CAPÍTULO 3

152 32 3
                                    

Pov Luiza

Eu não aguento mais, não aguento mais essa droga de campanha. Não aguento mais interpretar o papel de esposa feliz e dedicada, do incrível Bernardo Campos. Candidato à prefeitura de Nova York e já tão bem requisitado a uma futura campanha presidencial. Quando na realidade estou lutando contra a meu desejo de pedir o divórcio agora mesmo. Não aguento mais os ataques do candidato opositor de Bernardo, Frank Willi.

— Eu cheguei no meu limite. — Digo a Bernardo assim que entro em sua sala. Lisa sua secretária de campanha imediatamente sai do local, levando junto com ela outros dois funcionários que estavam ali e eu não prestei atenção em que eram. — Não aguento mais.

— O que foi agora Lu? Sabe que estamos trabalhando muito aqui, a eleição é em um mês e o Frank está dois pontos na frente nas pesquisas desde que vazaram os seus exames médicos. — Bernardo fala sem um pingo de sensibilidade. Aliás, acho que ele já não é nem capaz de sentir alguma coisa. Meu marido se tornou um político e digo isso realmente de forma negativa. Sei que ele fará qualquer coisa para vencer essa eleição.

— Então isso é minha culpa? — Questiono, jogando em sua mesa uma revista cuja manchete da capa sou eu.

"A futura possível primeira dama de Nova York" é o título da matéria.

— O que é isso? — Ele pergunta e pega a revista na mão.

— Leia a matéria, está realmente muito bem escrita. — Sou sarcástica. — Nela, eles falam sobre o meu pai, sobre a minha herança, sobre o nosso casamento e sobre o meu "probleminha" aquele que o seu concorrente expos depois de você atacar a filha dele. "Luiza Campos é uma grande mulher, uma pena que tanto dinheiro não dará a ela a oportunidade de gerar um ou mais filhos para que Bernardo Campos tenha uma bonita família para as fotos." — Cito exatamente as palavras escritas naquela revista de quinta categoria, li tantas vezes que até decorei.

Cinco meses atrás, quando ainda sentia vontade de salvar esse casamento e de construir uma família com Bernardo fiz exames que mostraram porque apesar do meu esforço não conseguia engravidar. Não posso. Sou uma mulher infértil, ou como algumas pessoas maldosas escreveram na internet "sou uma mulher seca" A duas semanas esses exames vazaram e todos os tipos de ataques começaram. Disseram que Bernardo nunca vai chegar a presidência dos Estados Unidos sem uma família. Disseram que para que a maternidade que é algo tão natural a maioria das mulheres ser tirada de alguém, essa pessoa deve ser "ruim por dentro."

— Eu não aguento mais. — Digo novamente para Bernardo. Que apenas me encara com a sua postura mediadora.

Ele joga a revista no lixo ao lado de sua mesa e caminha em minha direção a passos lentos.

— Não ligue para essas besteiras, amor. — Ele segura em meus ombros e me encara com seus olhos azuis. — Teremos sim, a nossa família. E será uma linda e perfeita família.

A maternidade não era um dos meus maiores sonhos, ainda sim, era algo que eu queria. Ter essa possibilidade tirada de mim e ser atacada por isso, realmente tem mexido comigo nos últimos tempos.

— Eu só quero que esses ataques parem. — Me permito ser frágil por um momento. Apesar de não ser do meu feitio. Bernardo me abraça apertado. E faz carinho em meus cabelos.

— Isso já vai acabar querida, Lisa e eu cuidamos de tudo. — Ele diz com uma certa animação. Que eu estranho por não entender. Se afasta, volta para a sua mesa, pega o telefone e digita um número. Eu observo cada gesto e passo do meu marido. E me lembro de um comentário feito por uma idosa na rua mais cedo. Ela disse "Que pena que você não pode ter filhos querida, vocês dois fariam filhos lindos, o seu marido é um verdadeiro pitel."

Em outra vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora