar sobre sua testa. Um gesto tão simples, mas que carregava a graciosidade de sua estatura comparada à minha. Seus olhos me encontraram com curiosidade, uma pergunta já brincando em seus lábios.
– Você trabalha mesmo aqui?
O sorriso que eu não conseguia conter apareceu antes mesmo da resposta.
– Sim, como segurança.
Estela sorriu de volta, os olhos brilhando em uma espécie de fascínio.
– Qual a probabilidade do museu que selecionou meus desenhos ser o mesmo que você trabalha? – ela questionou retoricamente, como se ainda tentasse processar aquele reencontro inesperado.
– A mesma de um milagre – respondi, a serenidade em minha voz refletindo tudo o que sentia naquele momento.
Suas mãos me puxaram para um abraço mais apertado. A emoção no rosto de Estela era um espelho da minha. Há muito tempo eu não sentia essa confiança de que estava exatamente onde deveria estar. Tudo que vivi – as dores, as dúvidas, os sacrifícios – parecia fazer sentido agora. Como se o próprio Deus houvesse nos conduzido até ali, depois de tantos caminhos tortuosos.
Beijei sua testa suavemente, um gesto que trazia todo o carinho que sentia por ela.
– Mocinha, o museu está fechado, e realmente preciso que você vá embora – disse em um tom bem-humorado.
A expressão "mocinha" escapou dos meus lábios com naturalidade, como nos dias em que Estela insistia para que eu comprasse chocolates durante seu tratamento. A memória aqueceu meu coração. Era tão bom poder chamá-la assim de novo, sem a sombra do câncer entre nós.
Ela sorriu em resposta, mas logo um lampejo de preocupação surgiu em seu rosto. Seus olhos analisaram a galeria ao redor, percebendo a presença de câmeras de segurança.